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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Os Descendentes (2011)

 
Os Descendentes e a efemeridade dos desejos do homem comum

Alexander Payne acostumou-se a trabalhar com o esvaziamento do homem moderno, aquele que não encontra mais sentido em instituições que antes lhe ofereciam um sentido de eternidade e certeza sobre os fatos. Suas personagens conectam-se ao imediato, ao fugaz, aos desejos que se resolvem neles mesmos, não encontrando ecos em uma existência vindoura. Foi assim com a Jim McAllister de Eleição (1999), com o Warren Schimdt de As Confissões de Schmidt (2002) e com Miles em Sideways (2004), personagens que se determinavam a alcançar objetivos pouco nobres, mas, antes de tudo, extremamente, humanos.

Em Os Descendentes (The Descendants, 2011, Alexander Payne), Payne adapta o livro de Kaui Hart Hemmings, mostrando, por meio da inusitada transformação de Matt King, pai irresponsável que precisa reatar o contato com as filhas Scottie e Alex enquanto sua esposa permanece em coma no hospital. Enquanto isso, ele precisa lidar com as dificuldades da venda de um terreno herdado por ele e sua dezena de primos e com a descoberta da traição da esposa com um concorrente do ramo imobiliário.



O roteiro escrito a seis mãos consegue trazer densidade e leveza para o material ao registrar o cotidiano inusitado e particular do Havaí, enquanto traz diálogos sagazes e surpreendentes, lembrando em alguns momentos um Arrested Development menos cruel e absurdo. A apresentação dos personagens e seus desenvolvimento ao longo da narrativa destrincha a humanidade de cada um, com diálogos em que pai e filha se ofendem e se compreendem com poucas linhas entre um momento e outro. A direção de Payne equilibra os personagens, compreendendo seus pontos de vista, apresentando-os da forma mais franca e fresca para o público, cativando-o justamente por suas imperfeições. Se nada disso é novidade no cinema, fica claro o carinho e o respeito com que Payne trata cada um deles, deixando-os livres para seguirem suas trajetórias complexas e patéticas, extraindo performances fluentes e naturais de todo o elenco. Enquanto isso, o embalo sereno da trilha sonora e da montagem acompanham o colorido da fotografia praieira.

Em suma, podemos dizer este último exemplar da filmografia de Payne, se não supera, atende bastante às expectativas daqueles que aprenderam a admirar seu trabalho, assim como oferece aos fãs de George Clooney uma performance mais desglamourizada do que o galã que ele, aos poucos, está se permitindo deixar de ser. Tudo isso com extrema humanidade e sensibilidade para abordar as virtudes e vícios dos egoístas, inescrupulosos e admiráveis que temos nos tornado a partir do que acreditamos ser uma ‘evolução’. Se nos afogamos na satisfação imediata dos nossos desejos, é por que, de fato, nos esquecemos do caminho que nossos antepassados percorreram para chegarmos até aquele ponto.

Nota: 9,0

Um comentário:

  1. Gosto da direção e das atuações de Os Descendentes, e é um bom drama familiar, isso não nego. Mas não gostei do resultado num todo e não vejo porque tanta falação sobre o filme.
    Abraços!

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