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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Bonequinha de Luxo (1961)


Pieguice, melodramas e muitos, mas muitos clichês preenchem Bonequinha de Luxo, e este é o tipo de comédia romântica que realmente podemos chamar de previsível, isso porque, toda a cartilha que este subgênero segue tão rigorosamente (com exceções, é claro), o filme de Edwards também estabelece para si próprio, tornando-se algo que ao vermos as primeiras cenas já sabemos como tudo irá acabar. Mas isso impede alguma coisa? Absolutamente, não. Bonequinha de Luxo, na mesma proporção que é clichê é encantador, e, convenhamos, isso é o que há de mais necessário numa comédia romântica, não pregar surpresas, mas transmitir toda sua magia e esplendor ao público. E, nesse quesito, Bonequinha de Luxo sai-se admiravelmente bem.

O filme reveste para si uma aura sempre alegre, que declara o estado de espírito que toda a trama se encontra, e realmente, isso é o que há de mais engraçado e irônico, uma vez que os personagens centrais vivem uma vida pouco gloriosa, até mesmo miserável, mas nunca perdem o bom humor e o charme ao nos apresentar suas respectivas trajetórias. Audrey Hepburn da vida a Holly Golightly, uma personagem em crise existencial, pois desde que se tornou uma garota de programa de luxo procura ser sempre independente, afastando-se de qualquer relação amorosa em que o quesito financeiro não esteja presente, dessa forma Holly evita a todo custo entregar-se ao amor de outra pessoa. Quando Paul Varjak (George Peppard) surge em sua vida, tudo muda, porque um entende o outro, o rapaz também é bancado por uma senhora, e ambos querem acima de tudo, desvencilharem-se de qualquer coisa que os prenda, inclusive uma relação que não seja a de amigos.

Bonequinha de Luxo exala charme por todos os seus poros, seja pelo visual extravagante de sua protagonista, ou até mesmo pela própria trama que confere a si próprio uma beleza particular. Os cenários, a ambientação, tudo rima de forma tão sincronizada com a história que nos está sendo apresentada, desde o desenvolvimento do romance entre os protagonistas, até as próprias confusões e dúvidas que pairam na mente de Holly Golightly, que tem como sua única válvula de escape a joalheria Tiffany’s, que dá nome ao título original do filme. Blake Edwards cria uma interessante ligação dos personagens com o universo urbano, declarando o amor destes a cidade de Nova Iorque, e mostrando ao público que mesmo em meio a uma selva de pedra o romance entre Holly e Paul ganha contornos mágicos, tal qual um belíssimo conto de fadas moderno.

É interessante notar que ainda que Bonequinha de Luxo seja um filme recheado de clichês, aqui não existe o que há de mais habitual em uma comédia romântica corriqueira: o herói e a mocinha; como já supracitado, Paul e Holly são donos de uma vida pouco invejável, o que abandona aquela postura de mocinhos e vilões, uma vez que eles próprios executam ações que não condizem com as posturas inabaladas dos bons moços. Eles só querem viver a vida de uma maneira mais proveitosa, e pronto. Portanto, Holly e Paul completam um a outro, pois ambos além de encontrarem-se na mesma condição de vida, compreendem os problemas que enfrentam e compartilham os anseios de tornar suas respectivas existências mais dignas de serem vividas.


É sensacional observar que, mesmo com um material que corresponderia a uma comédia romântica qualquer, Bonequinha de Luxo se destaca não apenas pelo título de clássico que ostenta até hoje, mas especialmente pelo excepcional desenvolvimento de sua personagem-título. Holly Golightly é uma figura mais complexa do que imaginada a princípio, pois ela representa tudo que a mulher moderna deseja e está conseguindo: liberdade; característica essa apresentada desde seu figurino glamoroso, que muito mais do que futilidade, revela o domínio que exerce sobre a figura masculina, encantando e se ausentando de qualquer relação de dependência com os homens. Os conflitos entre Holly e Lola Mae são derivados justamente da personalidade polarizada de ambas, uma é ambiciosa e independente que preza os bens financeiros acima de tudo, a outra é simples que só deseja ser amada e tocar em diante uma vida feliz. Estas personalidades opostas juntas numa mesma mulher são capitadas de forma brilhante por Hepburn, que transmite ao público todas as sensações e confusões na mente de sua personagem, despertando assim, nossa estima e admiração por ela.

Este é o tipo de filme que sobreviveria mesmo com apenas dois personagens, isso porque, enquanto Holly e Paul causam nossa empatia, o resto dos personagens é completamente subdesenvolvido, e não necessariamente importam na história do filme. Em grande e unânime exemplo temos o síndico do condomínio (Mickey Rooney), um personagem totalmente desfocado da trama, que não adiciona absolutamente nada ao conteúdo da obra, ao contrário, atrapalha por se o responsável por equivocadas incursões no humor na trama. Sendo assim, se alguns personagens fossem extraídos, outros melhor desenvolvidos, teríamos um estudo mais completo de personalidades, por assim dizer, como não ocorreu, os maiores pilares de sustentação ficam com o casal principal e, especialmente, com a atuação sublime de Audrey Hepburn, que entrega uma figura adorável e completa, que tornou-se merecidamente um ícone entre as melhores personagens femininas da história.

Temos então um romance que marcou época, dono de uma sofisticação e charme irresistíveis, construído a partir do brilho deixado por produções anteriores da Hollywood em seus anos de ouro. Blake Edwards lapida sua obra com todo o esmero e encanto possíveis, fazendo desta obra algo maior, muito maior que uma comédia romântica esquecível ou passável. É aquele tipo de filme que certamente não será “apenas” uma boa sessão numa tarde chuvosa, ou “somente” um filme para se ver com a pessoa amada. Não. Bonequinha de Luxo é o cinema em seu molde mais pleno e autêntico, então dessa forma, o que temos aqui é um filme feito para todo e qualquer momento de nossa vida, que terá seu lugar garantido nas melhores recordações que certamente trará a seu público.

Nota: 8.0

Um comentário:

  1. A melhor comédia romântica de todos os tempos. Audrey Hepburn, como sempre: em um momento inspirado.

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