Este é o último filme da saga para você, Daniel. Sabe o que isso significa? Desemprego! |
Não há nada pior do que ir para uma
sessão de cinema com altíssimas expectativas. Nada pior. Por mais que almejemos
coisas muito acima do que elas realmente são – ou podem ser – sempre nos
esquecemos que estamos em um mundo repleto de imperfeições. Buscamos ídolos
(alguns buscam deuses), perseguimos sonhos desnecessariamente gigantescos,
adotamos ideais e estilos exemplares de vida. Tudo isso acaba nos distraindo
para o simples e estarrecedor fato de que este mundo – por mais que tentemos
pintá-lo de cores alegres – é muito mais severo e frio do que gostaríamos. Não
tem graça, e não é para ter.
Nos últimos dias, eu – assim como
quase todos os cinéfilos e críticos do mundo – fui acometido por mais uma
dessas ilusões de grandeza e perfeição que tantas vezes nos atacam para nos
afastar, em sossegado comodismo, das imperfeições da realidade. Eu me abracei
fielmente à pottermania. Mesmo
odiando os últimos três filmes da série – coisa que comentarei mais adiante –
eu me deixei levar por mais um arroubo de esperança. Afinal, é o evento da
década! O cinema talvez se lembre do dia quinze de julho como “O Dia em que
Harry Potter Acabou”. Se brincar, teremos um feriado nacional. E muitos se
celebrarão esse dia com luto, entristecidos pelo fim de uma saga que marcou
suas vidas. Outros poucos – pouquíssimos, ao que parece – olharão para este dia
com leve alívio, pois foi o dia em que finalmente acabou um grande e inútil
circo. Eu faço parte destes últimos.
Mesmo jamais sendo um grande fã da
série – meus tempos de tiete morreram quando eu tinha uns quinze anos, e
acompanhei o resto dos livros apenas por desencargo de consciência – eu me
enchi de esperança e excitação para acompanhar este último filme da saga. Em
parte porque amo grandes eventos do cinema. Quase enlouqueci, por exemplo, no
lançamento de “O Retorno do Rei” – um
filme que, diferente deste, não frustrou minhas mais do que altíssimas
expectativas. Em outra parte, porque os dois primeiros “Harry Potter” foram, de fato, muito marcantes para minha infância
(todos os outros foram... bem, não foram nada). E, principalmente, porque o
mundo – tanto os críticos quanto os espectadores casuais – caíram em adoração
perante este “As Relíquias da Morte –
Parte 2”. No meio crítico, é um filme mais adorado do que – pasme! – “Meia Noite em Paris” (só para lembrar,
uma obra-prima)! E eu, duvidando que tudo isso fosse uma histeria coletiva, fui
para o cinema com as esperanças lá em cima: esperava ver um épico. Esperava
presenciar batalhas tão poderosas quanto a dos Campos de Pellenor! Eu
esperava... pô, eu esperava tudo!
São tão poucos os momentos inspirados com o trio principal que chega dá desgosto... |
E aí, depois de agüentar trinta
minutos dentro de uma sala repleta de fãs histéricos e sem um pingo de
educação, o filme começa. Qual é o problema de “As Relíquias da Morte – Parte 2”? Ele simplesmente não é nem metade
daquilo que dizem dele: a história – como todo “Harry Potter” que se preze – é
ora confusa, ora clichê. As batalhas vivem no “modo automático”. O drama começa
glorioso e depois se perde em mais clichês. Os personagens são dispensáveis – e
o alto número de mortes sem qualquer pingo de emoção é prova disso. Não estou
dizendo que este “Harry Potter” seja ruim. Só estou dizendo que não é ótimo. Na
verdade, não é nem bom. “Legalzinho” é o termo mais correto.
Se eu pudesse cortar o que deu errado
do que deu certo no filme, cortaria toda a segunda metade e a arremessaria em
uma cesta de lixo. A primeira metade do filme conseguiu manter muito bem minhas
expectativas: apesar da seqüência insatisfatória no Banco Gringottes, ela foi muito
boa. Desde as preparações para a batalha até a fantástica recapitulação da
memória de Snape – onde finalmente conhecemos quem ele era de verdade – eu
estava muito, mas muito satisfeito. O clímax pelo qual eu tanto esperava estava
por vir!
