Quem não lembra do falatório em torno de Crash – No Limite, em 2006? Dirigido pelo veterano roteirista Paul Haggis (responsável pelo script de Menina de Ouro), o filme foi acusado por muitos de ser um veículo cinematográfico absolutamente melodramático e manipulador, mas que não o impediu de levar os dois prêmios mais importantes do Oscar, melhor filme e direção. Assim, as atenções se intensificaram em cima de Haggis, que assim como conquistou a admiração de muitos, também obteve o desprezo de outros.
No ano seguinte, Haggis chegou com este No Vale das Sombras, novamente chamando a atenção dos que acreditavam na promessa de que o diretor/roteirista poderia se tornar um grande nome da safra. Inicialmente, a estrutura de No Vale das Sombras parecia ser de um thriller investigativo, tipicamente Hollywoodiano, usando como pano de fundo a invasão norte-americana no Iraque. E mais uma vez, Haggis surpreendeu ao entregar algo completamente fora do proposto, e o que aparentava ser um filme genérico, se revelou uma experiência densa, crítica e, principalmente, cuidadosa em seu desenvolvimento, seja dos personagens ou da trama em si.
Um dos principais acertos do roteiro é deixar suas alfinetadas contra a guerra nas entrelinhas. Antes de privilegiar suas denuncias, Haggis opta por dar um desenvolvimento adequado ao produto, mais especificamente, aos dramas dos personagens e as situações em que se encontram. Revelando-se como um estudo da condição humana, não existem vilões e mocinho, inocentes ou culpados aqui. Haggis não culpa, mas também não inocenta ninguém, e isto pode ser visto, principalmente, na busca de Hank pelo paradeiro de seu filho. Evitando cair no estereótipo de “pai que busca vingar a morte do filho”, o roteiro mostra que Hank, apesar de no fundo ainda manter alguns costumes adquiridos em sua época militar, o que ele apenas quer é buscam a compreensão sobre o porque de tudo aquilo estar acontecendo. Seu objetivo não é a justificativa, apenas a certeza.
Em contraponto, Charlize Teron quase rouba a cena como a detetive Emily, que no meio de seu trabalho exaustivo, se vê, aos poucos, envolvida pela situação de Hank. Dispensando qualquer uso de maquiagem, Teron brilha com suas expressões fortes e seu aspecto pálido, provando o porque de ser uma das atrizes mais competentes da atualidade. O elenco de apoio também não faz feio, e conta com nomes de James Franco, Josh Brolin e Susan Sarandon (esta última com pouco tempo em cena, mas sempre competente).
Mas como o novato que é, Haggis não escapa de alguns tropeços. Apesar da já comentada sutileza em suas denúncias contra a guerra, seu roteiro se torna surpreedentemente explicito no ato final. Surge aqui o melodrama que Haggis foi acusado de utilizar em Crash – No Limite, e o longa acaba perdendo porça por enfatizar em demasia na mensagem do filme, o que também deixa explicita a subestimação de Haggis para com o público, como se achasse que seu roteiro é complexo demais para a nossa compreensão. É um defeito que pode parecer pequeno, mas quando comparado com tudo o que o filme havia apresentado antes, se torna gritante.
Nota: 7.0
Nenhum comentário:
Postar um comentário