Começar dizendo que Beleza Americana é uma crítica ao modo como a sociedade atual vive é bastante comum, portanto, para ser diferente, começarei dizendo que Beleza Americana é um filme sobre a beleza e também a liberdade. Que pessoa, com uma vida comum e mecânica, não gostaria de virar a mesa e ter liberdade para fazer o que realmente acha que vale a pena, mas não o fazem porque estão presas mantendo as aparências? Esse é o caso de muitas pessoas da sociedade atual. Esse, também é o que o filme aborda. É o caso de Lester Burnham.
Mas tudo começa a mudar quando Lester se interessa por uma amiga de Jane, Angela (Mena Suvari). A partir desse momento, em que percebe que ainda está vivo e que ainda consegue sentir alguma coisa, Lester repensa vários aspectos de sua vida. Larga o emprego depois de subornar seu chefe, começa a fumar maconha (por influência de Ricky Fitts, o novo vizinho) e a malhar para chamar a atenção de Angela. Ao passo que vai se transformando, Lester fica cada vez mais feliz e mais completo. Ele consegue quebrar as correntes da plástica sociedade que é a atual. Esse seu processo de libertação me lembrou do excelente Clube da Luta (Fight Club, 1999), no fato que o protagonista também tem uma vida vazia e chata, mas também encontra meios de conseguir ser mais feliz e mais completo.
Pela primeira vez, e esta não seria a única, o diretor, Sam Mendes, critica o “american way of life”, o jeito dos americanos viverem e que vem se espalhando pelo mundo desde o século 18, jogando na nossa cara que a existência dos americanos (e não só deles) é vazia e superficial. Lester segue esse estilo de vida e é muito infeliz e inseguro. Assim como ele, todos os personagens do filme seguem esse estilo e são tão infelizes e inseguros quanto. Um exemplo é Frank Fitts (Chris Cooper), da família que se mudou para a casa ao lado dos Burnham. Ele é inseguro quanto a sua sexualidade mas para sua auto-afirmação vive xingando os homossexuais. Carolyn também é insegura, principalmente em relação ao seu trabalho. Ela sempre leva Lester para suas festas para mostrar que tem um bom relacionamento com o marido, o que é, claramente, mentira. E quando ela percebe que Buddy Kane (Peter Gallagher) está se tornando o maior corretor de imóveis da cidade, passa a se aproximar dele. É importante observar que não há um enfoque dos conflitos vividos somente no personagem principal, mas em personagens que vivem na mesma esfera social: os vizinhos, a amiga de Angela, etc.
O roteiro bem construído por Alan Ball nos permite entrar no contexto de uma família suburbana de classe média e olhá-la bem de perto para perceber que nada é tão perfeito quanto parece ser. Isso dá a sensação de que fazemos parte daquela família durante as duas horas de duração do filme. Isto é, não há artificialidades e as situações são reais.
Tecnicamente, o filme é uma beleza. A fotografia é linda (principalmente, nas partes que Lester fantasia com Angela). A trilha sonora simples, porém eficiente, merece destaque também. E as atuações são a cereja do bolo. Spacey (que ganhou o Oscar por sua interpretação nesse filme) captou toda a essência anestesiante de seu personagem antes da mudança e, quando se transforma no “novo Lester” não parece que é o mesmo personagem. É dele a melhor atuação, porém Annette Bening se sai maravilhosamente bem.
Para finalizar, a mensagem que Beleza Americana tenta e consegue passar fica na cabeça por dias. Frases profundas e também simples como “Não dá para ficar irritado com tanta beleza no mundo” e a sequência do saco plástico fazendo redemoinhos por causa do vento ilustram perfeitamente essa mensagem. De fato, há muita coisa no mundo que é bela, mas nos simplesmente não as vemos. E com aspectos comoventes, engraçados, irônicos, simbólicos e que mostram essa beleza, Beleza Americana é um dos filmes mais importantes da década de 90 e, com certeza, também da minha vida.
Nota: 10,0
Engraçado, mas eu sempre uso esse filme como um exemplo de como a autocrítica estadunidense é falha. Porque ela se dá operando na inverossimilhança, sempre. A não ser quando o filme é independente, e aí, no mesmo ano, tivemos o "Felicidade" do Solondz. Aí sim, uma autocrítica contundente, que não poupa o espectador.
ResponderExcluirAbs!
Um filme que quero muuuuito ver!
ResponderExcluirabs!
Victor Ramos
Ótimo texto. Considero "Beleza Americana" uma magnífica obra prima.
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