Devo admitir que a cena com as estátuas que ganham vida foi bem legal. |
Não veio. Há certas coisas que jamais
mudam: “Harry Potter” nunca será uma obra-prima. Não é de sua natureza! Pelo
amor dos céus, basta olhar o livro no qual o filme se inspira! A única forma de
transformar o filme em algo excepcional é dando um sumiço em J. K. Rowling e
reescrevendo toda a obra! Tanto por questões artísticas quanto por falhas de
roteiro e direção, a segunda metade deste filme vai afundando lenta e
progressivamente. Em poucas palavras: um balde de água fria. Se o roteiro se
sustentava bem até aqui, não consegue mais mascarar a superficialidade bobinha
de sua obra original: todo o resto é apenas uma seqüência de cenas vazias,
forçadas e tolas. É difícil saber por onde começar...
Vale lembrar que o que vou dizer não
se restringe apenas à segunda metade. Porém, é mais freqüente nela.
As batalhas são um longo e constante
anti-clímax. A produção simplesmente pegou uma cartilha de “Como Fazer uma
Batalha Épica” e seguiu todos os clichês de sempre: luzes, explosões, barulho,
uma cena aérea aqui e acolá, e depois mais luzes, explosões, barulho... Closes
nos personagens principais, correndo no meio do caos, para dar algum drama.
Cenas rápidas de “mocinhos” morrendo. Alguns monstros aqui, mais umas explosões
ali... A batalha em si, ou seja, aquela que se inicia quando o escudo mágico de
Hogwarts desmorona, não tem o mínimo resquício de personalidade. É oca, sem
vida, infrutífera. Um mero pano de fundo.
"Harry Potter" acabou! Lancem fogos de artifício: boom! |
A história, por mais enxuta que possa
estar – se comparada ao livro –, ainda é um caos. Por isso, muitos momentos são
necessários para que os próprios personagens recapitulem o que estão fazendo –
e lembrem a platéia disso. Mas isso nem importa muito, pois a própria história,
mesmo para os padrões da fantasia, é difícil de engolir. Só mesmo os muito fãs
da saga vão deixar passar a maluquice que são os Horcruxes, as Relíquias da
Morte e sei lá mais o que saiu da cabeça infantilóide de J. K. Rowling! Nunca
engoli os Horcruxes, na verdade, pois eles sempre em pareceram uma tentativa
desesperada da escritora de explicar o carnaval em que sua obra tinha se
transformado: ver o trio principal correndo atrás de “pedaços da alma” de
Voldemort não é coisa para um filme, mas para um game de segunda categoria: “conquiste esse, esse e esse objetivo
para poder destruir o chefão!” Ridículo.
O filme, tão aclamado por suas
“ótimas” atuações, na verdade tem tantos momentos “vergonha-alheia” que nem
mesmo os fãs que estavam em minha sessão deixaram passar em branco. O povo ria
onde devia chorar. Fazia troça onde era, supostamente, para ficar sério. E
isso, tenho que admitir, não é balbúrdia de adolescentes: é problema do filme
mesmo. Na cena da “morte” de Harry (isso não é spoiler! Convenhamos: todo mundo
já sabe como o filme termina!), em que Voldemort tinha que gritar apenas “Avada kedavra”, ele o faz de um modo tão
cômico (parece que está bocejando) que os risos foram inevitáveis. Ralph
Fiennes, aliás, foi dono de outro grande mico: a risadinha que ele dá ao se
vangloriar da “morte” de Harry... sério, até agora eu não sei se foi
intencional ou se foi mesmo falta de noção dos roteiristas. O retrato do
“além”, logo após a morte de Harry, é também ridícula de tão clichê: uma
paisagem neutra, etérea, cheia de luzes, toda em branco. Sério, será que os
produtores não conseguiram ser nem um pouquinho mais criativos?!
Todo o filme, principalmente nos seus
minutos finais, está repleto de discursos açucarados e momentos clichês.
Ressurreições milagrosas, frases de efeito, cenas em slow-motion, beijos, choros... tudo falso, corrido e incoerente!
Muito se diz, aliás, das várias “tristes mortes” que o filme tem. Que mortes?
