Temas delicados de se discutir encontramos aos montes se percorremos os anos do cinema, mas uma coisa é abordar tais temáticas, outra, oposta, é fazer uma boa execução do assunto que se fala. Reencontrando a Felicidade (Rabbit Hole, 2010) é um dos grandes exemplos que podemos destacar sobre um como concluir um belo tratamento a um tópico tão difícil de ser debatido; neste filme a dor da perda é o ponto de partida e discussão da narrativa da obra, que pretende imprimir uma ótica sensível e realista do luto, apresentando o quão difícil e sacrificante é saber que quem amamos nunca mais estará ao nosso lado.
Reencontrando a Felicidade já nasceu com um problema a ser enfrentado, isso porque, a execução de um assunto tão pesado quanto o luto requer um grande domínio por parte de roteiro e direção para que a obra não flua como o inesperado, ou seja, não se torne fria em seu contato com o público e nem exacerbe na carga dramática de sua trama, entretanto, temos então a surpresa vinda deste projeto, pois o filme consegue ilustrar a dor de um casal - Nicole Kidman e Aaron Eckhart - em relação à perda do único filho de uma forma extremamente eficiente, não se rendendo a táticas artificiais (leia-se: lágrimas forçadas) ou a frieza emocional.
Por contar com uma discussão tão densa quanto, Reencontrando a Felicidade funciona como um filme de auto-ajuda direcionado a pessoas que encontram-se nesta situação e não sabem como lidar com a dor. Dessa forma, o filme escreve uma importância maior que a de ser um simples produto de entretenimento, e isso se deve a sua competência em abordar de forma peculiar um tema de delicada abordagem. O roteiro é a grande engrenagem para toda essa máquina dramática funcionar, pois o texto aqui marca compromisso é relatar não a dor em si, mas como quem está sofrendo dela, passa a enxergar e enfrentar a vida a partir de então. O filme não oferece uma solução ou receita de como se exterminar essa tristeza, ele simplesmente expõe seus personagens como seres que precisam tocar a vida em frente, não importando qual seja a barreira que essa estabeleça em seu trajeto.
Entretanto, esse cenário de dor e angustia só daria certo se aqueles que o atuassem fossem competentes na interpretação de cada respectivo personagem, nesse ponto encontramos os grandes pilares de sustentação da trama: seu elenco. Todos estão desempenhar com qualidade seus papéis, conferindo uma profundidade ainda maior à história ali retratada, e promovendo uma rápida empatia com o público. Nicole Kidman (Moulin Rouge; Os Outros) realiza uma grande atuação como protagonista da trama; o sofrimento e a melancolia que a personagem enfrenta são capturados de forma sublime pela atriz - uma das melhores da atualidade -, que faz juz à indicação ao Oscar de Melhor Atriz este ano. Seu companheiro de cena, Aaron Eckhart (Batman – O Cavaleiro das Trevas) está igualmente competente, expondo de forma profunda a dor na figura do pai, que tenta balancear seu próprio sofrimento como o auxílio que deve prestar a esposa ainda desolada com a tragédia.
O filme realmente demora a fisgar o público a sua história, falha essa resultada da narrativa excessivamente lenta promovida trama. Essa vagareza é justificada pela temática delicada que o filme disseca, de modo que este se compromete apenas explicar o quão consumidor é este sentimento, não dando respostas em qualquer momento, dessa maneira Reencontrando a Felicidade pode tornar-se insatisfatória àqueles que forem a busca de um drama convencional, que busca preencher as lacunas deixadas com respostas fáceis e por vezes mastigadas. É, portanto, que o que temos aqui é um filme complexo, interpretativo e metafórico, qualidades essas de extremo valor no tão escasso cinema atual.
Sendo assim, um filme de metáforas, de faces opostas, que certamente terá um significado diferente para cada um que o assistir. É uma obra que propõe a reflexão, esta que virá após a amostra dos créditos finais, não apenas em relação aos personagens e situações ali apresentados, mas principalmente ao espelho que aquela realidade virtual refletirá na vida de cada um de nós. Então o “buraco do coelho” (título original do filme) é a chave para entendermos todo aquele estado que o casal protagonista enfrenta, onde eles precisão atravessar esta ultrapassar essa misteriosa passagem para chegar a outra dimensão. Afinal, é somente atravessando o “buraco do coelho” que se chega ao tão esperado país das maravilhas.
Nota: 8.0
Um filme forte e comovente.
ResponderExcluirBela interpretação de Nicole Kidman. Gostei demais.
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