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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Desventuras em Série (2004)

Baseado na série Desventuras em Série escrita por Lemony Snicket, pseudônimo de Daniel Handler - o verdadeiro nome do escritor, tanto o filme quantos os livros contam a história dos irmãos Baudelaire: Violet, Klaus e Sunny perdem os pais em um incêndio e, a partir daí, começam suas desventuras.

Como grande admirador e leitor ávido da série, preciso apontar que o filme se baseia apenas nos três primeiros livros: Mau Começo; A Sala dos Répteis (um dos meus preferidos) e O Lago das Sanguessugas, e a série possui treze livros mais os que servem para complementar, como por exemplo, “Autobiografia Não Autorizada” e “Beatrice Letters”, este último ainda não lançado no Brasil.


São vários os motivos que fizeram eu gostar da série, mas o que me chamou bastante a atenção é o anacronismo com que a história é contada, ou seja, a não especificação do tempo, da época em que acontecem os fatos, e isto foi um aspecto dos livros preservado no filme. Enquanto que as aparências dos lugares e o figurino parecem ser de uma época um pouco antiga (década de 1900, aproximadamente), há outros aspectos que dão a idéia de que a história se passa no futuro, os acessórios dos carros são um exemplo disso.

Outro aspecto dos livros que foram preservados no filme é as características dos personagens. O filme as deixa bem claro: Violet é a inventora dos irmãos, quando ela quer ou precisa ter uma idéia, ela amarra uma fita em seus cabelos; Klaus é o leitor dos irmãos, ele consegue ler livros e absorver grande parte do que lê; E Sunny, apesar de ser apenas um encantador bebezinho, também tem uma habilidade, a de morder, habilidade essa que salvou os irmãos várias vezes.

Sendo jovens tão habilidosos, eles conseguem se salvar do Conde Olaf, primeiro tutor dos irmãos que tenta, a todo custo, roubar a fortuna que os Baudelaire deixaram para os filhos. O Conde Olaf é o motivo das desventuras em série dos irmãos, foi ele que levou toda a tragédia para a vida das crianças, o conde é a personificação do mal: com uma única sobrancelha, magro e feio, asqueroso, desprezível com uma tatuagem de olho no tornozelo, e muito mal, não há nada de bom nele (essa última afirmação só é válida para quem não leu todos os livros). E aí é que está o maior defeito do filme em relação aos livros: o diretor e os produtores do filme erraram feio em escolher Jim Carrey para o papel do Conde Olaf.


Não tenho nada contra Carrey, na verdade, ele é um dos meus atores preferidos, mas devo admitir que neste filme, suas caretas e trejeitos não caem bem. O Conde é um homem mal, não há nada de engraçado nele, ele é asqueroso e não é de ficar fazendo caras e bocas para Deus e o mundo. Aliás, o filme perde pontos em tudo que é relativo ao Conde, o final que dão para o personagem é o oposto da história (o Conde não é preso e muito menos submetido às mesmas crueldades que os irmãos passaram) e, além disso, é malfeito, e dá a impressão de que tiveram de dar um final para poder lançar logo o filme. Um final arrastado e sem vergonha.

Quando digo o “final do personagem Conde Olaf”, não me refiro ao final do filme, que por sinal é muito bom. Os Baudelaire estão na mansão, agora queimada, de seus pais que deixaram para eles uma carta. Quando eles começam a ler a carta toca uma sineta e começa um código: o código Sebald. Para quem não leu todos os livros da série, o código Sebald consiste em toda vez que toca um sino, contar dez palavras e circular a décima primeira e fazer isso até que outro sino toque mais uma vez, indicando o final do código. As palavras circuladas formam uma frase (tentei fazer isso, mas por uma questão de dublagem e legendas em português, a frase formada não tinha sentido).


Há uma atmosfera de mistério em torno da morte dos Baudelaire, dos incêndios e de haver uma “sociedade secreta” e esse mistério é, em parte, preservado no filme. Além disso, os aspectos técnicos - fotografia, a criação dos lugares - merecem destaque. A figura do conde Olaf, no que se refere ao figurino e à maquiagem é perfeita. O Sr. Poe também merece destaque (apesar de tossir bem menos do que tosse nos livros) e os irmãos foram interpretados por jovens bem cuidados e bonitos, para mostrar que eles têm dinheiro.

O visual gótico e diferente deixa a experiência sensorial bastante rica, o que impressionará os que gostam de uma ótima fotografia. Esse visual gótico conta com muitas imagens cinzas, um pouco sem cor, que deixa a impressão de que as cores representam o estado dos irmãos. Logo no começo do filme quando os irmãos estão na praia e recebem a notícia da morte de seus pais, a cor do céu e da areia, deixa a impressão de que algo ruim irá acontecer.

Outro aspecto do livro preservado no filme é a narração do escritor, ou no caso seu pseudônimo, Lemony Snicket. Durante a narração, Snicket diz várias vezes que tem o dever de contar a terrível história dos irmãos Baudelaire, e isso contribui para mais um pouco de mistério. Porque ele tem esse dever? Qual a sua relação com as crianças? Qual é a sua relação com a história? São perguntas que surgem por conta de sua narração.

Para mim, grande admirador da série, o filme deixou um pouco a desejar, não pelos aspectos técnicos que são muito bem-feitos, mas pela história e, principalmente, pelo personagem do conde Olaf. Perdeu-se muito na sua adaptação para o cinema.

Já ouvi muitas pessoas falarem que acharam o filme infantil, e por isso não tem interesse em conhecer a história. É preciso deixar bem claro que Desventuras em Série é uma história sobre crianças, mas, com toda a certeza, é indicado para todos os públicos, principalmente àqueles que gostam de um pouco de mistério e emoção.

Nota: 6.5

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