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sábado, 30 de julho de 2011

Crumb (1994)


Por que criamos? Essa pode ser a primeira pergunta depois que entramos em contato com uma obra de arte, pois vemos o trabalho árduo de um ser humano ao expor uma ideia, um sentimento, ou um conjunto deles, por meio da modelagem de um determinado material, re-significando o que chamamos de vida. Quando estamos filmando, fotografando, desenhando, escrevendo, usamos uma linguagem para tentar “reconfigurar” uma realidade exterior à luz de pensamentos interiores, atribuindo-lhes cores, ritmos, movimentos etc.

Nos primeiros segundos de Crumb (idem, 1994, Terry Zwigoff), a câmera percorre modelos esculpidos pelo artista Robert Crumb, delineando os meandros exagerados de mulheres fortes e poderosas e homens patéticos e frustrados. Em seguida, acompanhamos o cotidiano de uma família de artistas geniais e seres humanos que vivem à margem daqueles considerados “normais”. Conhecemos seus irmãos Charles e Max, também artistas visuais, assim como esposa, mãe, filhos etc, que fazem parte deste universo em que habitam pessoas ordinárias que usam sua arte como forma de se incluir no mundo, extravasar sensações e conflitos interiores através de lápis e papel. Zwigoff tece uma obra que versa sobre pessoas marginalizadas à sua própria claustrofobia, desvelando um retrato mais feio e sincero de uma sociedade regada pelo ideal de felicidade desgastado que almeja sempre perpetuar.

Conhecendo seus processos e experiências de criação, vemos quão tênues são as linhas que separam Arte e Vida e nos fazem questionar o quão fomos estúpidos em tentar separá-las: uma dá continuidade à outra e vice-versa. Através da arte, prolongamos nossa existência através de um legado, ao mesmo tempo que conseguimos sobreviver ao expulsar nossas mazelas por meio do fazer artístico. Nessa vertente, Zwigoff também revela sua presença dentro da construção do documentário durante o longa: suas falhas em enquadramentos ou tropeções do cameraman, as recusas e ausências de determinados personagens convidados a depor, comentários sobre o processo de filmagem e, por fim, vemos o próprio artista desenhando o diretor do longa, num belo jogo metalingüístico de troca de representações.

Da mesma forma, o longa me fascina por me fazer perceber que Eu, como espectador, também participo deste jogo, em que a crítica torna-se um meio através do qual expresso sentimentos a respeito de uma determinada experiência que Zwigoff me proporciona. Mesmo com um papel diferenciado, minha arte também imprime parte de mim para quem a lê, da mesma que àqueles que tecerem comentários em relação a ela. Crumb nos revela a Arte como uma forma de ultrapassar tempo e espaço na busca por uma eternidade prometida pelo Criador, num processo que também revela o máximo de beleza que poderíamos alcançar através de nossas mãos e mentes.

Nota: 9,0


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