Enrolados (2010)

Enrolados poderia ser mais uma animação corriqueira dos estúdios Disney, entretanto este longa metragem carrega em sua bagagem o posto de quinquagésima animação da empresa fundada por Walt Disney. Nada seria mais natural que fechar esta conta com uma obra que abrangesse o mundo dos contos de fada, uma vez que a primeira animação do estúdio, em 1937, chegou contando uma estória que viria a abrir a “franquia” das famosas princesas da animação. O famoso conto de Rapunzel foi o escolhido para levar consigo o título que ostenta.

A Disney precisava se reerguer de seus escombros, tendo em vista que a qualidade das animações atuais da empresa andava muito aquém do que esta poderia propor. Enrolados nasceu com uma missão difícil em suas costas: a de provar que a Disney ainda era capaz de presentear o público com um longa metragem de qualidade, que conseguisse segurar com talento a posição de quinquagésima animação criada pelos estúdios. Enrolados conseguiu, e conseguiu com muito êxito e estilo, sendo uma produção que providencia durante toda a sua duração uma diversão doce e agradável, que alegrará adultos e crianças, como uma boa animação tradicional deve ser.

O desenvolvimento de Enrolados foi escolhido para que todos se envolvessem com a estória de modo geral, sem que essa se tornasse chata ou monótona, então para isso foi utilizada, em certos momentos da trama, a narrativa em off conduzida pela linguagem moderna utilizada pelo personagem Flynn Ryder, dando ao filme uma agilidade mais contemporânea que a vista nos clássicos filmes da empresa. Isso se fazia necessário, conduzir o conto dos irmãos Grimm aos padrões atuais, para dessa forma fisgar ainda mais a atenção do público para os predicados desta animação.

A estória consiste em apresentar a trajetória da jovem Rapunzel, que foi seqüestrada enquanto bebê para ser aprisionada numa torre perdida em meio a uma vasta floresta. Gothel, que raptou a garota, finge ser sua mãe, e diz a mantém isolada do mundo para afastá-la do perigo, quando na verdade, ela aproveita-se do místico poder que se encontra nos longos cabelos da menina. Então, um galante bandido foge de ser preso, e durante sua escapada por entre a floresta, o jovem depara-se com a imensa torre em que a garota está reclusa. Ele invade o local, e é detido por Rapunzel. Após conversarem, eles fazem um trato, Flynn deve levar a jovem para ver o show de luzes que a todo o ano, no dia de seu aniversário, é apresentado no reino, e só assim ele terá sua bolsa, confiscada por ela, de volta.

Se há algo a ser destacado em Enrolados é sua belíssima estética, o filme pode não ser a melhor animação a figurar no circuito cinematográfico em 2010, porém é sem dúvidas uma das mais belas que surgiram. Apenas o primor técnico de Enrolados já seria o suficiente para valer a experiência, a riqueza de seu visual, o brilho e a magia, sendo vertidos em algo moderno, mas ao mesmo tempo tão nostálgico (a cena das lanternas é, certamente, uma das mais bonitas do ano de 2010). Enrolados apresenta sua beleza, especialmente, nos detalhes de cada adereço em cena, desde os longos e belos cabelos da jovem princesa, que se espalham por todos os lugares quando está solto, até a própria beleza paisagista dos cenários, remetendo a um conhecido estilo clássico (castelos, reinos e torres...), porém ainda dando lugar a um brio sempre sobressaltante.

Mesmo com suas sacadas modernas, sua linguagem arrojada, a mesma inevitável previsibilidade nos contos de fadas da Disney encontra-se ainda presente em Enrolados, e é essa sucessão de clichês, ainda que representados com sofisticação, que impedem esta animação de firmar-se em patamares mais elevados que as animações tradicionais. Pena. Enrolados tinha sim potencial para alcançar maiores projeções do que as que se encontra agora, ainda sim, isso não ofusca a grande experiência visual que o filme providencia, mostrando que, para o público, se for em matéria de divertir imensamente como esse filme, então que venham mais 50 animações da Disney.

Nota: 7.0