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segunda-feira, 7 de março de 2011

A Rosa Púrpura do Cairo (1985)


Woody Allen, definitivamente, é um cineasta capaz de surpreender o público a cada dia (ou melhor, a cada ano) com suas obras, estas sempre dotadas da inteligência e o bom humor costumeiro; entre as muitas façanhas que realizou durante sua carreira, uma das maiores e mais originais foi em 1985 com a comédia romântica A Rosa Púrpura do Cairo, onde sobre esta Allen construiu uma homenagem plena e perfeita ao cinema e aos cinéfilos, compartilhando, através da estória de Cecília, os sonhos mais profundos de um amante do cinema.

A trama se situa durante a década de 30, nos anos da Grande Depressão, onde uma sonhadora garçonete (Mia Farrow) utiliza o cinema como refúgio, para esquecer-se de seus problemas e de suas mágoas, e apenas distrair-se em sua paixão pelos filmes. É então que a jovem é despedida de seu emprego, desolada, Cecília passa a freqüentar sucessivamente as sessões do mesmo filme, A Rosa Púrpura do Cairo. Eis que surpreendentemente o personagem do filme sai da tela para declarar seu amor por ela, ele foge - literalmente - da projeção para viver uma aventura romântica com seu amor na vida real. Eis que o ator que o interpreta passa a intervir na situação, quando começa a se aproximar da jovem.

Allen constrói através de uma narrativa doce para ilustrar as dificuldades enfrentadas pela ingênua protagonista que, ao ser demitida de seu trabalho na lanchonete e sofrer com os maus tratos de seu marido violento, tendo apenas uma sala de cinema como repouso para sua dor. O cineasta trata, sobre a ótica de uma única personagem, toda a importância que um filme tem para aqueles que amam verdadeiramente o cinema, e igualando-se a realidade fantástica a qual a vida de Cecília é submetida, a experiência de assistir esta obra é algo indescritível. A trama de protagonista serve como referência a própria vida dos cinéfilos, servindo para mostrar que, tanto para a jovem quanto para esse público, o cinema significa muito mais do que apenas diversão.

Apesar de se encaixar numa comédia romântica, A Rosa Púrpura do Cairo é um drama denso sobre as dificuldades da vida de uma mulher, em contraste a isso, seus sonhos e seus almejos, para provar que, mesmo sobre os problemas impostos pela vida, Cecília possui em seu coração esperanças e metas que a fazem seguir em frente. No momento que o amor atinge a vida da jovem, sua realidade passa a não ser mais tangente a fantasia, vira uma só; o personagem ultrapassa a tela de projeção e declara-se para ela, este fator inacreditável fará a vida dela mudar completamente, assim como a de todos a sua volta - Woody Allen apresenta através de sua trama, um sonho almejado por todo e qualquer cinéfilo, afinal quem nunca quis conhecer seu personagem favorito?


A cenografia é outro ponto a destacar-se na produção, pois Allen remonta uma estética caótica à década de 30, onde as ruas são pouco movimentadas e escuras (observe a cena do parque, não há absolutamente ninguém lá), e o bairro onde reside Cecília é pobre e carente de cuidados; toda a técnica é feita e pensada de forma para ilustrar como era a situação norte americana durante um período denso onde o país se encontrava numa terrível crise econômica. Mais uma vez os eventos na vida da moça serviriam para libertá-la do caos que a cercava, tanto em sua vida pessoal, quanto em sua vida social.

Embora seja um enredo totalmente absurdo, Allen soube pontuá-lo como só ele saberia fazer, destilando a seu filme, um humor elegante, bem como metáforas que designam a realidade e a ficção; o diretor guia com ternura um filme que cruza as veias do real e do imaginário, e inclui a este paralelo o ritmo pulsante do coração de uma cinéfila que, por fim, realizou seu sonho. A devoção da moça ao cinema é tão forte que, ao final de tudo, mesmo com todos os acontecimentos ali apresentados, sabemos que ela está feliz, não apenas em um sentimento de conformismo. Não. Ela se sentia realizada, da forma mais plena possível.

Mesmo que seja uma produção que certamente agradará os públicos mais diversos, o objetivo de Woody Allen ao realizar A Rosa Púrpura do Cairo era conquistar o público cinéfilo através de uma estória na qual eles pudessem se identificar e, dessa forma chegar a todo e qualquer admirador desta arte, não apenas como um filme para os olhos, mas sim um filme a se guardar com sentimento e carinho.

Por fim, Woody Allen brinda nos brinda com uma obra dotada de virtudes, onde o espectador será transportado para um sonho onde sempre quis estar. Esta obra é um trabalho cheio de ternura e magia, que por ter sido feito com tanto carinho e esmero, contagia e apaixona qualquer um; este foi o resultado de toda a soma de méritos que Allen aderiu a seu filme, pois A Rosa Púrpura do Cairo é mais que uma produção cinematográfica, é uma lindíssima homenagem a todos aqueles que admiram esta arte, e que por assim dizer, amam o cinema.

Nota: 9.0

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