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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 (2011)


Este é o último filme da saga para você, Daniel. Sabe o que isso significa? Desemprego!


Não há nada pior do que ir para uma sessão de cinema com altíssimas expectativas. Nada pior. Por mais que almejemos coisas muito acima do que elas realmente são – ou podem ser – sempre nos esquecemos que estamos em um mundo repleto de imperfeições. Buscamos ídolos (alguns buscam deuses), perseguimos sonhos desnecessariamente gigantescos, adotamos ideais e estilos exemplares de vida. Tudo isso acaba nos distraindo para o simples e estarrecedor fato de que este mundo – por mais que tentemos pintá-lo de cores alegres – é muito mais severo e frio do que gostaríamos. Não tem graça, e não é para ter.

Nos últimos dias, eu – assim como quase todos os cinéfilos e críticos do mundo – fui acometido por mais uma dessas ilusões de grandeza e perfeição que tantas vezes nos atacam para nos afastar, em sossegado comodismo, das imperfeições da realidade. Eu me abracei fielmente à pottermania. Mesmo odiando os últimos três filmes da série – coisa que comentarei mais adiante – eu me deixei levar por mais um arroubo de esperança. Afinal, é o evento da década! O cinema talvez se lembre do dia quinze de julho como “O Dia em que Harry Potter Acabou”. Se brincar, teremos um feriado nacional. E muitos se celebrarão esse dia com luto, entristecidos pelo fim de uma saga que marcou suas vidas. Outros poucos – pouquíssimos, ao que parece – olharão para este dia com leve alívio, pois foi o dia em que finalmente acabou um grande e inútil circo. Eu faço parte destes últimos.

Mesmo jamais sendo um grande fã da série – meus tempos de tiete morreram quando eu tinha uns quinze anos, e acompanhei o resto dos livros apenas por desencargo de consciência – eu me enchi de esperança e excitação para acompanhar este último filme da saga. Em parte porque amo grandes eventos do cinema. Quase enlouqueci, por exemplo, no lançamento de “O Retorno do Rei” – um filme que, diferente deste, não frustrou minhas mais do que altíssimas expectativas. Em outra parte, porque os dois primeiros “Harry Potter” foram, de fato, muito marcantes para minha infância (todos os outros foram... bem, não foram nada). E, principalmente, porque o mundo – tanto os críticos quanto os espectadores casuais – caíram em adoração perante este “As Relíquias da Morte – Parte 2”. No meio crítico, é um filme mais adorado do que – pasme! – “Meia Noite em Paris” (só para lembrar, uma obra-prima)! E eu, duvidando que tudo isso fosse uma histeria coletiva, fui para o cinema com as esperanças lá em cima: esperava ver um épico. Esperava presenciar batalhas tão poderosas quanto a dos Campos de Pellenor! Eu esperava... pô, eu esperava tudo!

São tão poucos os momentos inspirados com o trio principal que chega dá desgosto...

E aí, depois de agüentar trinta minutos dentro de uma sala repleta de fãs histéricos e sem um pingo de educação, o filme começa. Qual é o problema de “As Relíquias da Morte – Parte 2”? Ele simplesmente não é nem metade daquilo que dizem dele: a história – como todo “Harry Potter” que se preze – é ora confusa, ora clichê. As batalhas vivem no “modo automático”. O drama começa glorioso e depois se perde em mais clichês. Os personagens são dispensáveis – e o alto número de mortes sem qualquer pingo de emoção é prova disso. Não estou dizendo que este “Harry Potter” seja ruim. Só estou dizendo que não é ótimo. Na verdade, não é nem bom. “Legalzinho” é o termo mais correto.

Se eu pudesse cortar o que deu errado do que deu certo no filme, cortaria toda a segunda metade e a arremessaria em uma cesta de lixo. A primeira metade do filme conseguiu manter muito bem minhas expectativas: apesar da seqüência insatisfatória no Banco Gringottes, ela foi muito boa. Desde as preparações para a batalha até a fantástica recapitulação da memória de Snape – onde finalmente conhecemos quem ele era de verdade – eu estava muito, mas muito satisfeito. O clímax pelo qual eu tanto esperava estava por vir!

