Os Outros não é semelhante à O Sexto Sentido. Essa afirmação advém do fato de que, desde que o filme de Amenábar foi lançado em 2001, muita comparações foram feitas em relação ao conteúdo deste com o do famoso filme de M. Night Shyamalan, de modo que, alguns até hoje tendem a construir uma rixa inexistente com estes dois filmes, que, mesmo que abordem o prisma do sobrenatural sobre o ambiente real, não possuem o mesmo propósito. Essa comparação veio a partir de que, ambos os filmes contém em sua trama uma resolução surpresa, que confere ao público um impacto visual e psicológico, da maneira que são tão bem arquitetadas e sustentadas por ambos os diretores até seu ato final. Sendo assim, dois grupos dividiram-se, entre os que preferem Os Outros, em quesitos de surpresa, mistério e trama, e os que preferem O Sexto Sentido, por sobressair-se em tais qualidades apresentadas pelo filme de 2001.
O caso é que, cada um é virtuoso em sua própria área, uma vez que ambos não possuem as mesmas reflexões, e trabalha de maneira diferente com o contato sobrenatural, a construção dos personagens em relação a este fenômeno e da própria trama ao abranger este evento. O Sexto Sentido é o tido de filme que, muito além de promover sustos e arrepios em seu público, propõe um estudo de personagens, colocando uma criança que carrega consigo o transtorno de ver pessoas já falecidas, e em decorrência disso adquiri uma personalidade introvertida e pouco social, e um médico que embora seja brilhante com o tratamento de seus pacientes, não sabe como lidar com a situação do garoto, da mesma forma que não consegue contornar os problemas de seu casamento. Já Os Outros toca na questão sobrenatural de uma maneira mais focada do medo, na aflição do ser humano em estabelecer contato com o desconhecido e o inacreditável; desse modo, ambos os filmes conseguem ativar nossos sentidos através do belíssimo uso da temática extraordinária para narra sua história, entretanto, enquanto O Sexto Sentido é um filme mais emocional, humano e complexo, Os Outros constrói de melhor maneira o medo e o pavor do público, sendo mais “suspense” que O Sexto Sentido, mas perdendo para esse em demais quesitos.
A trama de Alejandro Amenábar teve tudo para dar certo, e, felizmente, assim foi. O roteiro, escrito pelo próprio diretor, explora o sempre interessante posicionamento humano com entidades desconhecidas, suas reações, seus temores e o próprio abalo de sua fé, afinal, como se pode crer naquilo que sua própria religião jamais prega? Mas, e se não acreditar no evento - ou no fenômeno, se preferirem - for apenas um modo de não aceitar o fato de que tudo que sempre acreditou até então está sendo abalado? Estes instigantes questionamentos são personalizados pela figura da superprotetora Grace (Nicole Kidman), que não aceita que sua filha mais velha esteja presenciando aparições sinistras na mansão onde moram, acredita que tudo isso seja malcriação da pequena, e até mesmo alucinação de sua própria cabeça. Quando três empregados são contratados para responsabilizarem-se pela limpeza do local, todo aquele fenômeno se intensifica, coisas estranhas passam a ocorrer com maior freqüência no local, e os novos criados parecem estar escondendo algo de muito misterioso.
Amenábar nutre nosso temor de maneira esplêndida, causando uma tensão eletrizante mesmo nos momentos de calmaria, e baques constantes nos momentos em que promove o susto. Os Outros carrega uma atmosfera genuína de suspense, algo que poucos filmes são capazes de produzir, pois, muito diferente de sustos gratuitos e falidos, promovidos as tantas por muitos suspenses dessa atualidade, este filme consegue elaborar um clima de aflição quase incessável, de modo que, a trama não demora para nos prender de vez, e nos conduzir através da aflição, e do temor que depositamos pelos personagens, que rapidamente nos repassam empatia. Um dos grandes pontos a se destacar na construção da atmosfera de Os Outros é justamente como ela nos envolve até seu surpreendente ato final, que se estabelece não como algo gratuito, feito apenas com intuito de chocar, mas sim uma surpresa completa, que ata todas as pontas que haviam sido deixadas propositalmente no caminho pelo roteiro, e ainda preenche qualquer lacuna que venha a ser feita em nossa mente numa primeira conferida.
Diferente de O Sexto Sentido, que nos surpreende ao estarmos completamente desarmados, o final desfecho de Os Outros é algo que causa um impacto já esperado, isso porque, a todo o momento sentimos que o filme tem algo a esconder, a revelar, e esse mistério é nutrido pelos diálogos entre os personagens, o modo de se expressar um com o outro e até a maneira com a qual se portam em cada situação, é como se soubéssemos não do que se trata a surpresa em si, mas que ela virá mais cedo ou mais tarde. Além do que, o acontecimento final de O Sexto Sentido é certamente mais imprevisível que o deste, e mesmo que, como espectador, não tenha decifrado ambos, fica evidente que a construção do desfecho do filme de Shyamalan foram melhor construída, e até mesmo mais engenhosa - prova disso é que as pistas sempre estiveram lá, sobre nossos narizes, apontando a todo o tempo qual seria a surpresa que o desfecho nos aguardava, ainda sim, tudo foi tão bem elaborado que poucos notaram sobre o que se tratava.
Dito isso, fica nítido que O Sexto Sentido e Os Outros são filmes diferentes, em quesitos quase gerais, mostrando que a comparação feita sobre a todo tempo sobre a qualidade de ambos é totalmente desnecessária. São filmes sublimes diante das reflexões que inevitavelmente causam no espectador, cada qual com metas diferentes, mas bem sucedidos em seus propósitos. Os Outros de Amenábar é um suspense ímpar, misterioso e instigante na medida certa, bem como surpreendente, não apenas em seus momentos derradeiros, mas em como nosso medo é ministrado por esta obra. É um filme genial, que certamente agradará em cheio os que forem tanto em busca de uma opção realmente apavorante, quanto dos que buscarem uma experiência ímpar que poucos suspenses são capazes de conferir. Assustadora. Impactante. Maravilhosa!
Nota: 9.0
Excelente análise! O filme é qualquer coisa de extraordinário e mesmo com o seu orçamento modestíssimo, a cinematografia do filme consegue ser brilhante e inovadora. Os actores estão igualmente fantásticos. Em suma, é um filme 5*.
ResponderExcluirSarah
http://depoisdocinema.blogspot.com
Obrigado, Sarah. Fico lisonjeado com o elogio. Realmente Os Outros é um suspense extraordinário, que merece ser visto como único, ímpar. Por isso estabeleci uma distinção com O Sexto Sentido (outro filme maravilhoso), para que notem que cada um se sai bem no que cumpre, jamais plagiando, ou imitando padrões do outro.
ResponderExcluir5 Estrelas mesmo. (:
Excelente filme mesmo!
ResponderExcluirUma das melhores atuações de Kidman.
Mas fico com O Sexto Sentido!
Realmente é um filme espetacular e não está na lista de '1001 Filmes Para Ver Antes De Morrer' que comentamos, para nós uma grande falta e falha da lista. Merece nota máxima, e o final é inacreditavelmente inimaginado. Fantástico!
ResponderExcluirFantástico. quem não assistir do começo e não observar bem, vai ficar batido.É pra ver e entender. O filme é Espírita.
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