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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Super 8 (2011)

Esta é a versão "cinema" do Clube do Bolinha.


J. J. Abrams é a bola da vez. Depois de um pontapé astronômico na carreira ao produzir "um certo" seriado chamado "Lost", Abrams conseguiu em poucos anos a adoração cult que muitos cineastas só tiveram o privilégio de obter depois da morte. Sua habilidade na direção, somente "boa", não explica toda a hype ao redor de seu nome. O segredo de Abrams talvez seja, como na maior dos grandes nomes do cinema americano hoje em dia, o bem-sucedido marketing que ele aprendeu a criar para si próprio. Verdadeira ou não, a imagem de um diretor incansável, dedicado e genial está agora impregnada em sua figura, e Abrams se transformou no estandarte do nerd contemporâneo: desajeitado e franzino por fora, mas extremamente culto, ambicioso e, acima de tudo, um especialista na área em que atua.


O cinema é a especialidade de Abrams, e "Super 8" é sua menina-dos-olhos-de-ouro, um projeto definitivo com duplo sentido: homenagear, através da mais pura metalinguagem, o próprio cinema e consolidar a disseminada fama de "gênio precoce" de seu autor. Qual destas funções o filme cumpre melhor, isso dependerá da opinião de cada um. A mim só resta dizer que "Super 8" é um filme agradável, sem quaisquer traços de alguma megalomania narcisista de seu criador e sem os exageros comerciais de Hollywood. Um filme puro, que resgata, com parcial sucesso, o espírito de "inocência épica" presente nos grandes filmes-família dos anos 70 e 80.


Aspirantes a cineastas sem dúvida acharão cenas como esta o supra-sumo da simpatia. 


"Super 8" é um ode ao passado, pelo menos na concepção de seus criadores. É um projeto nostálgico que não somente pretende ser uma homenagem, mas também um autêntico "filmão" da década de 80. Todos os elementos dos grandes sucessos desta década maravilhosa estão nele: crianças como protagonistas, conspirações governamentais, alienígenas, conflitos familiares e a descoberta do amor (não o amor erótico, lascivo e caliente de hoje, mas o amor infantil entre duas crianças que ainda estão descobrindo as agruras da vida). O triunfo do filme é conseguir unir todos esses elementos e soar convincente em sua trama, e não apenas uma imitação barata dos sucessos de outrora. "Super 8" é um filme totalmente autêntico, imerso de corpo e alma no espírito "oitentista", tão radical em sua paixão pela década que contou até mesmo com Steven Spielberg, criador do gênero, em sua produção.


O filme, de fato, é quase um irmão das crias mais famosas do bilionário cineasta, em especial "Contatos Imediatos de Terceiro Grau". É claro que há o problema de conquistar não somente os fãs do cinema do passado, mas também as novas gerações, já muito relevantes nos termos de bilheteria e até mesmo crítica. Mas a produção tambem se sai muito bem neste quesito, apresentando uma trama interessante, cujo mistério e suspense sempre funcionam, dando espaço ainda para um certo "ar de fantasia", tão obrigatório em filmes assim. Tudo flui tranquilamente em "Super 8", sem quaisquer reviravoltas ou grandes falhas de trama, e um defeito que fica visível é o aparente distanciamento de alguns de seus personagens. Há um quê de superficialidade nas atuações e no próprio tratamento dispensado aos protagonistas, que jamais funcionam como partes ativas da trama.


Um clímax intenso, majestosamente caótico, mas essencialmente vazio.


É, de fato, uma chaga muito comum em filmes do gênero, e particularmente gritante em "Contatos...": por mais simpáticos que o roteiro os tente tornar, os personagens não passam de pano de fundo para uma história que, independente de suas vontades ou ações, se move sozinha. Os personagens, tanto protagonistas quanto antagonistas, são tão importantes para o núcleo da trama quanto os espectadores do filme: nada fazem senão assistir, impotentes, o transcorrer dos eventos. O final de "Super 8" não é ruim, não é frustrante, nada disso. É rigidamente igual às conclusões de "Contatos..." e "E.T.: O Extra-Terrestre": um desfecho cercado de fantasia e admiração, mas, no fundo, vazio. É de se perguntar para que serviram os personagens, os dramas, as aflições vividas por todos eles até então, já que a trama se desenrolaria muito bem sem eles.


"Super 8" também está impregnado por uns maneirismos técnicos que soam falsos de quando em quando. O filme é tão fanaticamente oitentista que transformou a tecnologia digital, com a qual foi filmado, na mais "analógica" possível. A tela é levemente granulada, o tom sépia, ainda que discretíssimo, predomina. É algo, se não bonito, curioso de se ver, mas que por vezes rompe o limite do bom senso: alguns efeitos de luz, como uma luz forte diante da câmera, geram "fantasmas" na imagem. Isso, embora comum nos filmes da época, agora não passa de incômodo. Visto, além do mais, que esses efeitos foram quase todos de pós-produção, alguns ficaram muito mal-posicionados, dando um toque de falsidade às cenas.


Olhem para a luz e digam "XIS"! Ah, é claro, sorriam primeiro...


Minha maior decepção foi com Michael Giacchino, meu ídolo e o gênio responsável por quase todas as trilhas da Pixar. Suas músicas, aqui, caem no esquecimento. Em todos os seus filmes, sempre pude sair da sessão cantarolando uma ou duas de suas canções, e muitas delas marcaram minha adolescência tipicamente nerd. Até mesmo com "Carros 2", fracasso doloroso da Pixar, ainda consigo me lembrar, nota por nota, dos acordes do excitante tema de Fynn McMissile. Isso não acontece aqui. "Super 8" possui uma trilha sonora pálida e esquecível, uma imitação mal-disfarçada dos trejeitos de John Williams, o compositor-mor de Spielberg. Todo artista possui um ponto baixo: esse é o de Giacchino.


Se você é um saudosista apreciador do cinemão-pipoca dos anos 70 e 80, "Super 8" sem dúvida será interessante. Se não, ainda assim continua sendo um blockbuster agradável. A maior cartada do filme, sem dúvida, é ressuscitar o espírito de inocência e magia das obras nas quais se inspira, uma sensação que, para o bem ou para o mal, já se tornou ultrapassada no cinema comercial contemporâneo. "Alto-astral", "nostálgico", "fofo", "bonitinho", "cativante"... escolha o adjetivo que achar melhor e mergulhe nesta genuína cápsula do tempo.


Ah, as lanchonetes! O que seria das décadas de 70 e 80 sem elas?


NOTA: 6,0

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