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sábado, 30 de julho de 2011

Um Lugar Qualquer (2010)


O cinema de Sofia Coppola é uma arte particular; uma amostra de reflexões e sensações transmitidas ao público através de cada filme apresentado; a jovem cineasta procura implantar uma alma ao seu estilo de filmar, se estabelecendo como uma diretora autoral, de identidade e personalidade própria, fazendo de sua filmografia algo distante do comercialismo e artificialismo hollywoodiano e bastante próximo de cada espectador, tocando cada qual que confere sua obra de maneira diferente e singular. Um Lugar Qualquer (Somewhere, 2010) é mais uma prova de que Sofia Coppola é uma artista que preza a união da arte e da vida, criando, a cada obra, um elo inquebrável entre a imagem virtual e o nosso cotidiano.

Embora Johnny Marco (Stephen Dorff) seja um famoso e riquíssimo astro de Hollywood, seus problemas existenciais, sua vida vazia conferem uma similaridade a realidade que vivemos. Quantos de nós, após possuirmos o que tanto desejamos ainda sentimos a falta de algo? Falta de uma coisa inexplicável na verdade, porque muitas das vezes nem ao menos sabemos qual é a peça que falta para nosso quebra-cabeça ser finalmente completado; não sabemos o que realmente necessitamos para sentir que nossa existência esta devidamente preenchida. São questionamentos pessoais e antigos que se propagam em nossa mente sem uma solução definitiva, isso porque, varia de pessoa para pessoa encontrar a peça que falta em seu jogo.

Coppola utiliza estas e outras inúmeras perguntas para aplicá-las na trama de um único ser, um badalado ator de Hollywood, que, mesmo que possua tudo em mãos, sua vida é dispersa em um vazio inexplicável, até quando sua aparece filha (Elle Fanning, ótima em seu papel) para passar uns tempos com ele. A história de vida do personagem é lapidada por Sofia de forma extremamente competente, fugindo do estereótipo do “pobre menino rico” e criando algo bem mais complexo que isso; Johnny Marco possui uma construção dramática que vai além de um simples homem infeliz, isso porque, a diretora desenvolve o filme de uma forma que o espectador encontre-se preso no mesmo vácuo que se formou a vida do protagonista; sentimos a mesma angústia e solidão que sente o personagem, pois mergulhamos em seu mundo, onde quase toda a narrativa do filme se curva ao silêncio, a tristeza e a melancolia, e a poucos espaços para momentos realmente felizes e reluzentes.


Um Lugar Qualquer anda de mãos dadas com Encontros e Desencontros ([Lost in Translation, 2003] obra-prima máxima da diretora), e assim como no filme anterior, os personagens aqui adentram numa profunda e inexplicável solidão, além do que, em ambos os filmes os protagonistas encontram-se em nações e territórios diferentes de sua terra natal, mostrando que em meio a lugares desconhecidos, a sensação de vazio se eleva ainda mais. Enquanto Encontros e Desencontros ambienta sua trama em território nipônico, Um Lugar Qualquer coloca seus pés na Itália, e ainda que dêem ênfase as belezas e atributos de cada qual destes locais, os filmes apresentam humanos “perdidos” em meio a um vasto lugar, onde o estranhamento e a infelicidade pairam sobre eles, e o famoso ditado “'Não há lugar como o nosso lar” é interpretado pelos filmes de uma forma ainda mais profunda e honesta.

Coppola conta sua história de forma poética, deixando as imagens e as situações falarem mais que qualquer palavra pronunciada , por isso que em Um Lugar Qualquer há vários momentos que o silêncio é nosso único companheiro, bem como dos personagens que vivem a trama. É com esse método mais artístico e emocional de se fazer cinema que Sofia Coppola se sobressai dentre os inúmeros cineastas em atividade atualmente. Um Lugar Qualquer não foge dessa regra de seu cinema e nos fornece momentos de pura e singela beleza (veja, por exemplo, as linda cenas em que há um interação entre o pai e a filha), declarando que é nas coisas simples da vida que encontramos suas maravilhas.

Mas não é só de virtudes que se compõe Um Lugar Qualquer, e seu maior equívoco pode ser analisado justamente no último momento do filme, que além de não possuir a maturidade e beleza equivalentes ao desfecho de Encontros e Desencontros, o encerramento deste aqui revela-se infantil no ponto de tentar encontrar um escapismo do protagonista para toda aquela tristeza que o assola, dando uma lição de moral boba e desnecessária. Porém, já é tarde demais, esta falha pouco importa, pois antes de cometê-la o filme já havia nos prendido e apresentando à sua irresistível beleza.

Nota: 8.0

2 comentários:

  1. Estou louco para assistir esse filme. Iria assistir no cinema, mas infelizmente não passou pela cidade onde moro.

    Belo texto! :-)

    abs!

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  2. Se aprecia um cinema mais lento, que contempla as paisagens e faz mais uso e expressões corporais para desenvolver/estudar seus personagens, de certo vai gostar bastante.

    Obrigado pelo elogio.

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