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terça-feira, 5 de abril de 2011

Intrigas de Estado (2009)



No mundo globalizado em que vivemos, as informações já não precisam ser escritas em papel e colocadas em uma caixa de correio para chegar a comunidade. O acesso à Internet tornou este processo muito mais acelerado e, consequentemente, repleto de informações manipulativas e sensacionalistas. Uma simples notícia em um pais pode se tornar uma bomba do outro lado do mundo, devido a incessante trocas de informações e palpites entre os usuários da Internet.

Devido à rapidez do processo que a Internet exige para que determinada notícia seja divulgada, a informação impressa vem perdendo cada vez mais sua credibilidade. Já não interessa o que o Jornal mostra sobre o que ocorreu no dia anterior, e sim o que a Internet está nos mostrando agora, ao vivo, em tempo real. É sobre este embate de impresso X internet que trata Intrigas de Estado, filme com estilo de um thriller comum, mais que vai além disso.

Em muito lembrando o clássico dos anos 70 Todos os Homens do Presidente (dois repórteres investigando um caso de grandes proporções politicas), o roteiro de Matthew Carnahan,  Tony Gilroy e Bill Ray é eficiente no desenvolvimento da principal abordagem do filme: a importância no jornalismo impresso. O tratamento dado ao assunto consegue envolver o espectador no meio de uma trama interessante, bem amarrada (ainda que com alguns problemas, que serão discutidos mais adiantes). A diferença de personalidade entre os protagonistas (um é ambicioso em ir atrás dos fatos, mas esperando pacientemente pelo desenrolar dos acontecimentos, enquanto que o outro deseja, apenas, obter o “furo” a todo custo) acentua ainda mais o debate do filme, que adquire grande importância em apresentar a discrepância que existe entre estes dois veículos de comunicação tão distintos, mas que visam o mesmo objetivo: levar a informação ao mundo.


O filme também mostra toda a tensão que existe no meio jornalistico. O embate entre os repórteres e sua chefe, Cameron Lynne (Helen Mirren), mostra como, por vezes, o jornalismo precisa romper os limites da ética e da ambição, apenas para ir atrás dos fatos corretos, e trazer a informação aos leitores sem nenhum tipo de precipitação. O roteiro é bastante eficiente no tratamento destes assuntos, que o diferenciam de qualquer outro thriller hollywoodiano, por trazer uma discussão de grande relevância para a sociedade atual: até onde uma noticia pode ser verdade? Até onde devemos acreditar?

Além desta discussão proposta pelo filme, o diretor Kevin McDonald (bastante elogiado pelo seu longa anterior, O Último Rei da Escócia) também faz de Intrigas de Estado um filme policial bastante eficiente. Valorizando ao máximo seu roteiro, o diretor se isenta de qualquer maneirismo que poderia ter apresentado, se atendo em contar a história, sem maiores delongas. Neste sentido, o trabalho de edição de Justin Whright serve de grande auxilio, impondo ao filme um ritmo ágil, tanto nos diálogos quanto nas cenas que envolvem suspense. E vale ressaltar a perseguição que ocorre em um estacionamento, que não é apenas o melhor momento do filme, mas também uma das sequências mais tensas de 2009.

Infelizmente, boa parte disso vai por água abaixo quando chegamos aos minutos finais do longa. Apesar da narrativa incessantemente nervosa, é extremamente fácil prever a reviravolta no final, que não apenas é óbvia, mas surge de forma abrupta ao espectador, perdendo qualquer tipo de impacto que poderia ter tido, caso fosse melhor apresentada. Talvez a cara de “thriller hollywoodiano comum” tenha sido o motivo para essa previsibilidade (e não é culpa apenas de McDonald, já que o próprio roteiro contribuiu para isso), mas o fato é que o desfecho esvai boa parte da força do filme, como se tudo o que tivesse acontecido até ali fosse apenas uma preparação para a reviravolta.


De qualquer jeito, McDonald consegue segurar a barra durante boa parte da projeção, auxiliado ainda pelas interpretações do elenco. Russel Crowe faz valer a boa reputação que possui, encarnando com bastante profissionalismo o repórter Cal MacAffrey, que deseja, acima de tudo, desmascarar a verdade e fazer justiça com os meios que possui. Em contraponto, Rachel McAdams não decepciona na pele da inexperiente, porém determinada Della Frye. Interessante notar como a personagem surge como uma figura imatura no começo, mas aos poucos, com tudo o que acontece ao seu redor, precisa ganhar maturidade diante dos fatos.

O elenco coadjuvante é prazeroso de se ver. Robin Wright Penn poderia ter sido melhor aproveitada, mas confere a sua personagem um instigante ar de mistério, devido especialmente ao seu jeito contido em tela. E Helen Mirren, apesar de não ter aqui uma de suas melhores atuações,  também traz para seu papel toda a energia e arrogância que uma chefe de jornal deve ter para comandar o andamento das investigações. O único porém fica por conta de Bem Affleck, antipático e inexpressivo ao ponto de ser estúpido.

Ao final, Intrigas de Estado se mostra um programa surpreedentemente interessante, unindo entretenimento com uma discussão bastante relevante para os dias atuais. Mesmo com seus problemas, é uma bela obra, com uma bela construção de roteiro, e que também mostra como a profissão de jornalista pode ser tão apaixonante.

Nota: 7.0

Um comentário:

  1. McDonald realmente eh um talento. Espero que ele não termine se tornando um "operário" do cinema... :O

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