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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Veludo Azul (1986)


David Lynch é um dos cineastas de maior personalidade no atualmente. Seu crédito quanto a isso se deve principalmente por ele não ter medo de arriscar nos trabalhos que faz, conseqüentemente proporcionando um cinema ainda mais autoral e inovador. A cada filme que realiza vemos uma extração precisa de seus devaneios, e das quão criativa e genial é sua mente, esta servindo como base principal a qualidade e peculiaridade de cada filme que constrói. Veludo Azul é o cinema de Lynch flertando mais com a exatidão que em obras posteriores, este além ser uma amostra para o espectador, demonstrando a qualificação do cinema do cineasta, é também uma analise social consistente, dotada de metáforas e reflexões relevantes.

Seria adequado ressaltar primeiramente que Veludo Azul mesmo flertando mais com a realidade propriamente dita, ainda consiste em um alto nível de complexidade, típico do trabalho do diretor, e por isso não será bem aceito aos que aterem-se a uma trama corriqueira de personagens e situações fáceis e rapidamente digeríveis. Não. O cinema de Lynch desde ontem, hoje e de sempre se ateve apenas a agradar um público, os que embarcarem em sua mente e navegarem em seus profundos devaneios. Aos que mantiverem ativos a uma viagem que desafia os sentidos e mexe com o psicológico. Veludo Azul traça uma linha concorrente entre a realidade e o imaginário, onde através de uma orelha temos o portal para um mundo mais obscuro, psicodélico, subliminar e por que não dizer, real.

A medida que somos apresentados a um tecido azul ondulante nos créditos iniciais do filme não sabemos qual o espetáculo que nos aguarda atrás daquele veludo, eis que somos apresentados a paisagens belas e aparentemente felizes. Cães correndo, crianças brincando, pessoas sorrindo, o sol brilhando intensamente. Uma fachada perfeita. Pouco a pouco Lynch vai descascando as camadas e nos mostrando a verdadeira realidade (aquela embaixo da grama verde), situada em lugares noturnos e vivida por pessoas sinistras. Veludo Azul é toda uma sociedade artificial sendo apagada pelo verdadeiro e complexo submundo, onde imperam o horror e o caos. Um mundo escondido que a sociedade “perfeita” pretende apagar de sua visão.


Veludo Azul além de toda sua montagem subjetiva carrega consigo um ar crítico, direcionado a sociedade perfeita e os podres que ele tenta esconder embaixo do tapete, o estilo de vida norte americano aqui relatado foge do apresentado em Beleza Americana (American Beauty, 1999), não só por abrangerem temas opostos, mas por Lynch constituir em sua análise um prisma que flerta com o lado mais obscuro e complexo desta, não para ampliar na vida de cada um que a compõe, mas por tratá-la como uma maquiagem para a verdadeira realidade que esta procura esconder. Obviamente, como se trata de David Lynch, essas discussões sociais viram sempre em metáforas durante o percurso de sua narrativa.

Além de compor uma atmosfera densa e angustiante, Veludo Azul trabalha também nas pessoas que habitam sua trama, seus personagens complexos e confusos, onde a moral destes não é o foco da produção, e sim suas atitudes e ações sobre circunstâncias extremas. Lynch modela seus personagens de acordo com a linha que a estória percorre. Cada personagem monta um contraste em relação ao outro, onde de início somos apresentados ao simpático Jeffrey, protagonista da trama, e quando a trama inclina-se para seu verdadeiro objetivo, surge o doentio Frank (Dennis Hooper), que assim como os dois mundos mostrados aqui, respectivamente a sociedade “perfeita” e a sociedade obscura, é um contraponto do que o protagonista representa. Veludo Azul brinca com os dois universos, desde o affaire do protagonista com a ingênua Sandy, até sua relação intensa com a sedutora cantora Dorothy, marcando um paralelo entre o mundo perfeito e o mundo perverso, deixando a cargo do espectador a decisão de qual desses é o mais divertido e instigante.

Lynch fez de Veludo Azul um delirante jogo psicológico, dotado de fórmulas não convencionais que reforçam ainda mais a particularidade do cinema do diretor. Lírico, psicodélico e extra-sensorial. Essas e outras características assumem este glorioso trabalho de David Lynch, e preenchem-no como um verdadeiro e inestimável clássico do cinema. Veludo Azul pode não ser a obra prima de seu diretor, mas definitivamente é um filme ímpar, original, e que irá marcar a todos que se deixarem levar por ele, da forma mais positiva possível.

♪ "Pena que todas essas coisas,
Só acontecem nos meus sonhos
Só nos sonhos
Em belos sonhos."

Nota: 8.0

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