A
sexualidade fragmentada e inesperada em A Pele que Habito
Nos filmes dirigidos por Almodóvar, a
sexualidade sempre se faz presente das maneiras mais tênues, esdrúxulas e apaixonadas,
com filmes como Fale com Ela, Kika, Ata-me, A Má Educação e
tantos outros que desvelam o lado mais mordaz e obscuro de nossos anseios
sexuais, retratando-os a partir do que considera menos óbvia. Além disso, a natural sobreposição do feminino sobre o masculino, como o homem que se permite mergulha em uma vagina gigantesca ou a presença constante de travestis em sua filmografia.
Neste A Pele que Habito (La Piel Que
Habito, 2011, Pedro Almodóvar), Antonio Banderas vive Robert, um cirurgião
plástico que desenvolve experimentos em uma mulher misteriosa, Vera, a fim de
criar uma espécie de pele sintética para proteger o corpo humano contra
qualquer tipo de dano. Permeado por temas como estupro, vingança, morte e ética
tratados de maneira passional e densa, o roteiro alcança, com a direção de
Almodóvar, um equilíbrio entre suspense e bizarrice tratado com naturalidade
que espanta aos desavisados. Com um Antonio Banderas e uma Elena Anaya que
encarnam com destreza a complexidade de seus personagens, demonstrando olhares
e gestos tão naturais e humanos que desnorteiam o espectador, o longa
surpreende com o retrato que concebe de uma sexualidade cada vez mais complexa
e particularizada.
Enquanto isso, a trilha sonora cortante
e exuberante de Alberto Iglesias, uma fotografia menos colorida que o universo
almodovariano nos acostumou a ver e uma montagem fluida – ainda que irregular
em algumas passagens - que mescla passado e presente para exibir uma faceta
mais sóbria do diretor, menos extravagante e mais preocupada com os detalhes da
narrativa, travando cenas de imenso cuidado com as palavras e expressões dos
atores. Neste longa, Almodóvar não realiza um filme genial, mas exibe seu
talento em divertir e surpreender o público com uma trama repleta de
reviravoltas e situações estranhas pelos signos e estados de espírito que seus
personagens carregam.
Nota: 8,5
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