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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Perfume - A História de um Assassino (2006)


Obs.: este é mais um diálogo a respeito do filme em questão (sem spoilers.) que uma análise detalhada de seus aspectos cinematográficos.

É curioso observar o quão tênue é a linha que divide a delicadeza da grosseria. Mais curioso ainda é notar que Perfume - A História de um Assassino (Perfume: The Story of a Murderer, 2006) faz parte de uma categoria específica de filme que insiste em caminhar sobre esta trilha, com sua pseudo sensibilidade artística e sua inovação no que tange os conceitos cinematográficos, por se tratar de uma obra que investe essencialmente em um sentido básico do ser humano um tanto quanto incomum perante as telas: o olfato - obviamente pela natureza visual que tem o cinema. E o que mais me intriga nisso tudo não são os recursos utilizados na narrativa para transformar o odor das coisas em um personagem da trama, mas a capacidade que alguns diretores têm de, ao serem rendidos por um surto de vaidade, fazer com que seus trabalhos percam o fio da meada.

E aqui esse desequilíbrio se anuncia desde as cenas iniciais, onde era possível sentir a ambição do cineasta ecoando por entre seus movimentos de câmera (ágeis a princípio, visando oferecer uma sensação de náusea e desconforto ao espectador naquele que é o momento do nascimento do protagonista) e uma estranha narração em off. Digo estranha em razão de sua inutilidade em meio àquela história, pois ao que parece, Tom Tykwer deve ter apostado numa possível elegância que aquela voz imponente fosse adicionar a seu filme. O problema é que, tal como qualquer artifício narrativo, este pode ser tanto favorável quanto prejudicial, depende exclusivamente da habilidade do diretor em utilizá-lo. Como se não fosse suficiente investir no asco visual (numa tentativa de esclarecer que, no mundo de Jean-Baptiste somente o cheiro exercesse uma função realmente pura, límpida), a voz que descreve cada passo, cada pensamento do personagem não permite ao público construir uma reflexão consistente sobre tudo aquilo (e muito menos ser absorvido pela história em si) - sem interferência.

O pior disso é que a principal função que a narração em off parece exercer nesta trama não fora cumprida, uma vez que, mesmo tendo ela acompanhado toda a história do personagem principal, Jean-Baptiste continua sendo para os espectadores uma completa incógnita. Poderíamos inferir que esse resultado foi justamente fruto de uma vitória, já que tanto o diretor quanto roteirista visaram o protagonista como uma figura opaca. Se for este o real objetivo, parabéns aos realizadores que conseguiram transformá-lo sim em uma verdadeira parede, impenetrável, do mesmo modo que inexpressiva, uma vez ele é o tipo de ser que não transmite qualquer emoção ao espectador e, pior ainda, à própria história.

Pobre do filme que tem seus argumentos promissores relados ao lixo, e é justamente isso que ocorre aqui. Neste pretenso espetáculo de refinamento e exuberância estética (quando não exagerada), vemos as ideias escoando ralo abaixo, seja por uma possível inaptidão em transportar o romance de Patrick Süskind para celuloide, ou mesmo pelo desgaste textual ocasionado por tantas piruetas narrativas (dos supracitados exageros visuais a arbitrária narração em off). E se o final foi o aspecto pelo qual o público ficou polarizado quanto à qualidade da produção, digo eu que fora o maior lampejo de criatividade (e coragem) dentro do filme - finalizá-lo de um modo que a plateia seja expulsa da exibição com indagações e possivelmente uma reflexão em sua cabeça, coisa que o didatismo presente em toda a narrativa nos impediu de fazer.

Nota: 5.0

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