O filme já era bom antes de começar. O título é genial. Grande titulo. Antes de qualquer cena, você pode elogiar "Animal Kingdom" pela forma como define o seu próprio (sub)mundo. O reino animal do qual o titulo fala é a familia Cody, que vive num universo peculiar no qual o jovem de 17 anos, Joshua, interpretado por James Frecheville, imerge após a morte de sua mãe por overdose logo nos primeiros minutos do longa. É após este pontapé inicial que somos apresentado a um ambiente de tensão e de perigoso grau de intimidade em que o papel do espectador não é decidir, nem tomar partidos, mas observar.
Aos poucos, vamos acompanhando a vida num mundo de crimes que envolve drogas, violência e ameaças constantes, lembrando um pouco de "Dia de Treinamento", com a dupla Denzel Washington e Ethan Hawke. Diferentemente deste, porém, não há tantas perseguições. Este filme também não se assemelha a outros filmes do gênero, não hpa nem uma família de marfia bem organizada e hierarquizada como aquela que vimos no clássico "Poderoso Chefão" e no recente "Senhores do Crime", mas sim uma família em que vivem todos por todos, de qualquer forma e da forma que dá. A atmosfera recheada de elementos da modernidade que ronda a família, torna esse universo mais palpável e, por isso, mais tenso. A trilha discreta ajuda a pontuar a melancolia e o fracasso pré-ordenado que é viver olhando sob os ombros, carregando culpas e na mira da polícia, nem sempre tão honrada como muito se pinta por aí. Além dos próprios dilemas vividos por Joshua, temos abordados de forma pontual a atmosfera policial, juridica e jornalistica em torno das tramas criminosas que se sucedem dia após dia e remexem a estrutura da cidade em que vive a família Cody.
Citam-se as atuações do jovem James Frecheville (contido e amedrontado) e da veterana Jackie Weaver de carreira até então inexpressiva que figurou, com louvor, entre as indicadas ao Oscar deste ano. Sobre a sua interpretação, impressiona que não há artificios dramáticos ou grandes explosões emocionais. O trabalho de composição é excêntrico e diferenciado, criando uma a mãe bem diferente daquela explosiva vivida pela vencedora do Oscar Melissa Leo em "O Vencedor", mas não menos competente e intrigante. A matriarca deseja abraçar toda a sua família a qualquer preço. Seu olhar cansado, frio e calculista junto com a sua preocupação constante com todos a sua volta demonstram a atitude nobre de uma pessoa de caratér não tão nobre assim. Interessante.
O ritmo do filme é agradável. Melancolia, tensão e momentos de surpresa e violência se alternam de forma funcionalmente organizada e permitem que o filme transcorra sem altos e baixos, o que desagradará o público que espera momentos de tensão, como aqueles vistos em filmes do gênero, como o contemporâneo "Atração Perigosa", de premissa semelhante em alguns niveis. De toda forma, a forma corajosa com a qual o estreante David Michôd conduz o seu filme é admirável e longe de lugares-comuns.
Exatamente por não ser um filme de explosões, ainda que de extrema violência psicológica e fisica, pontualmente inseridas, a tendência é que seja esquecido com o tempo, mas ainda assim merece créditos por sua sinceridade e por retratar esse reino animal de uma forma sádia e menos 'lugar-comum' do que Hollywood vem fazendo. Não é a toa que esse exemplar australiano alcançou o reconhecimento de tantos prêmios internacionais. Estamos em "Animal Kingdom" literalmente no meio do caminho, sem o maniqueísmo do bem e do mal com o qual estamos (mal) acostumado com o cinema dos dias de hoje.
Nota: 7.0
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