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sábado, 14 de maio de 2011

2001: Uma Odisséia no Espaço

Olá. Boa tarde a todos. Como assim “boa tarde”? Você não pode saber qual o horário agora! É, você está certa.Voltando, estamos aqui para relatar nossa experiência ao assistir ao filme 2001: Uma Odisséia no Espaço. Ao contrário do que alguns imaginam, e para nossa surpresa, foram muitos, o filme foi lançado em 1968. E o que isso quer dizer? Quer dizer que ele foi um dos pioneiros no campo dos efeitos-especiais bombásticos. Juro que, se não tivesse conhecimento da história do filme, acharia que ele fora feito atualmente. Mas antes de começarmos, vamos às apresentações. Olá, eu sou a consciência. E eu a sub-consciência. Dividimos o palco porque, durante toda a projeção, brigamos, discutimos e saímos aos tapas. É verdade. Mas a culpa é de quem? Do filme. E sua também...

2001: Uma Odisséia no Espaço é um filme de Stanley Kubrick, o mesmo do magnífico Laranja Mecânica, que foi lançado em 1971. Enquanto Laranja Mecânica é um filme controverso, 2001 é um filme... Lindo! Não foi isso que eu quis dizer. 2001 é um filme estranho, confuso e muito, mas muito, cult, regado com muita psicodelia, surrealismo e efeitos instigantes à mente. O filme começa na Aurora dos Tempos, onde os habitantes eram macacos. Neste, que é o primeiro ato do filme, vemos os macacos – na verdade humanos maquiados (efeito conseguido com muita maestria – nossa avó até agora jura que eram macacos reais) – evoluindo culturalmente. Esse primeiro ato é enorme, com cenas compridas e sem nenhuma fala, só cenas e muita, mas muita cor. Vemos aqui os macacos deixando de ser caça para virarem caçador. Isso acontece quando um deles encontra o esqueleto de um outro animal. Ele, inocentemente, pega um osso e começa a bater no resto do animal, destruindo seu crânio e enfim descobrindo como se proteger: ele encontrara sua arma. Quando um grupo macacos enfrenta o rival, eles começam a bater os ossos em outro macaco, conquistando sua soberania e poder. Mas, da noite para o dia, aparece um estranhíssimo objeto no meio do “acampamento” deles. O objeto era liso, comprido e negro. Para os mais conhecedores, aquilo se chama “monólito”. Ninguém sabe o que é aquilo, nem o que faz ali e muito menos o que fará, mas ele emite sons agudos e confunde a todos (e sempre aparece ao som de “Atmospheres de Ligeti” - estupendo!). No século XXI, a Terra recebe sinais do mesmo monólito vindo de Júpter; então astronautas na nave Discovery partem para desvendar o misterioso artefato. Mas engana-se aqueles que acham essa parte simples. Aqui contém o melhor corte que o Cinema já viu. Quem assistiu ao filme, sabe do que estou falando.



O filme possui cenas arrebatadoras. A do macaco destruindo a carcaça, ao som da arrepiante música Danúbio Azul de Johann Strauss é uma das cenas mais memoráveis da história do Cinema. Podemos dizer que essa súbita tomada de inteligência deve-se à presença do monólito? Quem sabe? Nada aqui é concreto. Todas as cenas espaciais, com a trilha-sonora “classicamente” linda (com a música Atmospheres de György Ligeti – quase todas as músicas são dele), ou mesmo o silêncio esmagador (é, aqui é diferente de Star Wars que entupiu o vácuo com milhões de efeitos sonoros, o que é impossível), soa tão épico, tão deslumbrante, tão...obra-prima! Isso, concordo com você! O balé espacial é de tirar o fôlego. As cenas com a falta de gravidade, como quando a “aeromoça” simplesmente vira de cabeça para baixo ou os treinamentos do Dr. Dave na sala – para nós – giratória são muito criativas e ousadas.

A fotografia é outro ponto forte do filme. No primeiro ato, o vermelho e amarelo dominam, dando-nos a impressão de calor, de selvageria e de terra. No segundo em diante, o azul e o vermelho (mais eletrônico) predominam, dando uma áurea tecnológica com inúmeras luzes, botões e fios. Os móveis - como aquelas cadeiras rosas lindíssimas - foram feitas com linhas futuristas e formas circulares, dando o ar moderno. Tudo isso milimetricamente inventado e montado por Kubrick – perfecçionista ao extremo (identifiquei-me!). Mas, o que move o filme?

HAL 9000 (dublado por Douglas Rain) é o computador mais avançado que existe e à prova de erros. Nunca um HAL apresentou defeitos nem falhas, e isso é um motivo para a falta de modéstia do computador (sim, ele é completamente interativo). Ele é o cérebro da nave Discovery, e comanda tudo, das cápsulas de hibernação às micro-lâmpadas. É egocêntrico, orgulhoso e possui uma superconfiança irritante (“Falha humana. Isso já aconteceu antes, e sempre foi devido à falha humana”). Mas com o passar do tempo, HAL começa a agir estranhamente, como no jogo de xadrez contra Poole (Gary Lockwood), um dos integrantes da nave. Ele anuncia uma jogada “Rainha na casa 3”, mas na verdade, a Rainha está na casa 6. Poole na verdade não percebe e entrega o jogo. O que será isso? A primeira falha de HAL ou seus jogos psicológicos para mostrar sua superioridade? Depois ele faz um estranho interrogatório a Dave (nosso protagonista, interpretado por Keir Dullea) sobre como está indo a missão. Dave, percebendo a modo estranho do computador, que deveria ser seco e direto, contradiz. HAL trava rapidamente, e logo em seguida, mostra um problema na antena externa. E é esse o estopim da queda de tudo.



