Indicados ao Oscar 2012 - Comentários

Então chegamos, caros cinéfilos, à reta final do prêmio mais popular do cinema mundial! Foram divulgados hoje, às 11:30 (horário de Brasília), os concorrentes às 24 categorias do Oscar 2012. Como de praxe, eu tecerei minhas opiniões sobre os indicados das principais categorias, bem como do Oscar como um todo.


Reveja os comentários sobre as indicações do Oscar 2011

Visão Geral

Cena de "A Invenção de Hugo Cabret", com 11 indicações

2011 foi um ano bem menos épico do que seu antecessor. Se em 2010 tivemos filmes que marcaram a cultura popular ("A Origem", "Cisne Negro", "Toy Story 3"...), 2011 bem formulaico e café-com-leite. A principal atenção foi a quantidade fabulosa de indicações recebidas por "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese. Abocanhando 11 indicações - incluindo a de Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado - o filme marca mais um apogeu de Scorsese entre a crítica... mas não entre o público: "A Invenção...", embora tenha sido um dos filmes mais aclamados do ano, ainda não recuperou metade do seu investimento - estimado em 150 milhões de dólares.

O Brasil, mais uma vez, ficou de fora e "Tropa de Elite 2" nem passou perto da categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Entretanto, como prêmio de consolação, estamos concorrendo com a Melhor Canção Original com a música "Real in Rio"; contra nós está a também aclamada "Man or a Muppet", do bem-sucedido "Os Muppets".


O abacaxi do ano, se puder se entregue a apenas uma pessoa, fica com David Fincher, cujo filme "Milenium - Os Homens que não Amavam Mulheres", sua grande aposta para este ano, ficou de fora em todas as categorias principais, à exceção de "Melhor Atriz". Outra zebra foi "As Aventuras de Tintim", que conseguiu o disparate de vencer como Melhor Animação no Globo de Ouro e sequer ser indicado aqui (para comparação, "Gato de Botas" foi indicado!)


Devido à pouca surpresa que as indicações trouxeram este ano, preferi não relatar minhas opiniões sobre "Roteiro Original e Adaptado" nem para os atores coadjuvantes... simplesmente não há muito mais o que ser dito nestas categorias. Como destaque, entretanto, faço questão de mencionar a estréia arrasadora de J. C. Chandor, um prodígio que concorre a Melhor Roteiro Original por "Margin Call - O Dia Antes do Fim".

Melhor Filme

"O Artista", filme-surpresa do ano, tem alguns diferenciais ao seu favor: é um filme mudo, preto-e-branco e filmado no padrão 4:3.

O Oscar conseguiu descer seu padrão ao indicar dois filmes muito duvidosos para sua principal categoria: "Cavalo de Guerra", mais um melodrama de Spielberg que foi recebido com certa indiferença tanto pelo público quanto pela crítica, e "Tão Forte e Tão Perto", um filme desprezado pela crítica e condenado por ser excessivamente clichê.

Uma surpresa positiva - embora não tão surpreendente assim - foi a indicação de "Meia Noite em Paris", que consagra o retorno de Woody Allen à principal categoria da premiação. O filme tem pequenas chances de sair vencedor, contudo, pois no páreo estão três filmes extremamente aclamados pela crítica: "A Árvore da Vida" (vencedor do Cannes), "O Artista" (Globo de Ouro) e "A Invenção de Hugo Cabret" (maior número de indicações e Melhor Direção no Globo de Ouro). Como "A Árvore da Vida" esteve desaparecido em quase todas as premiações deste fim de temporada, o grande embate será mesmo entre o 3D de Scorsese e o preto-e-branco de Hazanavicius.

Melhor Direção

Scorsese: de volta ao topo com "Hugo".

Apenas titãs disputam o título: seja Allen com "Meia-Noite em Paris" ou Malick com "A Árvore da Vida", a disputa está bem mais equilibrada nesta categoria. Se considerarmos a hype mais recente, o confronto se dará de novo entre Scorsese (melhor diretor no Globo de Ouro) e Hazanavicius (melhor filme). A zebra do ano é Alexander Payne, responsável por "Os Descendentes": embora sua competência seja inquestionável, as chances de vitória do diretor são quase nulas.

Melhor Ator / Atriz

Clooney: candidato por "Os Descendentes"

Rooney Mara: surpresa do ano.

Quem vê Rooney Mara na pele da arisca Salander em "Milenium - Os Homens que não Amavam Mulheres" não consegue acreditar que, um ano antes, ela era a ex-namorada de Mark Zuckerberg em "A Rede Social". Como vocês podem rever na minha crítica, Mara entrega um trabalho assustador e de primeiríssima qualidade... que pode ser prejudicado apenas pela baixa repercussão do thriller de Fincher. Mara, entretanto, tem como maior rival a já consagrada deusa da atuação Meryl Streep, concorrendo pela encarnação de Margareth Tatcher. Uma pequena surpresa na categoria é Glenn Close, que está de volta aos holofotes com sua espetacular atuação em "Albert Nobbs" - em que ela interpreta uma mulher se passando por homem... e conseguindo enganar até mesmo o público.

Quanto aos marmanjos, o Oscar pôs na briga os dois maiores galãs de Hollywood: Brad Pitt ("O Homem que Mudou o Jogo") e George Clooney ("Os Descendentes"), que poderão encontrar dificuldades para derrotar o duro-no-páreo Jean Dujardin ("O Artista"). "O Espião que Sabia Demais", outra surpresa do ano, foi o responsável pelo ingresso do veterano Gary Oldman na disputa, porém a grande briga deverá permanecer entre os três primeiros nomes.

Melhor Animação

Kung Fu Panda 2: meu quinto melhor filme do ano pelo menos ganhou uma chance no Oscar! :)

Se 2011 foi um ano terrível para algum gênero específico do cinema, este gênero foi o de animação. Poucos anos apresentaram uma safra de animações tão escassas quanto 2011: a Pixar falhou terrivelmente com sue desastroso "Carros 2" e restou à arqui-inimiga DreamWorks uma tentativa dupla com o divertidíssimo "Kung Fu Panda 2" e o razoável "Gato de Botas" (e a primeira vez, aliás, que a empresa concorre com dois filmes ao mesmo tempo). O prêmio, todavia, muito provavelmente irá para as mãos de "Rango", uma animação pouco ortodoxa e não tão grandiosa, mas com qualidades artísticas suficientes para agradar à Academia. 

E quanto a "Um Gato em Paris" e "Chico & Rita"? Uma palavra: zebras.

Melhor Filme Estrangeiro

"A Separação" é o favorito quase invicto da categoria.

Menciono "Melhor Filme Estrangeiro não por quem foi indicado, mas por quem ficou de fora. Primeiramente, o já mencionado "Tropa de Elite", cujas chances de indicação ficaram mais na expectativa do público brasileiro do que na realidade da crítica norte-americana. O sempre polêmico Lars von Trier, cujo filme "Melancolia" eu elegi como meu melhor do ano, tinha as mesmas chances que as de "Vida de Calouro" concorrer a Melhor Filme: depois do festival (no mal sentido) armado pelo diretor em Cannes, não é de surpreender que o Oscar lhe tenha dado mais esta épica esnobada.