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domingo, 3 de julho de 2011

Laços de Ternura (1983)


Na infância, ao brigar com aqueles que fazem parte do nosso círculo familiar, logo pensamos em uma solução que parece predominar tanto que virou até clichê: fugir de casa. Essa tentativa de resolver problemas dentro de casa, no entanto, mostra-se totalmente equivocada quando se percebe que, de forma alguma, o mundo externo será mais aprazível que a esfera familiar.

Laços de Ternura (Terms of Endearment, 1983, James L. Brooks) versa sobre a relação entre uma mãe exigente, Aurora Greenaway (Shriley MacLaine), e sua filha desbocada, Emma Greenaway (Debra Winger), mostrando os altos e baixos do relacionamento que ambas construíram desde o nascimento da segunda e ao longo dos anos. Enquanto Aurora sempre parece pronta a mostrar a Emma que ela sempre poderá conseguir mais da vida, Emma sempre se dispôs a se contentar com alegrias simples e cotidianas – como comprar uma gravata para seu marido e ser ajudada por um estranho no mercado. Todavia, o comprometimento de Aurora com os princípios e sonhos que reservou para sua filha extrapolam, por vezes, o bom senso, como no momento em que resolve deixar de ir ao casamento da mesma por não gostar de vê-la junto a um professor mediano por toda sua vida. Enquanto isso, crescem os filhos de Emma – Tommy, Teddy e Melanie -, sua mãe relaciona-se com seu vizinho astronauta mulherengo e bêbado – Garrett Breedlove -, sua melhor amiga, Patsy, torna-se uma mulher de negócios que mora em Los Angeles, além dos affairs que tanto Emma como Flap, seu marido, experimentam na tentativa de viver vidas menos infelizes.


Ao adaptar o livro homônimo de Larry McMurtry – conhecido pelo Oscar recebido pelo roteiro de Brokeback Mountain, de Ang Lee -, James L. Brooks opta por um tratamento episódico para o enredo, mas que não perde intensidade devido a uma composição segura e delicada que conquista o espectador. Ao centrar seu drama no trabalho de atrizes do porte de MacLaine e Winger, o diretor tece com detalhes o relacionamento de ambas, tornando implícitos e, dessa forma, naturalizando um dos principais elementos da narrativa: os relacionamentos. Desde a primeira cena – em que Aurora, preocupada em saber como a filha está no quarto, termina beliscando seu braço e fazendo-a chorar para ouvir o som – até cenas emblemáticas – como no hospital em que Emma está internada e Aurora grita para que as enfermeiras apliquem-lhe rapidamente uma injeção contra dor -, acompanhamos a vida de dois seres humanos que caminham vivos diante do espectador.

Conhecido por seus filmes focados na humanidade de seus personagens, Brooks, além de equilibrar o trabalho do elenco, emprega os elementos da linguagem cinematográfica de maneira singela a fim de evidenciar a miscelânea de carinho e aridez na relação entre eles. Com os tons pastel de uma fotografia que atemporiza a narrativa e uma trilha sonora que combina tons suaves e lúdicos, o longa funciona como uma sinfonia de sentimentos extremamente humana, em que as qualidades e imperfeições de todos são expostas com a mesma sinceridade e beleza.

Dessa forma, sentir Laços de Ternura pode ser uma experiência que nos leve a sorrir e chorar com a mesma proporção, mas também a repensar a forma como temos nos expressado com o outro, às vezes tão próximo no tempo e no espaço, mas distante no coração.

Nota: 9,0



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