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sexta-feira, 22 de abril de 2011

As Horas (2002)


Seria possível atribuir ao tempo a causa de nossa dor? Mas, o que realmente nos transtorna e nos martiriza senão ver nosso pesar aumentar junto com o passar das horas? A cada segundo que o relógio marca, será um medidor para prolongar a nossa agonia? As Horas questiona a influência e a complexidade dos simples ponteiros no relógio para narrar a dor e a tristeza propagadas na vida de três mulheres, aparentemente distintas, que têm seus rumos interconectados por um único item em comum: a depressão.

Certamente, este estágio de melancolia e tristeza profunda seria um obstáculo para ser devidamente bem executado por uma fita cinematográfica. Não é fácil compactar toda a imensidão de caos e desespero que se passa na mente de uma pessoa que possua esta enfermidade em sua vida, porém As Horas consegue realizar com maestria esta ilustração da dolorosa condição de um depressivo. Todos os elementos são executados em prol do sentimento e da demonstração, em como apresentar ao público sua intensidade, e interagi-la em meio a três estórias paralelas.

Baseado no romance de Michael Cunnigham, As Horas apresenta, através de uma trama densa, a dor que se alasta pelo coração e o psicológico de qualquer pessoa que sofra dessa tristeza profunda, que, diferente do que muitos supõem, pode se encontrar em sua rua, na casa de seu vizinho, ou até, na sua própria. É a casualidade inexplicável com a qual a depressão atinge a vida de um ser, extraindo dele, seu bem estar social e familiar, e eventualmente, sua vontade de viver. Três mulheres são as representantes deste mal estar pessoal, em que a dor se torna tão insuportável que os segundos transformam-se minutos, e os minutos transformam-se em horas.

A estória abrange três períodos diferentes no tempo. O primeiro, é ambientado no ano de 1929, na qual a escritora britânica Virginia Wolf (Nicole Kidman, em caracterização irreconhecível) começa a escrever seu famoso romance Mrs. Dalloway, e seu marido a mantém sob constantes cuidados médicos, em decorrência de sua última tentativa de suicídio. A segunda trama se passa na década de 50, em que a dona de casa Laura Brown (Julianne Moore) está preparando uma pequena surpresa para o aniversário de seu esposo, enquanto lê - e identifica-se - o mesmo livro escrito por Virginia. A última das estórias se situa em 2001, apresentando a trajetória de Clarissa Vaughan (Meryl Streep), que está preparando uma festa para seu grande amigo, Richard, um artista renomado que vive debilitado por ser soropositivo. Estes três ângulos sobre a vida de um depressivo se interconectam, direta e indiretamente, em um único dia, tendo apenas o livro como fio condutor.


Aqui há uma sublime caracterização de personagens, de modo estético e interno, em que o quesito maquiagem sobressalta os olhos, bem como as gloriosas interpretações que preenchem a trama. Aqui, desde o semblante triste a entrega total aos papéis foi fundamental para adicionar ainda mais virtudes a obra, todo o elenco está em perfeita sinfonia e afinação. Em primeiro, temos uma atuação sublime de Nicole Kidman como Virginia Wolf - uma excelente caracterização visual -, em que a atriz produz um desempenho fantástico para repassar toda a dor e o caos que se passa na vida deste complexo personagem. Julianne Moore, mais uma vez, propaga seu carisma mesmo com um personagem difícil e distante (assim como fez em Magnólia [1999]), mostrando ser, talvez, o personagem mais polidimensional daquele triângulo de narrativas. Há as atuações brilhantes de Meryl Streep e Ed Harris, na trama mais contemporânea do filme, ambos emanam talento a cada cena proporcionada, igualando-se ao alto patamar dos demais do elenco.

No filme há também, entre as três estórias, a temática do lesbianismo das personagens, em que cada uma delas, em seus respectivos momentos na trama, beijam outras mulheres. Entretanto, estas relações homossexuais apresentadas são mais profundas do que se pode imaginar a principio, isso porque, aquelas mulheres (com exceção da personagem Clarissa, que mantém uma assumida relação com outra mulher) visam uma razão suas vivências, então procuram estabelecer para si próprias relações diferentes do habitual, como se, daquela maneira, buscassem um portal para se desvencilhar de toda aquela melancolia monótona que o cotidiano as proporciona.

As Horas é uma perfeita amostra em imagens, do quão profundo e intenso é a sofrimento de uma pessoa depressiva, e como isso pode afetar em sua convivência social e íntima. Três mulheres que procuram, desesperadamente, um motivo para viver, para tornar sua existência mais digna em ocupar seu lugar no espaço, dilemas pessoais coroados com as poderosas atuações fornecidas pelo grandioso elenco. Dotado com um roteiro exemplar e uma narrativa carregada, este é um filme que pesa contra o espectador, proporcionando a este um exercício difícil de ser acompanhado, porém plenamente satisfatório em sua conclusão. Um filme para se guardar na memória, onde se estabelecerá intacto a passagem do tempo, seja dos minutos, ou até mesmo das horas.

Não creio que duas pessoas... possam ter sido mais felizes do que fomos... (Virginia Wolf, The Hours)

Nota: 9.0


2 comentários:

  1. Confesso que chorei ao assistir As Horas, e não sei bem explicar o porque! Atuações maravilhosas,incluindo minha atriz favorita (Meryl Streep).Ótimo!!! 10,0

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  2. Esse filme é um dos poucos que dou a nota 10 sem medo. Um longa intenso e profundo, com uma ótima trilha sonora e um elenco formidável.

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