Devo admitir que a cena com as estátuas que ganham vida foi bem legal.

Não veio. Há certas coisas que jamais mudam: “Harry Potter” nunca será uma obra-prima. Não é de sua natureza! Pelo amor dos céus, basta olhar o livro no qual o filme se inspira! A única forma de transformar o filme em algo excepcional é dando um sumiço em J. K. Rowling e reescrevendo toda a obra! Tanto por questões artísticas quanto por falhas de roteiro e direção, a segunda metade deste filme vai afundando lenta e progressivamente. Em poucas palavras: um balde de água fria. Se o roteiro se sustentava bem até aqui, não consegue mais mascarar a superficialidade bobinha de sua obra original: todo o resto é apenas uma seqüência de cenas vazias, forçadas e tolas. É difícil saber por onde começar...

Vale lembrar que o que vou dizer não se restringe apenas à segunda metade. Porém, é mais freqüente nela.

As batalhas são um longo e constante anti-clímax. A produção simplesmente pegou uma cartilha de “Como Fazer uma Batalha Épica” e seguiu todos os clichês de sempre: luzes, explosões, barulho, uma cena aérea aqui e acolá, e depois mais luzes, explosões, barulho... Closes nos personagens principais, correndo no meio do caos, para dar algum drama. Cenas rápidas de “mocinhos” morrendo. Alguns monstros aqui, mais umas explosões ali... A batalha em si, ou seja, aquela que se inicia quando o escudo mágico de Hogwarts desmorona, não tem o mínimo resquício de personalidade. É oca, sem vida, infrutífera. Um mero pano de fundo.

"Harry Potter" acabou! Lancem fogos de artifício: boom!

A história, por mais enxuta que possa estar – se comparada ao livro –, ainda é um caos. Por isso, muitos momentos são necessários para que os próprios personagens recapitulem o que estão fazendo – e lembrem a platéia disso. Mas isso nem importa muito, pois a própria história, mesmo para os padrões da fantasia, é difícil de engolir. Só mesmo os muito fãs da saga vão deixar passar a maluquice que são os Horcruxes, as Relíquias da Morte e sei lá mais o que saiu da cabeça infantilóide de J. K. Rowling! Nunca engoli os Horcruxes, na verdade, pois eles sempre em pareceram uma tentativa desesperada da escritora de explicar o carnaval em que sua obra tinha se transformado: ver o trio principal correndo atrás de “pedaços da alma” de Voldemort não é coisa para um filme, mas para um game de segunda categoria: “conquiste esse, esse e esse objetivo para poder destruir o chefão!” Ridículo.

O filme, tão aclamado por suas “ótimas” atuações, na verdade tem tantos momentos “vergonha-alheia” que nem mesmo os fãs que estavam em minha sessão deixaram passar em branco. O povo ria onde devia chorar. Fazia troça onde era, supostamente, para ficar sério. E isso, tenho que admitir, não é balbúrdia de adolescentes: é problema do filme mesmo. Na cena da “morte” de Harry (isso não é spoiler! Convenhamos: todo mundo já sabe como o filme termina!), em que Voldemort tinha que gritar apenas “Avada kedavra”, ele o faz de um modo tão cômico (parece que está bocejando) que os risos foram inevitáveis. Ralph Fiennes, aliás, foi dono de outro grande mico: a risadinha que ele dá ao se vangloriar da “morte” de Harry... sério, até agora eu não sei se foi intencional ou se foi mesmo falta de noção dos roteiristas. O retrato do “além”, logo após a morte de Harry, é também ridícula de tão clichê: uma paisagem neutra, etérea, cheia de luzes, toda em branco. Sério, será que os produtores não conseguiram ser nem um pouquinho mais criativos?!

