Ford e Craig: combinação legal, cenário perfeito! |
Senhores,
vamos deixar as brincadeirinhas de lado: quem aqui, honestamente, não se apaixonou
pela premissa de “Cowboys & Aliens”? Mesmo que ficássemos zombando do título
(“Hollywood não tem mais o que inventar?!”),
era motivo para ficarmos muito animados. Afinal, são cowboys e alienígenas! As
duas coisas que mais fascinaram nossas infâncias (refiro-me ao sexo masculino,
claro) agora estão juntas, em um só filme! E com a mãozinha de Spielberg, o
grande criador de ET’s e arqueólogos aventureiros, na produção! Essa era uma
das misturas improváveis que eu pagaria para conferir no cinema.
Paguei.
E não gostei.
Como
todo bom blockbuster com um mínimo de sex
appeal, “Cowboys & Aliens” possui uma premissa bizarra / genial que,
por si só, é o suficiente para render os bons números que vem rendendo na
bilheteria. Meu temor (e acho que o temor de todo cinéfilo) era que o filme se
sustentasse apenas nessa premissa, deixando todo o resto (história,
criatividade, mistério, suspense, ação...) de lado. Pois é, dito e feito. “Cowboys
& Aliens” tem cowboys, tem aliens, mas não consegue em momento algum criar
uma mistura empolgante. Os dois elementos funcionam muito bem separadamente,
mas são um desastre de monotonia quando estão juntos.
Toca a música aí, DJ! TUNTZ TUNTZ TUNTZ TUNTZ!! |
Os
primeiros minutos do filme, nos quais ainda não vemos rastros dos ET’s, são
muito interessantes, um delírio para os fãs de westerns. Temos atores que se encaixam perfeitamente nos
personagens (Daniel Craig como um fora-da-lei valentão? Harrison Ford como um coronel brutamondes e
rabugento? Gol de placa!), um desenrolar curioso dos fatos, uma porção de cenas
engraçadas e, é claro, uma fotografia espetacular das planícies rochosas do
leste norte-americano. Aí, então... aparecem os ET’s. E tudo que o filme tinha
de bom desanda graças à inabilidade dos roteiristas em misturar os dois
gêneros.
Para
entender o que há de errado, temos que pensar no que seria certo: como você
faria um filme em que ET’s se infiltrariam no mundo do faroeste? Teria que
haver uma boa porção de mistério, não é? Os alienígenas vão sendo revelados
pouco a pouco, instigando temor sobre a população, lentamente construindo uma
tensão que irromperia em um final climático, não é mesmo? Pois isso não existe
no filme: nada de mistério, nada de fantasia, nada de fascinação perante as civilizações
desconhecidas. Os ET’s entram de forma abrupta na trama, atirando e “laçando”
todos que encontram pela frente. Não há tensão, não há suspense, o que há é
apenas mais um filme de constantes tiroteios entre mocinhos e bandidos; a única
diferença é que os “bandidos” são de outro planeta, nada mais.
Decerto,
os alienígenas, sendo a raça avençada que são, teriam planos muito complexos
contra nós, míseros seres humanos. Bom, pelo menos é o que todo mundo imagina.
Mas a criatividade do roteiro é tão profunda quanto uma bacia de lavar roupa, e
o que temos são alienígenas que vêm à Terra para extrair nosso ouro. Isso
mesmo, ouro. Aquela coisa amarela e brilhante também se mostra um fascínio para
os ET’s. E eles não o usam como combustível nem como um componente raro para
suas maquinarias infernais, não, não... eles querem ouro pelos mesmos motivos
que os dos bandidos mais clichês dos filmes de faroeste: ouro é valioso, e dá
para comprar muita coisa com ele. Só isso, mais nada. Tem como você respeitar,
ou ao menos se interessar, por uma raça assim tão mesquinha e sem propósito?
Explode tudo, atira para todo lado, mesmo! Afinal, é só para isso que serve um filme, né? NOT! |
Tudo
que existe de fascínio nos antigos clássicos sobre alienígenas e aventureiros
passa muito longe deste filme. Desde o primeiro momento em que os ET’s
aparecem, o que presenciamos é uma sucessão de cenas sem propósito carregando
uma história para a qual nunca damos a mínima. O filme brinca com a paciência
do espectador ao tramar perigosas reviravoltas de roteiro (a ressurreição da
personagem de Olivia Wilde no meio do fogo, seguida de uma revelação para lá de
bisonha sobre a mesma, é o ápice da ruindade atingida pela produção), ao atirar
um monte de personagens cruciais na história, resultando na falta de tempo para
desenvolvê-los de forma apropriada, ao neglicenciar seus dois atores-astros e,
por fim, ao tratar sua história como se ela fosse mais um conto-padrão de
faroeste.
O
resultado é um dos maiores desperdícios de potencial no ano! Percebemos, então,
que o nome de Spielberg só apareceu aqui por causa do potencial de lucro do
filme (lembremo-nos sempre que Spielberg agora é mais um empresário do que um
artista), e que os verdadeiros responsáveis pela parte criativa do filme, em
especial o diretor-sensação John Favreau, não possuem a capacidade criativa de
conduzir uma história com tão tremenda premissa. Não que eu guarde qualquer
desavença contra o diretor, pelo contrário: Favreau, dos diretores de blockbusters
“descerebrados” hoje em dia, é um dos mais talentosos. Pelo menos um dos mais
bem-intencionados. É nítido, seja pelas posições da câmera ou pelas escolhas de
fotografia, o cuidado artístico que o diretor tem com sua cria, que acaba como
uma obra visualmente encantadora. Infelizmente, aspectos técnicos não fazem um
filme, e a história brochante (não existe adjetivo que defina melhor o filme)
arrasta a produção para um lamaçal de irrelevância.
Ah, Olivia... tão bonita e tão insossa! |
Talvez
o que mais doa em “Cowboys & Aliens” seja o desperdício simples e puro de
uma premissa pra lá de interessante. Fosse um blockbuster qualquer, com as mesmas histórias de sempre, o máximo
que eu sentiríamos seria a fria ignorância. Mas aqui a impressão que fica é a de
um sujeito que recebe um milhão de dólares e o gasta com tampas de caneta: não
tem como não se revoltar. Para contrabalançar com um aspecto mais ou menos positivo
(e,infelizmente,e só mais outro aspecto técnico), menciono a trilha sonora. Ok,
na maior parte de tempo ela é clichê e pouco interessante, mas lhe devo dar
crédito por alguns momentos não-tão-raros de genialidade: o tema do filme
incorpora lindamente o estilo western
com uma leve mistura de modernidade, representando perfeitamente o espírito do
filme.
“Cowboys
& Aliens” é um filme que só fica na intenção. Uma ótima premissa com um
péssimo desenvolvimento. Infelizmente, esta obra recai naquela infeliz
categoria dos filmes “ignoráveis”. Uma pena. É sempre um desprazer imenso ver
uma ótima idéia cair no esquecimento por causa de um roteiro débil que não
soube aproveitá-la.
NOTA: 6,0
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