Para uns ele não passa de um filminho para criança, para outros ele é um drama legal, assim como para alguns é um grande filme. Seja como for, há algo de incontestável em O Jardim Secreto: é um filme lindo, tocante e de inesperada profundidade. E o motivo de tantas opiniões diversas é pelo fato da obra conter diversas facetas, todas disfarçadas por uma simples história.
Nessa história, ocorrida no início do século XX, conhecemos Mary Lennox, garota rica que mora na Índia, criada por sua Ayah. Seus pais, poderosos e boêmios, não lhe dão atenção e pouco se importam com seu bem estar. A vida de Mary muda quando um terremoto mata seus pais e ela é obrigada a ir morar na casa de um tio desconhecido na Inglaterra. Sem ter a oportunidade de conhecer seu tio pessoalmente, Mary agora está sobre os cuidados de uma ignorante e mal humorada governanta. O terreno da propriedade de seu tio é imenso e incalculável, levando a garota a se aventurar pelo lugar, descobrindo acidentalmente um jardim cercado por um muro trancado. Determinada a entrar no jardim secreto, Mary acaba conhecendo a existência de um primo na mansão, filho da irmã gêmea de sua mãe. O menino é cheio de doenças e extremamente mimado, sendo tão paparicado pela criadagem que nunca aprendeu a andar e nunca saiu de seu quarto escuro, mesmo tendo a mesma idade de Mary. Aprendendo a lidar com seu primo e fazendo amizade com outro menino da criadagem, Mary agora terá o apoio destes para descobrir todos os segredos guardados naquele misterioso jardim.
Um dos motivos da história ser tão diferente e até mesmo exótica é o fato dos personagens principais serem crianças incomuns. Ao contrário da maioria dos filmes infantis protagonizados por crianças, esse filme atribui aos personagens centrais características adultas. Mary e seu primo são apáticos, infelizes e cheios de traumas, mostrando certa maturidade ao lidar com os assuntos que surgem. Alguns aspectos infantis também os rodeiam, mas nem tais aspectos são positivos, como o fato de serem mimados e mal criados. Acima de tudo, são personagens misteriosos e dúbios, causando grande curiosidade em quem assiste.
A composição dos personagens centrais merece grande atenção. Colin, primo de Mary, é um dos personagens mais diferentes já criados. Ele tem em torno de nove anos, mas não sabe andar, exerce a maior autoridade na mansão quando seu pai não está, mas ao mesmo tempo é frágil e doentio, enquanto apresenta sentimentos tão fortes. Quando conhece Mary, a vida infeliz de Colin pode mudar, principalmente quando fica sabendo da existência do tal jardim secreto.
O jardim secreto é tão forte na história que poderia ser considerado um personagem vivo. A maior beleza do filme se encontra nele, pelo motivo dele representar tantas coisas. Ele retrata um mundo perfeito na vida daquelas crianças sofridas, uma válvula de escape para todo o sofrimento do mundo exterior. Sua beleza natural e seu jeito exótico e misterioso são tão poderosos que são capazes de emocionar apenas com seu silêncio. Retratando um mundo ideal, o jardim secreto também mostra a verdade por trás dos segredos, o poder por trás dos mistérios.
A parte técnica do filme merece também grande destaque. A fotografia é exuberante e impecável, mostrando com exatidão paisagens florais e campestres, assim como as paisagens exóticas da Índia nas primeiras cenas (se bem que tais paisagens não foram de fato filmadas na verdadeira Índia). As posições de câmera nos permitem ver de diversos ângulos as paisagens, principalmente o jardim, nos ajudando a encará-lo com o mesmo respeito que os outros personagens. A recriação de época e o figurino são também de grande beleza e impacto. É um filme baseado na obra de Frances Hodgson Burnett e teve outra versão cinematográfica feita em 1949 sob a direção de Fred M. Wilcox.
Outro motivo para tanta beleza é a direção precisa de Agnieszka Holland, além da participação do poderoso Francis Ford Coppola como produtor executivo. Caroline Thompson, roteirista de "Edward Mãos de Tesoura" (Edward Scissorhands, 1990), assina também pela adaptação do roteiro dessa obra. Tantas coisas boas num só filme tinham de levar algum reconhecimento. A atriz Kate Maberly, que interpreta Mary, foi premiada com o London Critics Circle Film Awards. Já a atriz Maggie Smith recebeu uma indicação ao BAFTA na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.
A mistura de elementos complexos num contexto infantil torna O Jardim Secreto um dos filmes de drama mais realista e agradáveis, cheio de coisas boas de ver e ouvir. Talvez tenha caído no esquecimento com o passar dos anos, mas para quem teve a oportunidade de vê-lo na infância com certeza é um filme inesquecível. E para aqueles que ainda não o viram, não se preocupem, ele continua igualmente belo depois de tantos anos.
Nota: 8.0
Amo esse filme, lembro muito da minha infância... Ele também tem uma versão em animação
ResponderExcluirUm pouquinho de nostalgia não faz mal a ninguém certo?
ResponderExcluirhttp://icenema12.blogspot.com