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domingo, 31 de julho de 2011

Desconstruindo Harry (1997)


É realmente uma tarefa complicada realizar um estudo de personagens que seja, ao todo, completo e orgânico. Entretanto, realizar a exploração de suas "crias" por meio de velhas artimanhas pode até trazer resultados excelentes se feitas com muita perícia, mas ainda falta a autenticidade. Pois bem, todas essas características positivas são alcançadas por Woody Allen em Desconstruindo Harry.

Harry Block(Allen) é um escritor de romances que sempre possuem toques auto-biográficos, mas percebe que utilizar a sua vida como história acaba por afetar todas as pessoas com quem convive, afinal, estes também são personagens de seus romances.

Uma grande metáfora é realizada com o nome do personagem. "Block" dá a noção de "bloqueamento" e é perceptível que o protagonista esteja passando por uma fase de bloqueio criativo. Até mesmo nesses detalhes, há um cuidado para o desenvolvimento dos personagens.


A utilização da premissa fica muito mais interessante pelo fato de que Allen está disposto a transcender todas as noções de espaço e tempo para que seja realizado um aprofundamento cada vez mais completo sobre o caráter de Harry Block. Sempre alternando entre os momentos pelos quais Block passa, os "flashbacks" de sua vida e passagens de seus livros que, na verdade, contam sobre sua vida. Quando Allen decide cruzar dois desses universos, aí a trama realmente começa a ganhar um ar mais fantástico e nos remeter ao ótimo Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, mas ganhando um aspecto até mais bem articulado e justificado.

Notavelmente, a criação de alter-egos do personagem principal pode até causar certa confusão, aliás, excelente escolha de chamar figuras como Stanley Tucci e Robbin Williams para interpretar suas personalidades alternativas. É claro que, apesar de Harry ser um escritor da Sexta Arte(literatura), trata-se de uma semi-auto-biografia de Allen, afinal, até mesmo Allen parece estar descobrindo sobre si mesmo com a criação de um universo mais expandido sobre si mesmo. A metalinguagem presente no filme funciona tão bem que é possível que acabemos esquecendo que se trata de uma obra ficcional com toque autobiográficos, esta é a dimensão da imersão à que somos impostos pela genialidade da obra.

Muito do que vemos em seus filmes passados, principalmente o citado acima, encontra-se mais bem usado e inserido de uma forma mais criativa e divertida. Quando Allen realiza citações de acontecimentos na vida de Block nos diálogos, mas, somente depois de um tempo, vem a apresentar as cenas que ilustram os fatos citados nas falas dos personagens, notamos o quanto é impressionante a fixação mental de até pequenos detalhes, pois, mesmo sendo citados de forma rápida durante os diálogos, as cenas acabam se conectando e a percepção do espectador é realçada fazendo com que a percepção do espectador seja despertada e nos faça notar nos menores detalhes sem muitos enigmas.


Poderia parecer certa arrogância Allen querer interpretar o personagem principal, mas tudo tal feito é perfeito para que a atmosfera metalinguística se complete. Afinal, é uma obra lotada de alter-egos e Allen, interpretando uma personalidade de si mesmo, nos faz entender que não trata-se de uma obra se restringe aos limites da tela, mas consegue dar uma noção de dimensão ainda maior para a trama. É nítido que se colocar no papel de protagonista foi uma decisão para fazer que a relevância da obra fosse maior e, logo, torna-se um prato cheio para o fascinados por existencialismo.

Fantástico como cada personagem possui um traço da personalidade de seu autor. Não existe nenhuma figura que não pareça não ter a marca registrada de Allen. É como um documentário que vaga por sua mentalidade e faça com exista maior curiosidade sobre este cineasta que transforma as comédias em obras complexas e que façam o cinema valer a pena cada vez mais.

O único defeito que encontro no filme fora seu desfecho. Não que tenha sido ruim, aliás tem uma ideia muito boa, mas poderia ter ficado mais aprofundado. No entanto, vejo que foi um final satisfatório para uma obra-prima dessas.

Como podem ver, é um filme de auto-análise, tanto que abordei Allen em todos os parágrafos. Foi realmente um grande prazer poder descobrir mais sobre a personalidade desse gênio pela Sétima Arte.

Nesta obra, vejo da onde Charlie Kaufman teve sua ideia para Adaptação. Tanto ele quanto Allen trabalham com fragmentos de suas personalidades para estudarem a própria existência, mas acredito que ninguém faça isso tão bem quanto Allen. "Desconstruindo Harry" poderia se chamar, parafraseando as palavras de Rodrigo Cunha, "Desconstruindo Allen".

Genial, sem mais.


Nota: 9.5

2 comentários:

  1. Olá, gostei do seu blog por falar sobre filmes novos e antigos, e concordo muito com sua opinião sobre o filme do capitão america. Acompanho o blog, e gostaria apenas de dar uma sugestão: Há muita informação no design, vocês poderiam reduzir para facilitar a leitura. Parabéns mesmo assim pelo trabalho.

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  2. É impressionante como cada vez mais me torno fã de Woody Allen!
    Desconstruindo Harry é mais uma obra-prima desse genial ator/diretor. Um elenco de primeira, roteiro espetacular. Ótimo!

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