Todo o filme, principalmente nos seus minutos finais, está repleto de discursos açucarados e momentos clichês. Ressurreições milagrosas, frases de efeito, cenas em slow-motion, beijos, choros... tudo falso, corrido e incoerente! Muito se diz, aliás, das várias “tristes mortes” que o filme tem. Que mortes? Se eles se referem aos inúmeros personagens coadjuvantes, elas são tristes apenas para os fãs e ninguém mais: à exceção de Snape, não há um único personagem cuja morte me deixou com pena ou que causou algum grande efeito na platéia. Nem mesmo o Voldemort! O Voldemort, poxa! A razão de existir de todo este circo há mais dez anos! A morte de Voldemort, o ponto culminante de toda esta salada de personagens e sub-tramas, o momento apocalíptico pelo qual meio mundo esperava... é simplesmente frustrante! Voldemort perde, vira cinzas e pronto! Logo depois, Harry está andando tranquilamente entre os amigos, que parecem ter se esquecido que, alguns segundos antes, estavam entre a vida e a morte! Ele nem demonstra qualquer reação pela morte de Voldemort.  Simplesmente sai caminhando! Poxa! (a palavra que eu pretendia usar era mais impublicável) Até mesmo o epílogo do filme é meio-termo, mais uma cena cujo único valor sentimental vai somente para os fãs!

O pobre coitado do Neville continua sendo alvo de chacotas até mesmo quando ele deveria ser o herói!

Odeio David Yates. Tudo que a série tinha de inocência e fantasia foi tragado pelo seu realismo pseudo-artístico. Tudo ficou sombrio, o que não seria um grande defeito caso não tivesse deixado a magia – a verdadeira magia! – de lado. Yates nada mais é do que uma máquina do produzir tédio ou – no caso deste filme – frustração. Mesmo que este “Harry Potter” seja o melhor de sua “coleção”, ainda assim está muito aquém do que eu esperava – ou do que o povo dizia que era. Onde eu esperava a “redenção do diretor”, encontrei a mesma decepção de sempre. Mas talvez nem seja culpa sua: “Harry Potter”, pela sua própria natureza rasa, jamais seria algo maior do que um mero passatempo.

O que se salva, em fim? Não muito. “As Relíquias da Morte – Parte II” é só mais um blockbuster “engolível”, destes tantos que a gente vê por aí. À exceção da cena em que vemos as “memórias” de Snape, todo o resto vai do “bom” ao “meia-boca”. Somente os fãs poderão se considerar esta obra como algo “excelente”. Já eu, novamente arrastado para a realidade, me desfiz de todas as ilusões que criei para o filme. Aguardo, com curiosidade, o momento em que os outros cinéfilos também se desfarão dela.

“Harry Potter” acabou. Já vai tarde.

E era uma vez uma escola chamada Hogwarts...

NOTA: 6,0

5 comentários:

  1. Pra mim o melhor filme de Harry Potter foi O Prisioneiro de Askaban!

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  2. rapaz mas vc e muito mal amado ......sinto muito em te dizer mas harry potter e um marco e vc nao e NADA!!!

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  3. Nossa que show heim ??? Eu gostei do Filme... um final perfeito

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  4. Há dois jeitos de analisar um filme assim, não só um. O lado crítico, que é imparcial, e o lado fã, que sabe de antemão todos os diálogos do filme, etc. E há ainda um terceiro lado, o lado vulgar, onde vc fala o q você quiser, sem ser imparcial, e ainda desrespeita os milhares de fãs que não precisam de lógica alguma para amar a franquia!

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  5. Contagem de fãs irados com a crítica: 3 e crescendo. Mwuháháháhá! >:D

    Desculpe, caro Douglas, mas eu detonei (do jeito "vulgar", no seu entender) "Transformers 2" e todo mundo apoiou. Eu detonei "O Último Mestre do Ar" e todo mundo adorou. Eu estraçalhei até mesmo "As Crônicas de Nárnia 3" e ninguém protestou. Por que "Harry Potter" (que recebeu uma nota melhor do que todos esses, aliás) deve ser "intocável"? Defeitos devem ser apontados e erros crassos, quase que intencionais, devem ser ridicularizados. Sem exceções.

    "e ainda desrespeita os milhares de fãs que NÃO PRECISAM DE LÓGICA ALGUMA para amar a franquia!"

    As únicas criaturas que "não precisam de lógica alguma" para fazer qualquer coisa são as acéfalas.

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