Se eles se referem aos inúmeros personagens coadjuvantes, elas são tristes
apenas para os fãs e ninguém mais: à exceção de Snape, não há um único
personagem cuja morte me deixou com pena ou que causou algum grande efeito na
platéia. Nem mesmo o Voldemort! O Voldemort, poxa! A razão de existir de todo
este circo há mais dez anos! A morte de Voldemort, o ponto culminante de toda esta
salada de personagens e sub-tramas, o momento apocalíptico pelo qual meio mundo
esperava... é simplesmente frustrante! Voldemort perde, vira cinzas e pronto!
Logo depois, Harry está andando tranquilamente entre os amigos, que parecem ter
se esquecido que, alguns segundos antes, estavam entre a vida e a morte! Ele
nem demonstra qualquer reação pela morte de Voldemort. Simplesmente sai caminhando! Poxa! (a palavra
que eu pretendia usar era mais impublicável) Até mesmo o epílogo do filme é
meio-termo, mais uma cena cujo único valor sentimental vai somente para os fãs!
O pobre coitado do Neville continua sendo alvo de chacotas até mesmo quando ele deveria ser o herói! |
Odeio David Yates. Tudo que a série
tinha de inocência e fantasia foi tragado pelo seu realismo pseudo-artístico.
Tudo ficou sombrio, o que não seria um grande defeito caso não tivesse deixado
a magia – a verdadeira magia! – de lado. Yates nada mais é do que uma máquina
do produzir tédio ou – no caso deste filme – frustração. Mesmo que este “Harry
Potter” seja o melhor de sua “coleção”, ainda assim está muito aquém do que eu
esperava – ou do que o povo dizia que era. Onde eu esperava a “redenção do
diretor”, encontrei a mesma decepção de sempre. Mas talvez nem seja culpa sua:
“Harry Potter”, pela sua própria natureza rasa, jamais seria algo maior do que
um mero passatempo.
O que se salva, em fim? Não muito. “As Relíquias da Morte – Parte II” é só
mais um blockbuster “engolível”,
destes tantos que a gente vê por aí. À exceção da cena em que vemos as
“memórias” de Snape, todo o resto vai do “bom” ao “meia-boca”. Somente os fãs
poderão se considerar esta obra como algo “excelente”. Já eu, novamente
arrastado para a realidade, me desfiz de todas as ilusões que criei para o
filme. Aguardo, com curiosidade, o momento em que os outros cinéfilos também se
desfarão dela.
“Harry Potter” acabou. Já vai tarde.
E era uma vez uma escola chamada Hogwarts... |
NOTA: 6,0
Pra mim o melhor filme de Harry Potter foi O Prisioneiro de Askaban!
ResponderExcluirrapaz mas vc e muito mal amado ......sinto muito em te dizer mas harry potter e um marco e vc nao e NADA!!!
ResponderExcluirNossa que show heim ??? Eu gostei do Filme... um final perfeito
ResponderExcluirHá dois jeitos de analisar um filme assim, não só um. O lado crítico, que é imparcial, e o lado fã, que sabe de antemão todos os diálogos do filme, etc. E há ainda um terceiro lado, o lado vulgar, onde vc fala o q você quiser, sem ser imparcial, e ainda desrespeita os milhares de fãs que não precisam de lógica alguma para amar a franquia!
ResponderExcluirContagem de fãs irados com a crítica: 3 e crescendo. Mwuháháháhá! >:D
ResponderExcluirDesculpe, caro Douglas, mas eu detonei (do jeito "vulgar", no seu entender) "Transformers 2" e todo mundo apoiou. Eu detonei "O Último Mestre do Ar" e todo mundo adorou. Eu estraçalhei até mesmo "As Crônicas de Nárnia 3" e ninguém protestou. Por que "Harry Potter" (que recebeu uma nota melhor do que todos esses, aliás) deve ser "intocável"? Defeitos devem ser apontados e erros crassos, quase que intencionais, devem ser ridicularizados. Sem exceções.
"e ainda desrespeita os milhares de fãs que NÃO PRECISAM DE LÓGICA ALGUMA para amar a franquia!"
As únicas criaturas que "não precisam de lógica alguma" para fazer qualquer coisa são as acéfalas.