Esta é a minha história.
Apesar de esta frase melodramática marcar presença no final de O Contador de Histórias, ela não deixa de refletir uma verdade: ela não se restringe somente a Roberto Carlos Ramos, protagonista do filme, mas também é a história de milhares de crianças brasileiros, que sendo vitimas da pobreza e da fome, lutam por um simples prato de comida, e quando surge uma oportunidade de mudar de vida, de ter condições melhores, elas agarram com força. Apesar de seus excessos cinematográficos, a história deste garoto sonhador apresenta-se bela, revigorante, e surpreendetemente divertida.
É visivel as criticas que o diretor Luiz Villaça (de Cristina Quer Casar) disfere por meio dos poros de seu filme, e a principal delas é sobre as poucas oportunidades que os jovens infratores possuem no meio da sociedade. Através da amizade entre Roberto (Paulinho Mendes) e a pedagoga Margerith, o diretor pinta o retrato que todos estes jovens gostariam de ter em suas vidas, a vontade de ter um lar, de ter uma familia, de alguém que os ame de verdade e que cuidem deles com carinho.
Mas Roberto é diferente dos outros meninos. Sim, ele usas roupas maltrapilhas, vive sujo, e possui tendências de roubar e fugir. Mas é a sua imaginação que o torna diferente, especial até. Um momento que reflete este aspecto da personalidade de Roberto com perfeição é quando ele chega a FEBEM. No meio daquele cenário de crianças tristes e desoladas, Roberto imagina um lugar alegre, colorido, divertido, diferente do cinza tristonho que toma conta do local. Apesar de momentâneo, é um momento mágico e fascinante. E confesso, foi dificil conter uma lágrima.
E esta visão alegre, e até debochada de Roberto sobre sua vida permeia por quase todo o filme, apresentando momentos verdadeiramente hilários, mas que no fundo, são donos de grande sensibilidade. Mais uma vez, fica impossivel não se envolver com a história de Roberto, e de se fascinar com sua perspectiva de que algo pode mudar em sua vida. É uma narrativa fabulosa, que apesar de ser sobre uma criança, passa longe de algum toque infantil.
Apesar de toda a beleza da história, O Contador de Histórias passa longe da perfeição, e os principais responsáveis são o próprio diretor Luiz Villaça e o roteiro, escrito pelo diretor em conjunto com José Roberto Torero, Mariana Veríssimo e Maurício Arruda. É visivel a brusca queda sofrida pelo filme em determinado momento, quando adota um tom por demais sério. A imaginação de Roberto se esvai num piscar de olhos, e o filme perde todo o ar de magia e poesia que havia construido tão bem. Claro, o garoto estava crescendo, e deveria deixar esta fase para trás, mas isto é feito de forma tão abrupta que fica dificil não se assustar. Logo, a história baseada em fatos reais parece se tornar uma mera ficção. E a narrção em off do verdadeiro Roberto Carlos Ramos (que surge durante os créditos finais) é por demais desnecessária, assim como a confusa cãmera tremida de Villaça, que insiste em usa-la nos momentos menos oportunos.
Mas o filme ainda reserva alguns outros méritos. A relação de amizade entre Roberto e Margerith é muito bem desenvoldia, convencendo o espectador de que, apesar de personalidades tão opostas, aquelas duas figuras podem criar alguma afeição um pelo outro. E ajuda muito as atuações de Paulinho Mendes e Maria de Medeiros (Pulp Fiction: Tempo de Violência), que aparentam estar bem à vontade. O único porém é Cleiton dos Santos da Silva, que interpreta de forma desastrosa o protagonista aos vintes anos.
Mesmo com seus poréns aqui e ali, O Contador de Histórias é inevitavelmente emocionante, vigoroso, e acima de tudo, divertido. Além de refletir a triste realidade da pobreza que tanto assola o nosso país.
Nota: 7.0
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