Permita-me continuar. Claro, prossiga. Obrigado. Dave vai até a antena, pega a peça danificada, mas, já dentro da nave, observa que há nada de errado com ela. Mas HAL confirma que a peça está com problemas, mas de fato ela não está. Dave e Poole só encontram uma saída: desligar HAL. Eles se trancam em uma pequena nave usada para sair da Discovery, desligam todas as conecções com HAL e lá planejam o plano, porém, HAL é um computador completo. Perfeito, até. Ele lê os lábios dos dois e descobre tudo. Quando Poole sai da nave para resolver o dilema da antena, HAL sabota sua nave, e ele é atirado para fora, morrendo pelo vácuo. Dave vai até Poole resgatar seu corpo, mas, na volta, HAL não permite sua entrada com a frase “Não posso permitir que você ponha em risco a missão, Dave” , mas ele consegue entrar por uma entrada alternativa que poderia matá-lo. Ele entra e desliga (ou mata, como queira) HAL, enquanto este finalmente entrega-se à verdade. "Eu estou com medo", ele suplica para Dave enquanto é desligado. “Medo”, ”medo”, ”medo”,enfatiza ele. Mas, medo do quê? De ser desligado? Da missão em si, que era completamente arriscada e confusa? De admitir sua falha? Quem sabe? Depois ele começa a cantar a música Daisy Bell. Curiosamente, a primeira apresentação do computador IBM 704, o primeiro a “ter voz”, foi “cantando” a mesma música de HAL. Isso só prova a coexistência do laço entre HAL, o fictício, e a IBM, a real (notem: depois da letra “H” vem a “I”, depois da “A” vem a “B”, e depois da “L” vem a “M”...).

Logo depois de matar HAL, Dave sai da nave e começa a parte final do filme. Completamente surreal. Aqui temos dez minutos ininterruptos só de imagens super coloridas, vibrantes e dopantes, capazes de deixar qualquer um tonto, já que Dave entra nessa espécie de buraco negro – mas há outras teorias. Ao que parecem, as imagens são criações de outros lugares, outros tempos e outros seres. Em uma delas há sete figuras geométricas que lembram naves espaciais, enquanto cores borram o contorcido rosto de Dave. Poderia ser isso sua evolução? Sim, principalmente depois que ele atravessa essa passagem psicodélica. Dave, completamente do nada, para numa casa em tons de verde e chão iluminado, com móveis renascentistas e vazio de humanos. Ele, dentro da nave vê ser eu um pouco mais velho. Do nada a nave some e fica somente o Dave-velho. Depois ele escuta um barulho e lá está, à mesa, um Dave-mais-velho. O Dave-velho some e o Dave-mais-velho derruba uma taça no chão. Um close é dado em sua expressão, que lembra à do macaco ao manusear o osso pela primeira vez. Logo depois o Dave-mais-velho olha para a cama e vê um Dave-mais-velho-ainda deitado. Este último permanece na cena e aponta par algo. Ao girar da câmera, vemos que é o monólito. A cena remete à pintura ”Criação do Homem” de Michelangelo. Outra cena memorável e única. Inesquecível. Como uma guilhotina em nossa mente. Ótima definição. Depois vemos o alinhamento dos planetas e um bebê gigante, o Starchild. Isso mostra a evolução do ser humano, que tornou-se maior que a Terra, e puro, brilhante e supremo. Quem sabe um dia finalmente entendamos isso...



Mas qual seria o motivo da briga citada no início? Eu, a consciência, entendi absolutamente nada deste filme. Achei-o... um nada. Sim, possui efeitos-especiais lindos, trilha-sonora maravilhosa e cenas marcantes, mas no fundo... eu, a sub-consciência achei-o brilhante. Como?! O filme não explica nada! Por isso mesmo! São as dúvidas que tornam o filme brilhante! Ah, se for por isso, Deus é brilhante! Claro que ele é. O monólito é Deus. Nossa, com certeza é. Cansei de brigar com você. Vou-me embora, com licença. Você nunca pode ir embora...Argh, você está certa.

Se você assistiu ao filme, e da primeira vez entendeu-o, parabéns. Volte e assista tudo novamente. Você entendeu nada. Existe aqui milhares de referências que, ao deslumbradas, mudarão qualquer conceito do filme. Por exemplo: se o homem nunca fora à Lua antes do filme – somente um ano depois – como eles sabiam que a Terra, vista de lá, era azul? Sim, temos a porção marinha muito grande, mas eles conseguiram uma representação muito parecida com a real. Estamos falando do ano de 1968. 68! Como haveria tamanha certeza com fatos antes desconhecidos mas que se encaixam perfeitamente agora?! Bem, há um ponto que eu e a consciência concordamos: Kucrick deve ter pego uma carona com o monólito e viajado alguns anos à frente só para revelar a verdade. Ou será que não? Puxa, cansei dessa pergunta...

Nota 10.0

2 comentários:

  1. Um dos filmes mais incriveis que eu já vi. Mesmo que eu ainda prefira 'Laranja Mecânica' do Kubrick, acho esse filme genial.

    Quando eu vi o filme, assisti com um verdadeiro expert no assunto, rs E que me explicou todas as nunces e os subtextos do filme. Mais incrível ainda!

    Não li o texto todo, até para não ter influência quando eu for escrever o meu, mas muito bacana a forma como vc escreveu: consciência e subconsciência!

    []s

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  2. Obrigado, Alan! Também prefiro Laranja Mecânica - é meu filme favorito.

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