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quinta-feira, 19 de maio de 2011

No Vale das Sombras (2007)


Quem não lembra do falatório em torno de Crash – No Limite, em 2006? Dirigido pelo veterano roteirista Paul Haggis (responsável pelo script de Menina de Ouro), o filme foi acusado por muitos de ser um veículo cinematográfico absolutamente melodramático e manipulador, mas que não o impediu de levar os dois prêmios mais importantes do Oscar, melhor filme e direção. Assim, as atenções se intensificaram em cima de Haggis, que assim como conquistou a admiração de muitos, também obteve o desprezo de outros.

No ano seguinte, Haggis chegou com este No Vale das Sombras, novamente chamando a atenção dos que acreditavam na promessa de que o diretor/roteirista poderia se tornar um grande nome da safra. Inicialmente, a estrutura de No Vale das Sombras parecia ser de um thriller investigativo, tipicamente Hollywoodiano, usando como pano de fundo a invasão norte-americana no Iraque. E mais uma vez, Haggis surpreendeu ao entregar algo completamente fora do proposto, e o que aparentava ser um filme genérico, se revelou uma experiência densa, crítica e, principalmente, cuidadosa em seu desenvolvimento, seja dos personagens ou da trama em si.

Um dos principais acertos do roteiro é deixar suas alfinetadas contra a guerra nas entrelinhas. Antes de privilegiar suas denuncias, Haggis opta por dar um desenvolvimento adequado ao produto, mais especificamente, aos dramas dos personagens e as situações em que se encontram. Revelando-se como um estudo da condição humana, não existem vilões e mocinho, inocentes ou culpados aqui. Haggis não culpa, mas também não inocenta ninguém, e isto pode ser visto, principalmente, na busca de Hank pelo paradeiro de seu filho. Evitando cair no estereótipo de “pai que busca vingar a morte do filho”, o roteiro mostra que Hank, apesar de no fundo ainda manter alguns costumes adquiridos em sua época militar, o que ele apenas quer é buscam a compreensão sobre o porque de tudo aquilo estar acontecendo. Seu objetivo não é a justificativa, apenas a certeza.

Aliado a esse roteiro coeso no estudo das situações, e sutil em suas criticas, temos ainda as ótimas interpretações de todo o elenco. A principal atração, obviamente, é Tommy Lee Jones, que graças ao seu trabalho aqui, foi indicado ao Oscar 2008 pela sua maravilhosa interpretação de um pai desesperado por respostas. Contido, o ator acerta nas expressões, onde é possivel enxergar a aflição e o cansaço de um homem que já cansou de conviver no meio daquele mundo, mas que se vê obrigado a adentrar-lhe novamente, se quiser encontrar suas respostas. Sem dúvidas, é o melhor trabalho da carreira deste ator que, há tempos, havia sumido dos holofotes (vale lembrar que, no mesmo ano, ele também esteve no oscarizado Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Coen).

Em contraponto, Charlize Teron quase rouba a cena como a detetive Emily, que no meio de seu trabalho exaustivo, se vê, aos poucos, envolvida pela situação de Hank. Dispensando qualquer uso de maquiagem, Teron brilha com suas expressões fortes e seu aspecto pálido, provando o porque de ser uma das atrizes mais competentes da atualidade. O elenco de apoio também não faz feio, e conta com nomes de James Franco, Josh Brolin e Susan Sarandon (esta última com pouco tempo em cena, mas sempre competente).

Mas como o novato que é, Haggis não escapa de alguns tropeços. Apesar da já comentada sutileza em suas denúncias contra a guerra, seu roteiro se torna surpreedentemente explicito no ato final. Surge aqui o melodrama que Haggis foi acusado de utilizar em Crash – No Limite, e o longa acaba perdendo porça por enfatizar em demasia na mensagem do filme, o que também deixa explicita a subestimação de Haggis para com o público, como se achasse que seu roteiro é complexo demais para a nossa compreensão. É um defeito que pode parecer pequeno, mas quando comparado com tudo o que o filme havia apresentado antes, se torna gritante.

Ainda assim, No Vale das Sombras é extremamente eficiente no que se propõe. A fotografia de Roger Deakins privilegia uma iluminação fraca, que flerta com um certo tom sépia, e traz aquela sensação de vazio que permeia a atmosfera do filme. É uma experiência realista, honesta, que mostra que, mesmo com o passar dos anos, estas feridas tão profundas jamais cicatrizam. Numa única definição, é um belo filme.


Nota: 7.0



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