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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pacific (2011)



Sorria, você está se filmando...

Se os anos 90 viram a explosão das máquinas fotográficas polaroids, uma revolução para quem, em épocas anteriores, não conseguia realizar o desejo de visualizar quase instantaneamente o momento registrado pelo clique da câmera, os 2000 em diante têm vivido o boom das câmeras digitais. A partir disso, penso em como nossa cultura tem se perpetuado como uma ‘cultura da imagem’... Mas, depois de conferir Pacific (idem, 2011, Marcelo Pedroso), pergunto: Quando ela NÃO foi? Nossos símbolos, deuses e mitos eram pintados, esculpidos, adorados; nossas narrativas orais descrevem imagens em sequência; nossos gestos e expressões corporais são imagens que podem ser registradas em um suporte físico, o que nos conduz, de fato, às reflexões sobre o longa dirigido por Pedroso.

No longa em questão, vemos imagens amadoramente filmadas pelos passageiros do cruzeiro Pacific, que, no final de 2008, partiu de Recife em direção a Fernando de Noronha. Letreiros que abrem o longa explicam o mote do diretor ao realizar o documentário: depois de observar, no cruzeiro, quem portava câmeras e filmadoras digitais, os pesquisadores abordaram estes passageiros e solicitaram o uso das imagens registradas por eles para a realização do longa. No rico material colhido, encontram-se  diversas narrativas conduzidas por personagens cativantes por sua simplicidade quase anônima e, por vezes, nada memorável, o que torna a experiência um quase dejá vu de nossa própria vida.



Nesse reality show concebido e registrado por nós mesmos, temos tornado nossa própria vida palco de encenações e criação de personagens, pois, diante das câmeras, deixamos de ser um pouco nós mesmos não para um cineasta, mas para um público idealizado que nos assistirá em nossa intimidade: amigos, familiares, colegas de trabalho. Em seu longa, Pedroso consegue o registro destes diversos ‘supra-eus’ que encenam videoclipes, imitações, paródias de filmes e tantas outras situações, demonstrando a trivialidade com que a linguagem audiovisual penetra no nosso cotidiano. Ao mesmo tempo, ele inverte as cartilhas do documentário - que, em geral, filma histórias ou personagens extraordinários - ao se voltar para pessoas simples e pouco memoráveis em uma circunstância banal para quem os observa de fora, mas extremamente marcante para aqueles que dela participam, em seus momentos de celebração e ludicidade.

Ao final da sessão, refleti sobre toda a trajetória da sétima arte: percebo como retornamos para a concepção inicial do cinema, quando os irmãos Lumière registravam o cotidiano de pessoas comuns em suas atividades prosaicas, algo semelhante às câmeras de segurança que nos cercam, aos Youtubes onde depositamos diariamente nossas filmagens caseiras, com uma diferença: hoje, não precisamos de alguém nos filmando, mas somos cineastas de nós mesmos. 

Nota: 9,0

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