Prendam a respiração. Façam um pedido. Contem até três.
O poder da criação imaginativa é realmente infinito, todos os nossos sonhos mais profundos podem ser projetados apenas com essa capacidade mental, da mesma forma que com este dom um mundo pode ser feito e desfeito em questão de minutos, basta, para tanto, imaginar e está feito. Na área cinematográfica, uma das criações mais inventivas já construídas é a clássica obra realizada por Mel Stuart, que explora, acima de tudo, a simplicidade, e faz dela item principal para conquistar todo e qualquer público. Assistir a um filme como A Fantástica Fábrica de Chocolate (Willy Wonka and the Chocolate Factory, 1971) é como abrir um portal a própria infância; uma passagem secreta para nossa mente e imaginação, visualizando em tela tudo que sempre pairou em nossos sonhos mais pessoais.
A pura imaginação é a base para essa obra ser concretizada, uma vez que a trama em si envolve as realizações mais pessoais de uma criança, apresentando de maneira genuína a natureza de uma criança, seus defeitos, virtudes e, sobretudo, sua pureza. Isso porque, mesmo que a índole de determinados personagens da trama seja discutível, é nítido que o filme procura justificar a malcriação das crianças não como falha delas próprias, mas um problema encontrado no seio familiar, na criação que seus pais lhes deram, desde a menina arrogante e mimada que não recebeu a educação adequada de seus responsáveis até o menino viciado em televisão, que claramente sofre de carência afetiva dos pais. Desse modo, A Fantástica Fábrica de Chocolate, mesmo sendo rotulada como um ingênuo filme infantil, possui mais significados e referências do que se pensa, e, mesmo que seu público-alvo sejam as crianças, somente mentes mais maduras poderão apreciar todos os seus predicados devidamente.
A história é baseada na obra literária de Roald Dahl também responsável pelo roteiro, e narra a trajetória da família Bucket, que vive de modo miserável desde que o pai falecera, então para garantir o sustento do lar, a mãe trabalha lavando roupas, enquanto seu filho Charlie (Peter Ostrum), ganha trocados entregando jornais pela cidade. O garoto nutre o sonho de conhecer a misteriosa fábrica de chocolates Wonka, que desde que seu dono (Gene Wilder) resolveu se isolar da sociedade, fez com que a única ligação que sua empresa possua com o mundo exterior seja na exportação de seus doces. Um dia, porém, é anunciado que o proprietário daquele enigmático local pretende deixar cinco crianças entrarem, para serem guiadas por todo um dia de diversão, conhecendo os segredos que lá habitam, dessa forma, o excêntrico chocolateiro esconde cinco cupons dourados em suas barras de chocolate, e as pessoas que os encontrarem terão a sorte de visitarem a fábrica.
O filme nada mais é que uma fábula moderna, que apresenta o universo sobre a visão pura de uma criança, seus desejos e vontades mais íntimas, bem como sua obstinação para alcançá-los. Não há complexidades. Não há intricamentos. O único recurso utilizado pelo filme é sua narrativa de conto de fadas, que se espelha em seu público-alvo para desenvolver sua magia, uma vez que todas as crianças sonham em um dia conhecer um mundo encantado como tal fábrica de chocolates, dessa forma, a obra ganha mais brilho, já que, mais que aguçar as vontades de sua platéia infantil, desperta nos mais velhos sua criança interior de um modo único. Dessa forma, durante toda a projeção do longa, tornamo-nos crianças, ansiosas, sonhadoras e imaginativas.
O filme estabelece compromisso apenas com a imaginação, na fábrica de chocolates tudo é apresentado da maneira mais excêntrica e criativa possível; figuras improváveis (os Oompa Loompas), cenários mirabolantes, tudo, absolutamente tudo, é fruto da interação entre a imaginação do autor e a nossa própria, de modo que, só é possível apreciar de fato esta obra se, durante seus 100 minutos de projeção, acreditar realmente que ela existe, crer em sua mente, assim como a magia presente na figura do Papai Noel. Esse é o intuito de A Fantástica Fábrica de Chocolate, aguçar a imaginação de seu público, usando para isso truques como a surrealidade e inverossimilhança de certos eventos apresentados.
Através de sua doçura e magia, A Fantástica Fábrica de Chocolate já tornou-se um clássico infantil absoluto no cinema, possivelmente um dos melhores e mais inventivos filmes já realizados em Hollywood. Uma obra que, além de unir as dimensões do primor visual e do entretenimento positivo, preza o valor de sua magia para promover o encanto de seu público-alvo e a nostalgia da platéia mais velha; méritos que fazem deste um filme que certamente continuará a transmitir sua magia para mais e mais gerações, por tempo indeterminado.
Nota: 9.0
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