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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Amor a Toda Prova (2011)


Carell e Moore, juntos? E não é que deu certo? 


No "Manual Sagrado das Comédias Românticas" (aquele ao qual todo roteirista recorre quando deseja fazer um filme meia-boca) existem algumas regras pétreas. Quanto ao desenvolvimento dos personagens, destaco os dois maiores Mandamentos: 1) Todas as mulheres são santas. Sem exceções. Tão santas que poderiam se candidatar ao cargo de "Jesus Cristo". 2) Quase os homens são cafajestes. Aqueles que não são, desejam desesperadamente ser. Após muitas décadas de lançamentos comerciais, as regras para as comédias românticas se solidificaram, mesmo sem muita coerência. Veja se não é: o casal se conhece sabe-lá-deus-onde e, no começo, o relacionamento não vinga. A mulher odeia o homem porque ele é um cafajeste. E o homem não respeita a mulher porque só quer fod... err, "degustá-la". Mas, com o tempo, o homem, com sua "cafajestice" irresitível, "converte" a mulher e a faz "desfrutar as coisas boas da vida". No final, eles ficam juntos. Ok? Não: miraculosamente, após o casório, o homem se converte na mais santa das criaturas (só não mais do que as mulheres, é claro) e a mulher fica imensamente feliz por ter domado o feroz corcel. E vivem felizes para sempre...

Não é preciso ter muita inteligência para saber que as coisa não são assim. Na verdade, basta sair um pouco de casa para perceber que a vida DEFINITIVAMENTE não é assim. Mas, em termos de cinema comercial, pouco importa. Desde que Woody Allen praticamente inventou o gênero com "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (e que belo começo para um gênero do cinema!), a coisa foi sendo avacalhada até o ponto da crise de identidade em que as comédias românticas se encontram hoje em dia (mas que gênero, eu me pergunto, não vive a mesma situação?!).

Aulas de sedução e muitas trapalhadas! 

"Amor a Toda Prova" é um desses raríssimos momentos de epifania em que o cinema resgata sua verdadeira identidade. De todos os adjetivos peculiares que eu poderia usar para descrever o filme (e são muitos), prefiro ficar com "sincero". Sim. "Amor a Toda Prova" é um filme tremendamente sincero. Não sincero-depressivo, não sincero-realista, mas simplesmente sincero! Por isso, consegue ser incrivelmente tenro, espirituoso, divertido e comovente. É um daqueles maravilhosos filmes que nos fazem sair da sessão com um grande sorriso, que nos lembram que o amor é muito mais do que uma transa casual ou do que um romancizinho infantilóide.

Como eu poderia resumir este achado? STEVE CARELL. Pronto, já disse tudo. Desde sua alavancada ao estrelato com "O Virgem de 40 Anos", Carrel parece fazer questão de reafirmar o personagem de seu filme: ele é um bom moço. Seu currículo de atuações, na verdade, consiste basicamente em "bons moços". E isso é bom, muito bom: não era de se surpreender que, ao ser produtor de "Amor a Toda Prova", Carrel resolvesse usar o filme como uma forte mensagem à humanidade. E ele o faz de maneira esplêndida!

O bom moço X o garanhão nato 

Nada é gratuito neste filme. Nenhum relacionamento é tratado de forma barata. Todos os personagens, todas as ocasiões, todos os encontros e desencontros possuem um sentido, uma lição, uma reflexão. Este é um dos poucos filmes cujo título nacional ("Amor a Toda Prova") retrata melhor a história do que o título original ("Crazy, Stupid Love", algo como "Amor Louco e Estúpido"). Não há grandes loucuras neste filme, pelo menos não no sentido adolescente ao qual nos acostumamos. Há muita estupidez, sim, mas ela é sempre remediada pelo aprendizado e pelo arrependimento. É, afinal de contas, um "amor a toda prova": uma seqüência de trancos e barrancos que tornam o amor tão doloroso e tão irresistível.

É um filme sobre a superação, sobre o aprendizado. Mas é uma comédia, pelo amor dos céus! Não pense que este é algum filme super reflexivo ou intelectual. É uma obra engraçadíssima, cujo roteiro brilhante nos faz viver algumas das melhores situações em comédias românticas dos últimos anos. A seqüência em que todos os personagens se encontram e todos os segredos são revelados faria até Woody Allen pensar: "Poxa, isso é genial!". O humor do filme é sustentado pelas próprias incoerências da vida, pelos desencantos da paixão. Afinal, quem nunca olhou para trás e, lembrando-se de suas primeiras paixonites e dos sofrimentos que elas causaram, não achou graça dessas situações? Aí está a parte em que o amor é mesmo "louco" e "estúpido". E é por isso que nunca nos cansamos dele.

"Minha nossa! Seu corpo parece coisa de photoshop!" = diálogo épico!

Que maior garantia da qualidade do roteiro seria as próprias críticas que ele faz ao gênero? Quem mais não acha incrível que um personagem, ao ser abandonado pela amada no meio da chuva, exclame: "Que clichê..."? O filme avança de forma sutil até mesmo onde muitos outros (quase todos, na verdade) falharam: críticas ao "romantismo" contemporâneo. Para mim, um dos pontos altos da produção é quando a personagem de Julianne Moore (divina!) exclama: "Eu estava tão sozinha! Eu até mesmo fui assistir a uma sessão de Crepúsculo ao invés de trabalhar! Deus, eu nem sei porque fiz isso... o filme era tão ruim!" O filme me conquistou de vez depois desta fala!

Meu coração, duas horas depois de terminada a sessão, ainda está aquecido graças ao filme. Sinto-me engrandecido, verdadeiramente feliz, em paz. É preciso muito mais do que um filme bom para que eu fique assim. "Amor a Toda Prova" é uma obra que dialoga com os sentimentos da platéia, que vai fundo onde nenhuma comédia romântica tem coragem de ir hoje em dia. Ao apresentar a vida real, com suas conquistas e desilusões, esta obra nos lembra que, no amor, existe muito mais do que poemas em campos verdejantes ou noites de sexo descontrolado. Todo mundo irá se identificar com pelo menos um dos personagens retratados na obra, e torcer para a felicidade de todos. Ao subir dos créditos, não há qualquer garantia de um "felizes para sempre". Ainda bem. A vida é excitante demais para terminar de forma tão clichê...

A cena mais hilária dos últimos anos... confira e verá!

NOTA: 7,5

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