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sábado, 10 de setembro de 2011

Cowboys & Aliens (2011)


Ford e Craig: combinação legal, cenário perfeito!


Senhores, vamos deixar as brincadeirinhas de lado: quem aqui, honestamente, não se apaixonou pela premissa de “Cowboys & Aliens”? Mesmo que ficássemos zombando do título (“Hollywood não tem mais o que inventar?!”), era motivo para ficarmos muito animados. Afinal, são cowboys e alienígenas! As duas coisas que mais fascinaram nossas infâncias (refiro-me ao sexo masculino, claro) agora estão juntas, em um só filme! E com a mãozinha de Spielberg, o grande criador de ET’s e arqueólogos aventureiros, na produção! Essa era uma das misturas improváveis que eu pagaria para conferir no cinema.

Paguei. E não gostei.

Como todo bom blockbuster com um mínimo de sex appeal, “Cowboys & Aliens” possui uma premissa bizarra / genial que, por si só, é o suficiente para render os bons números que vem rendendo na bilheteria. Meu temor (e acho que o temor de todo cinéfilo) era que o filme se sustentasse apenas nessa premissa, deixando todo o resto (história, criatividade, mistério, suspense, ação...) de lado. Pois é, dito e feito. “Cowboys & Aliens” tem cowboys, tem aliens, mas não consegue em momento algum criar uma mistura empolgante. Os dois elementos funcionam muito bem separadamente, mas são um desastre de monotonia quando estão juntos.

Toca a música aí, DJ! TUNTZ TUNTZ TUNTZ TUNTZ!!

Os primeiros minutos do filme, nos quais ainda não vemos rastros dos ET’s, são muito interessantes, um delírio para os fãs de westerns. Temos atores que se encaixam perfeitamente nos personagens (Daniel Craig como um fora-da-lei valentão?  Harrison Ford como um coronel brutamondes e rabugento? Gol de placa!), um desenrolar curioso dos fatos, uma porção de cenas engraçadas e, é claro, uma fotografia espetacular das planícies rochosas do leste norte-americano. Aí, então... aparecem os ET’s. E tudo que o filme tinha de bom desanda graças à inabilidade dos roteiristas em misturar os dois gêneros.

Para entender o que há de errado, temos que pensar no que seria certo: como você faria um filme em que ET’s se infiltrariam no mundo do faroeste? Teria que haver uma boa porção de mistério, não é? Os alienígenas vão sendo revelados pouco a pouco, instigando temor sobre a população, lentamente construindo uma tensão que irromperia em um final climático, não é mesmo? Pois isso não existe no filme: nada de mistério, nada de fantasia, nada de fascinação perante as civilizações desconhecidas. Os ET’s entram de forma abrupta na trama, atirando e “laçando” todos que encontram pela frente. Não há tensão, não há suspense, o que há é apenas mais um filme de constantes tiroteios entre mocinhos e bandidos; a única diferença é que os “bandidos” são de outro planeta, nada mais.

Decerto, os alienígenas, sendo a raça avençada que são, teriam planos muito complexos contra nós, míseros seres humanos. Bom, pelo menos é o que todo mundo imagina. Mas a criatividade do roteiro é tão profunda quanto uma bacia de lavar roupa, e o que temos são alienígenas que vêm à Terra para extrair nosso ouro. Isso mesmo, ouro. Aquela coisa amarela e brilhante também se mostra um fascínio para os ET’s. E eles não o usam como combustível nem como um componente raro para suas maquinarias infernais, não, não... eles querem ouro pelos mesmos motivos que os dos bandidos mais clichês dos filmes de faroeste: ouro é valioso, e dá para comprar muita coisa com ele. Só isso, mais nada. Tem como você respeitar, ou ao menos se interessar, por uma raça assim tão mesquinha e sem propósito?

Explode tudo, atira para todo lado, mesmo! Afinal, é só para isso que serve um filme, né? NOT!

Tudo que existe de fascínio nos antigos clássicos sobre alienígenas e aventureiros passa muito longe deste filme. Desde o primeiro momento em que os ET’s aparecem, o que presenciamos é uma sucessão de cenas sem propósito carregando uma história para a qual nunca damos a mínima. O filme brinca com a paciência do espectador ao tramar perigosas reviravoltas de roteiro (a ressurreição da personagem de Olivia Wilde no meio do fogo, seguida de uma revelação para lá de bisonha sobre a mesma, é o ápice da ruindade atingida pela produção), ao atirar um monte de personagens cruciais na história, resultando na falta de tempo para desenvolvê-los de forma apropriada, ao neglicenciar seus dois atores-astros e, por fim, ao tratar sua história como se ela fosse mais um conto-padrão de faroeste.

O resultado é um dos maiores desperdícios de potencial no ano! Percebemos, então, que o nome de Spielberg só apareceu aqui por causa do potencial de lucro do filme (lembremo-nos sempre que Spielberg agora é mais um empresário do que um artista), e que os verdadeiros responsáveis pela parte criativa do filme, em especial o diretor-sensação John Favreau, não possuem a capacidade criativa de conduzir uma história com tão tremenda premissa. Não que eu guarde qualquer desavença contra o diretor, pelo contrário: Favreau, dos diretores de blockbusters “descerebrados” hoje em dia, é um dos mais talentosos. Pelo menos um dos mais bem-intencionados. É nítido, seja pelas posições da câmera ou pelas escolhas de fotografia, o cuidado artístico que o diretor tem com sua cria, que acaba como uma obra visualmente encantadora. Infelizmente, aspectos técnicos não fazem um filme, e a história brochante (não existe adjetivo que defina melhor o filme) arrasta a produção para um lamaçal de irrelevância.

Ah, Olivia... tão bonita e tão insossa!

Talvez o que mais doa em “Cowboys & Aliens” seja o desperdício simples e puro de uma premissa pra lá de interessante. Fosse um blockbuster qualquer, com as mesmas histórias de sempre, o máximo que eu sentiríamos seria a fria ignorância. Mas aqui a impressão que fica é a de um sujeito que recebe um milhão de dólares e o gasta com tampas de caneta: não tem como não se revoltar. Para contrabalançar com um aspecto mais ou menos positivo (e,infelizmente,e só mais outro aspecto técnico), menciono a trilha sonora. Ok, na maior parte de tempo ela é clichê e pouco interessante, mas lhe devo dar crédito por alguns momentos não-tão-raros de genialidade: o tema do filme incorpora lindamente o estilo western com uma leve mistura de modernidade, representando perfeitamente o espírito do filme.

“Cowboys & Aliens” é um filme que só fica na intenção. Uma ótima premissa com um péssimo desenvolvimento. Infelizmente, esta obra recai naquela infeliz categoria dos filmes “ignoráveis”. Uma pena. É sempre um desprazer imenso ver uma ótima idéia cair no esquecimento por causa de um roteiro débil que não soube aproveitá-la.

NOTA: 6,0



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