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sábado, 30 de julho de 2011

Jogada de Risco (1996)


Paul Thomas Anderson tem se consagrado como um dos melhores cineastas do cinema norte-americano contemporâneo, concebendo belas obras como Boogie Nights (1997), Magnolia (1999), Embriagado de Amor (2002), Sangue Negro (2007) e conseguindo sempre excelentes comentários a respeito de sua escrita fílmica intrincada e elegante.

Ao analisar seu primeiro longa-metragem, Jogada de Risco (Hard Eight / Sydney, 1996, Paul Thomas Anderson), percebe-se claramente alguns dos elementos que o consagraram como contador de histórias. Versando sobre Sydney, um jogador veterano de cassino, que, numa situação atípica, empresta a até então um desconhecido, John Finnegan, 150 dólares para que ele aprenda as artimanhas dos jogos de azar. Quando se pensa que encontraremos a cartilha Rain Man, ela cede lugar para personagens fascinantes como a bela e frágil garçonete Clementine e o desbocado segurança Jimmy, que compõem um cínico e interessante retrato do ambiente humano dos jogos.

Com essa história aparentemente simples, Anderson tece um roteiro que trabalha a imprevisibilidade ao apresentar os personagens no momento do primeiro ponto de virada da narrativa, fazendo com que o público desconheça os objetivos das personagens e acompanhando gradativamente seus próximos passos. Além de um roteiro bem construído, a direção de Anderson revela-se através da elegante movimentação de câmera e do aprofundamento na caracterização das personagens, imprimindo personalidades completamente distintas e cativantes a cada uma delas ao longo da trama. Com uma montagem dinâmica e uma trilha sonora bem escolhida e disposta, Anderson emprega elementos do gênero noir para surpreender o espectador, que mergulha abruptamente em um enredo em que pouco se sabe sobre seus personagens. Em seu elenco, um quinteto de excelentes atores dá vida a personagens intrigantes: Philip Baker Hall trabalha com calma e firmeza seu Sydney; Gwyneth Paltrow explora a delicadeza e a malícia de Clementine; John C. Reilly confere insegurança e desespero ao jovem John; Samuel L. Jackson oferece ao seu Jimmy o ritmo e a esperteza das ruas; e, finalizando, uma participação especial de Philip Seymour Hoffman como um jogador que provoca constantemente Sydney na mesa de apostas.

Através destas características estéticas, percebe-se um tema que perpassa todos os longas do cineasta: a formação ou a dissolução de laços familiares incomuns. Explico: em Boogie Nights, uma equipe de produção de filmes pornôs torna-se quase uma família liderada pelo seu diretor e por uma atriz veterana; em Magnolia, diversos laços familiares são desfeitos e refeitos ao longo da narrativa entrecruzada; em Embriagado de Amor, o protagonista vivido por Adam Sandler desespera-se na busca por um relacionamento que o tire de sua vida solitária; em Sangue Negro, constrangemo-nos e nos enraivecemos com a paternidade estranha de Daniel Plainview, que, mesmo investindo sua vida na busca pela riqueza solitária, cultivava pelo seu filho um meio de comunicação com o mundo, perdido pela surdez que o menino desenvolveu em certo ponto do enredo.

Como se costuma dizer pelos corredores desse mundo artístico, todos os artesãos da narrativa contam sempre uma mesma história, dividida ou multiplicada em suas diversas obras. Mesmo que funcione mais como um exercício para seus longas posteriores, este longa possui suas qualidades como drama e policial ao revelar a promessa do grande cineasta que Anderson se tornaria.

Nota: 8,5

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