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segunda-feira, 13 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe (2011)


É quase um dom à parte de um cineasta conseguir transpor para as telas filmes de super heróis sem cair no constrangimento, ou na cafonice ou no lugar-comum. O motivo, portanto, que diferencia esse novo filme da franquia X-Men da grande maioria de seus colegas é seu diretor, que foi visionário ao estabelecer novas prioridades para os filmes do gênero. Agora não são os super poderes o grande centro das atenções, mas sim os conflitos internos dos personagens, dotados de uma carga dramática bem construída, de modo que suas habilidades são apenas consequência disso. Conhecer a origem dos dois grandes personagens principais da história baseada nos quadrinhos da Marvel, Charles Xavier e Magneto, é a chave encontrada pelo diretor Matthew Vaughn para fazer o público enxergar o ser humano por trás daqueles mutantes e, consequentemente, visualizar uma trama séria e longe daquelas fantasiosas que fizeram a má fama do gênero.

Primeiramente é preciso entender as origens do grande vilão dos X-Men, Magneto. Depois de passar inúmeros traumas em um campo de concentração na Alemanha nazista, o pequeno Erik acabou descobrindo seu poder de controlar com sua mente qualquer objeto metálico e, para isso, teve que ver sua mãe sendo morta pelo terrível cientista Sebastian Shaw, que também realizou infinitos experimentos em seu corpo. Na outra ponta temos a infância feliz e livre de complicações do telepata Charles Xavier, que ainda jovem fez amizade com a órfã Raven Darkholme (Mística). O destino desses dois homens opostos se cruzará durante os momentos de tensão silenciosa da Guerra Fria, em que os mutantes exercem uma grande relevância nesse filme. Unidos para impedir um grande desastre nuclear e ao mesmo tempo recrutar e auxiliar outros mutantes, Charles e Erik se mostrarão inseparáveis, até o momento em que suas ideologias e opiniões começarem a se divergir e se transformar numa inesperada rivalidade.

O que há de mais interessante nesse meio todo é a humanização que os personagens ganharam, agora inseridos em contextos históricos de suma importância para a humanidade. Os mutantes não são retratados como seres abomináveis e longe de nossa compreensão. Pelo contrário, possuem os mesmo sentimentos que todos nós e estão agora assustados diante de uma ameaça nuclear. Movidos por ideologias e por indignações perante a sociedade, seus poderes serão apenas uma forma de extravasar suas frustrações perante seus problemas. Agora não se trata de quem tem o poder "mais legal", mas sim de quem possui as motivações corretas para agir dentro de uma sociedade dividida. Magneto é impulsionado pelo ódio que nutriu em seu coração desde a infância e pela vontade de se vingar do Dr. Shaw, tendo em mente que os mutantes devem dominar a raça humana para não serem excluídos e dominados pelas autoridades. Charles, por outro lado, deseja recrutar mutantes para ajudá-los a lidar com as complicações de serem diferentes e para inseri-los na sociedade como pessoas comuns, que podem conviver normalmente com outras pessoas. Ou seja, enquanto Charles deseja romper as barreiras entre mutantes e humanos comuns, Magneto visa justamente as impor.


Diante de um enredo de tamanha qualidade, certamente bem acima da média para a franquia, o diretor então não se preocupou tanto com efeitos especiais (embora estes sejam ótimos), mas sim com a composição dos personagens e a construção de seu universo. Com direito a pequenas alteradas na História da Guerra Fria (que devem ser aceitas pelo público sem ceticismo, já que se trata, antes de tudo, de uma ficção), tudo foi muito bem detalhado e bem conduzido pela direção madura de Vaughn. Primeiramente na escolha do elenco, com direito a participação do excelente James McAvoy na pele de Charles Xavier, e com uma excepcional atuação do ainda desconhecido (por pouco tempo, esperemos) Michael Fassbender como Magneto. Além deles temos a recém indicada ao Oscar Jennifer Lawrence na pele de Mística (personagem que também ganha uma ótima exposição), da bela e gelada January Jones interpretando uma perversa cientista telepata que também consegue se cristalizar, e um Kevin Bacon inacreditavelmente inspirado, depois de anos longe de papéis interessantes, como Dr. Shaw. Afinados e em plena sintonia, esse elenco conduz o filme de maneira exemplar e não se deixam ofuscar pelos efeitos especiais permeados em seus personagens. Por fim temos a atenciosa reconstrução de época, essencial e decisiva para dar veracidade ao enredo.

Abordando temas tão interessantes e com personagens tão bem compostos, podemos dizer que X-Men: Primeira Classe não se vale de seu gênero para fazer sucesso. Ele é bom por conta própria e as mutações de seus personagens não são o grande motivo para isso, tratam-se apenas de detalhes enriquecedores. Assim como Christopher Nolan inovou ao transformar o universo gótico de Batman em um mundo muito mais próximo ao nosso, Vaughn fez dos mutantes mais queridos do cinema algo muito mais do que seres fantasiosos. Trata-se de uma obra definitiva, ousada, corajosa e muito bem executada, que deu um novo fôlego à franquia e que, melhor de tudo, deixou uma enorme sensação de "quero-mais" para fãs e para indiferentes. Excelente!

Nota: 8.0



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