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domingo, 4 de setembro de 2011

Beleza Americana (1999)

Começar dizendo que Beleza Americana é uma crítica ao modo como a sociedade atual vive é bastante comum, portanto, para ser diferente, começarei dizendo que Beleza Americana é um filme sobre a beleza e também a liberdade. Que pessoa, com uma vida comum e mecânica, não gostaria de virar a mesa e ter liberdade para fazer o que realmente acha que vale a pena, mas não o fazem porque estão presas mantendo as aparências? Esse é o caso de muitas pessoas da sociedade atual. Esse, também é o que o filme aborda. É o caso de Lester Burnham.

Lester Burnham (Kevin Spacey) tem uma vida chata, anestesiante e que segue o “american way of life”. Ele, basicamente, vende sua vida em troca de manter as aparências de ser feliz, pois tem um suposto bom casamento, uma suposta família normal, uma ótima casa e situação financeira estável. Ele é casado com Carolyn (Annette Bening), uma corretora de imóveis materialista e, juntos, eles têm uma filha adolescente e rebelde, Jane (Thora Birch) que odeia seus pais. Para os outros ao redor deles, os Burnham parecem normais e felizes, mas intimamente não é bem isso que acontece. Nenhum deles é, de fato, feliz com a vida que tem.


Mas tudo começa a mudar quando Lester se interessa por uma amiga de Jane, Angela (Mena Suvari). A partir desse momento, em que percebe que ainda está vivo e que ainda consegue sentir alguma coisa, Lester repensa vários aspectos de sua vida. Larga o emprego depois de subornar seu chefe, começa a fumar maconha (por influência de Ricky Fitts, o novo vizinho) e a malhar para chamar a atenção de Angela. Ao passo que vai se transformando, Lester fica cada vez mais feliz e mais completo. Ele consegue quebrar as correntes da plástica sociedade que é a atual. Esse seu processo de libertação me lembrou do excelente Clube da Luta (Fight Club, 1999), no fato que o protagonista também tem uma vida vazia e chata, mas também encontra meios de conseguir ser mais feliz e mais completo.


Pela primeira vez, e esta não seria a única, o diretor, Sam Mendes, critica o “american way of life”, o jeito dos americanos viverem e que vem se espalhando pelo mundo desde o século 18, jogando na nossa cara que a existência dos americanos (e não só deles) é vazia e superficial. Lester segue esse estilo de vida e é muito infeliz e inseguro. Assim como ele, todos os personagens do filme seguem esse estilo e são tão infelizes e inseguros quanto. Um exemplo é Frank Fitts (Chris Cooper), da família que se mudou para a casa ao lado dos Burnham. Ele é inseguro quanto a sua sexualidade mas para sua auto-afirmação vive xingando os homossexuais. Carolyn também é insegura, principalmente em relação ao seu trabalho. Ela sempre leva Lester para suas festas para mostrar que tem um bom relacionamento com o marido, o que é, claramente, mentira. E quando ela percebe que Buddy Kane (Peter Gallagher) está se tornando o maior corretor de imóveis da cidade, passa a se aproximar dele. É importante observar que não há um enfoque dos conflitos vividos somente no personagem principal, mas em personagens que vivem na mesma esfera social: os vizinhos, a amiga de Angela, etc.


O roteiro bem construído por Alan Ball nos permite entrar no contexto de uma família suburbana de classe média e olhá-la bem de perto para perceber que nada é tão perfeito quanto parece ser. Isso dá a sensação de que fazemos parte daquela família durante as duas horas de duração do filme. Isto é, não há artificialidades e as situações são reais.

Tecnicamente, o filme é uma beleza. A fotografia é linda (principalmente, nas partes que Lester fantasia com Angela). A trilha sonora simples, porém eficiente, merece destaque também. E as atuações são a cereja do bolo. Spacey (que ganhou o Oscar por sua interpretação nesse filme) captou toda a essência anestesiante de seu personagem antes da mudança e, quando se transforma no “novo Lester” não parece que é o mesmo personagem. É dele a melhor atuação, porém Annette Bening se sai maravilhosamente bem.

Para finalizar, a mensagem que Beleza Americana tenta e consegue passar fica na cabeça por dias. Frases profundas e também simples como “Não dá para ficar irritado com tanta beleza no mundo” e a sequência do saco plástico fazendo redemoinhos por causa do vento ilustram perfeitamente essa mensagem. De fato, há muita coisa no mundo que é bela, mas nos simplesmente não as vemos. E com aspectos comoventes, engraçados, irônicos, simbólicos e que mostram essa beleza, Beleza Americana é um dos filmes mais importantes da década de 90 e, com certeza, também da minha vida.

Nota: 10,0

3 comentários:

  1. Engraçado, mas eu sempre uso esse filme como um exemplo de como a autocrítica estadunidense é falha. Porque ela se dá operando na inverossimilhança, sempre. A não ser quando o filme é independente, e aí, no mesmo ano, tivemos o "Felicidade" do Solondz. Aí sim, uma autocrítica contundente, que não poupa o espectador.

    Abs!

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  2. Um filme que quero muuuuito ver!

    abs!

    Victor Ramos

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  3. Ótimo texto. Considero "Beleza Americana" uma magnífica obra prima.

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