Olá. Boa tarde a todos. Como assim “boa tarde”? Você não pode saber qual o horário agora! É, você está certa.Voltando, estamos aqui para relatar nossa experiência ao assistir ao filme 2001: Uma Odisséia no Espaço. Ao contrário do que alguns imaginam, e para nossa surpresa, foram muitos, o filme foi lançado em 1968. E o que isso quer dizer? Quer dizer que ele foi um dos pioneiros no campo dos efeitos-especiais bombásticos. Juro que, se não tivesse conhecimento da história do filme, acharia que ele fora feito atualmente. Mas antes de começarmos, vamos às apresentações. Olá, eu sou a consciência. E eu a sub-consciência. Dividimos o palco porque, durante toda a projeção, brigamos, discutimos e saímos aos tapas. É verdade. Mas a culpa é de quem? Do filme. E sua também...
2001: Uma Odisséia no Espaço é um filme de Stanley Kubrick, o mesmo do magnífico Laranja Mecânica, que foi lançado em 1971. Enquanto Laranja Mecânica é um filme controverso, 2001 é um filme... Lindo! Não foi isso que eu quis dizer. 2001 é um filme estranho, confuso e muito, mas muito, cult, regado com muita psicodelia, surrealismo e efeitos instigantes à mente. O filme começa na Aurora dos Tempos, onde os habitantes eram macacos. Neste, que é o primeiro ato do filme, vemos os macacos – na verdade humanos maquiados (efeito conseguido com muita maestria – nossa avó até agora jura que eram macacos reais) – evoluindo culturalmente. Esse primeiro ato é enorme, com cenas compridas e sem nenhuma fala, só cenas e muita, mas muita cor. Vemos aqui os macacos deixando de ser caça para virarem caçador. Isso acontece quando um deles encontra o esqueleto de um outro animal. Ele, inocentemente, pega um osso e começa a bater no resto do animal, destruindo seu crânio e enfim descobrindo como se proteger: ele encontrara sua arma. Quando um grupo macacos enfrenta o rival, eles começam a bater os ossos em outro macaco, conquistando sua soberania e poder. Mas, da noite para o dia, aparece um estranhíssimo objeto no meio do “acampamento” deles. O objeto era liso, comprido e negro. Para os mais conhecedores, aquilo se chama “monólito”. Ninguém sabe o que é aquilo, nem o que faz ali e muito menos o que fará, mas ele emite sons agudos e confunde a todos (e sempre aparece ao som de “Atmospheres de Ligeti” - estupendo!). No século XXI, a Terra recebe sinais do mesmo monólito vindo de Júpter; então astronautas na nave Discovery partem para desvendar o misterioso artefato. Mas engana-se aqueles que acham essa parte simples. Aqui contém o melhor corte que o Cinema já viu. Quem assistiu ao filme, sabe do que estou falando.
O filme possui cenas arrebatadoras. A do macaco destruindo a carcaça, ao som da arrepiante música Danúbio Azul de Johann Strauss é uma das cenas mais memoráveis da história do Cinema. Podemos dizer que essa súbita tomada de inteligência deve-se à presença do monólito? Quem sabe? Nada aqui é concreto. Todas as cenas espaciais, com a trilha-sonora “classicamente” linda (com a música Atmospheres de György Ligeti – quase todas as músicas são dele), ou mesmo o silêncio esmagador (é, aqui é diferente de Star Wars que entupiu o vácuo com milhões de efeitos sonoros, o que é impossível), soa tão épico, tão deslumbrante, tão...obra-prima! Isso, concordo com você! O balé espacial é de tirar o fôlego. As cenas com a falta de gravidade, como quando a “aeromoça” simplesmente vira de cabeça para baixo ou os treinamentos do Dr. Dave na sala – para nós – giratória são muito criativas e ousadas.
A fotografia é outro ponto forte do filme. No primeiro ato, o vermelho e amarelo dominam, dando-nos a impressão de calor, de selvageria e de terra. No segundo em diante, o azul e o vermelho (mais eletrônico) predominam, dando uma áurea tecnológica com inúmeras luzes, botões e fios. Os móveis - como aquelas cadeiras rosas lindíssimas - foram feitas com linhas futuristas e formas circulares, dando o ar moderno. Tudo isso milimetricamente inventado e montado por Kubrick – perfecçionista ao extremo (identifiquei-me!). Mas, o que move o filme?
HAL 9000 (dublado por Douglas Rain) é o computador mais avançado que existe e à prova de erros. Nunca um HAL apresentou defeitos nem falhas, e isso é um motivo para a falta de modéstia do computador (sim, ele é completamente interativo). Ele é o cérebro da nave Discovery, e comanda tudo, das cápsulas de hibernação às micro-lâmpadas. É egocêntrico, orgulhoso e possui uma superconfiança irritante (“Falha humana. Isso já aconteceu antes, e sempre foi devido à falha humana”). Mas com o passar do tempo, HAL começa a agir estranhamente, como no jogo de xadrez contra Poole (Gary Lockwood), um dos integrantes da nave. Ele anuncia uma jogada “Rainha na casa 3”, mas na verdade, a Rainha está na casa 6. Poole na verdade não percebe e entrega o jogo. O que será isso? A primeira falha de HAL ou seus jogos psicológicos para mostrar sua superioridade? Depois ele faz um estranho interrogatório a Dave (nosso protagonista, interpretado por Keir Dullea) sobre como está indo a missão. Dave, percebendo a modo estranho do computador, que deveria ser seco e direto, contradiz. HAL trava rapidamente, e logo em seguida, mostra um problema na antena externa. E é esse o estopim da queda de tudo.
Permita-me continuar. Claro, prossiga. Obrigado. Dave vai até a antena, pega a peça danificada, mas, já dentro da nave, observa que há nada de errado com ela. Mas HAL confirma que a peça está com problemas, mas de fato ela não está. Dave e Poole só encontram uma saída: desligar HAL. Eles se trancam em uma pequena nave usada para sair da Discovery, desligam todas as conecções com HAL e lá planejam o plano, porém, HAL é um computador completo. Perfeito, até. Ele lê os lábios dos dois e descobre tudo. Quando Poole sai da nave para resolver o dilema da antena, HAL sabota sua nave, e ele é atirado para fora, morrendo pelo vácuo. Dave vai até Poole resgatar seu corpo, mas, na volta, HAL não permite sua entrada com a frase “Não posso permitir que você ponha em risco a missão, Dave” , mas ele consegue entrar por uma entrada alternativa que poderia matá-lo. Ele entra e desliga (ou mata, como queira) HAL, enquanto este finalmente entrega-se à verdade. "Eu estou com medo", ele suplica para Dave enquanto é desligado. “Medo”, ”medo”, ”medo”,enfatiza ele. Mas, medo do quê? De ser desligado? Da missão em si, que era completamente arriscada e confusa? De admitir sua falha? Quem sabe? Depois ele começa a cantar a música Daisy Bell. Curiosamente, a primeira apresentação do computador IBM 704, o primeiro a “ter voz”, foi “cantando” a mesma música de HAL. Isso só prova a coexistência do laço entre HAL, o fictício, e a IBM, a real (notem: depois da letra “H” vem a “I”, depois da “A” vem a “B”, e depois da “L” vem a “M”...).
Logo depois de matar HAL, Dave sai da nave e começa a parte final do filme. Completamente surreal. Aqui temos dez minutos ininterruptos só de imagens super coloridas, vibrantes e dopantes, capazes de deixar qualquer um tonto, já que Dave entra nessa espécie de buraco negro – mas há outras teorias. Ao que parecem, as imagens são criações de outros lugares, outros tempos e outros seres. Em uma delas há sete figuras geométricas que lembram naves espaciais, enquanto cores borram o contorcido rosto de Dave. Poderia ser isso sua evolução? Sim, principalmente depois que ele atravessa essa passagem psicodélica. Dave, completamente do nada, para numa casa em tons de verde e chão iluminado, com móveis renascentistas e vazio de humanos. Ele, dentro da nave vê ser eu um pouco mais velho. Do nada a nave some e fica somente o Dave-velho. Depois ele escuta um barulho e lá está, à mesa, um Dave-mais-velho. O Dave-velho some e o Dave-mais-velho derruba uma taça no chão. Um close é dado em sua expressão, que lembra à do macaco ao manusear o osso pela primeira vez. Logo depois o Dave-mais-velho olha para a cama e vê um Dave-mais-velho-ainda deitado. Este último permanece na cena e aponta par algo. Ao girar da câmera, vemos que é o monólito. A cena remete à pintura ”Criação do Homem” de Michelangelo. Outra cena memorável e única. Inesquecível. Como uma guilhotina em nossa mente. Ótima definição. Depois vemos o alinhamento dos planetas e um bebê gigante, o Starchild. Isso mostra a evolução do ser humano, que tornou-se maior que a Terra, e puro, brilhante e supremo. Quem sabe um dia finalmente entendamos isso...
Mas qual seria o motivo da briga citada no início? Eu, a consciência, entendi absolutamente nada deste filme. Achei-o... um nada. Sim, possui efeitos-especiais lindos, trilha-sonora maravilhosa e cenas marcantes, mas no fundo... Já eu, a sub-consciência achei-o brilhante. Como?! O filme não explica nada! Por isso mesmo! São as dúvidas que tornam o filme brilhante! Ah, se for por isso, Deus é brilhante! Claro que ele é. O monólito é Deus. Nossa, com certeza é. Cansei de brigar com você. Vou-me embora, com licença. Você nunca pode ir embora...Argh, você está certa.
Se você assistiu ao filme, e da primeira vez entendeu-o, parabéns. Volte e assista tudo novamente. Você entendeu nada. Existe aqui milhares de referências que, ao deslumbradas, mudarão qualquer conceito do filme. Por exemplo: se o homem nunca fora à Lua antes do filme – somente um ano depois – como eles sabiam que a Terra, vista de lá, era azul? Sim, temos a porção marinha muito grande, mas eles conseguiram uma representação muito parecida com a real. Estamos falando do ano de 1968. 68! Como haveria tamanha certeza com fatos antes desconhecidos mas que se encaixam perfeitamente agora?! Bem, há um ponto que eu e a consciência concordamos: Kucrick deve ter pego uma carona com o monólito e viajado alguns anos à frente só para revelar a verdade. Ou será que não? Puxa, cansei dessa pergunta...
Nota 10.0
Um dos filmes mais incriveis que eu já vi. Mesmo que eu ainda prefira 'Laranja Mecânica' do Kubrick, acho esse filme genial.
ResponderExcluirQuando eu vi o filme, assisti com um verdadeiro expert no assunto, rs E que me explicou todas as nunces e os subtextos do filme. Mais incrível ainda!
Não li o texto todo, até para não ter influência quando eu for escrever o meu, mas muito bacana a forma como vc escreveu: consciência e subconsciência!
[]s
Obrigado, Alan! Também prefiro Laranja Mecânica - é meu filme favorito.
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