Reality Shows são, provavelmente, o que há de mais lucrativo dentro do mercado televisivo. A necessidade do ser humano em observar e criticar às escondidas é explorada por estes programas que visam expor a intimidade, os segredos e as verdadeiras personalidades do ser humano. Assim, é louvável que um filme como Jogos Vorazes, claramente voltado ao público jovem, aborde questões como esta dentro de sua trama, sem muitas sutilezas ou “frescuras”. Baseado na série de livros da escritora Suzanne Collins, o longa tem sido apontado, mesmo antes de seu lançamento, como o sucessor de franquias que ou já encontraram seu fim ou estão próximos dele, e nomes como os das sagas Harry Potter e Twilight são os primeiros que surgem em surgem à mente, neste caso. Geralmente, é difícil encontrar uma resposta definitiva para esta indagação quando a franquia ainda se encontra no começo, mas no caso de Jogos Vorazes, a resposta não é quase certa. Apesar da bem-vinda opção de debater um assunto moralmente relevante, o longa é defeituoso em diversos aspectos, não encanta o suficiente, e ao final dá a impressão de ser apenas uma aventura passageira.
Na América do Norte do futuro, o país Panem mantém o controle sobre os cidadãos através de uma competição. Vinte e quatro jovens, representantes de doze distritos, têm que lutar entre si por sobrevivência. Após a convocação da irmã para participar no jogo, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), uma garota de 16 anos, se torna voluntária para substituí-la. Na competição, Katniss se vê obrigada a tomar decisões críticas para sobreviver.
Jogos Vorazes é um daqueles casos onde, devido ao seu marketing incessante na mente do público (“O mais novo fenômeno mundial!”), acaba sendo sabotado por si mesmo. Roteirizado pelo próprio diretor Gary Ross em parceria com Billy Ray, o longa acerta na apresentação de sua mensagem que, como não poderia ser diferente, é o que há de mais interessante para oferecer. E como veículo de ação, o filme cumpre o que promete, entregando momentos empolgantes, com uma câmera trêmula e constantemente frenética que, ao acentuar a vulnerabilidade dos personagens a todo momento, insere um tom realista inesperado para algo do gênero. É uma experiência nervosa, tensa, porém devido somente ao bom trabalho de direção, já que em si, o longa é mal resolvido e deveras equivocado em diversos pontos.
Já em seus primeiros minutos, o roteiro começa já começa a revelar seus clichês ao desenvolver seus personagens de maneira insatisfatória, criando conflitos que, apesar de tocantes, logo se revelam previsíveis e apelativos, e mesmo a aproximação entre eles após o chamado para os jogos soa artificial e repentino. Os roteiristas preferem apresentar o potencial e as habilidades dos personagens do que trabalhar a interação entre os mesmos, o que poderia ter ajudado a experiência a tornar-se mais próxima e intima com o espectador. E repito: a emoção só existe devido ao trabalho competente de Ross na direção, já que se dependesse da empatia dos personagens, o nível de tensão seria quase nulo.
Mas mesmo o próprio diretor enfrenta seus percalços durante o trajeto, mais devido ao nível de censura da obra do que por pecados próprios. Em diversos momentos, é possível sentir a luta travada pela câmera do diretor com a faixa etária imposta, já que o mesmo parece querer mostrar mais do que lhe é permitido. Ora, a trama já é ousada o suficiente por colocar jovens e crianças confrontando-se entre si, por que impor tanta sutileza nas cenas mais viscerais? Com exceção do momento onde o jogo começa (aliás, momentos este que se mostra impactante e cinematograficamente memorável), não sentimos o choque ou o peso pelo fato de que são jovens vidas sendo sacrificadas ali, em prol de um espetáculo que enriquece alguns e aliena outros.
Da mesma forma, é possível sentir um certo maniqueísmo do roteiro no que se refere aos sentimentos que os personagens geram no público. Com exceção de Katniss e Peeta (Josh Hutcherson), pouco ou nada sabemos sobre as figuras restantes na tela, não sobrando outra alternativa que não seja torcer por aqueles dois personagens. Essa individualidade desenvolvida pelo roteiro, se evitada, poderia ter gerado uma experiência mais rica e desafiadora com os limites morais do espectador.
Mas se existe algo em que Jogos Vorazes se sai muito bem é na forma como apresenta sua mensagem, por vezes de forma sutil, por vezes de forma gritante. Apesar de situar-se num futuro desconhecido, a trama encontra um eco perfeito com a realidade atual, onde o consumismo, a alienação e a necessidade de se expor fala mais alto que os limites morais do ser humano. E Ross, sabendo disso, permite que este tom crítico acompanhe toda a narrativa do longa, seja pela linha dos acontecimentos ou por algumas cenas sutis criadas pelo diretor. Reparem, por exemplo, na iluminação cinza e opaca do Distrito 12, e nas cores berrantes e chamativas das pessoas que acompanham e patrocinam os jogos. É a forma encontrada por Ross de mostrar a necessidade do ser humano em consumir, em ser notado, em criar espetáculos, pouco importando o que isso possa custar. Sem excessos em sua exposição, Ross consegue transmitir sua mensagem de maneira madura e correta.
Mas sem querer ser injusto, o elenco também é responsável pela empatia gerada com o público, o que resolve o péssimo desenvolvimento do roteiro em cima dos personagens. Jennifer Lawrence (indicada ao Oscar por Inverno da Alma) realmente surpreende como a protagonista Katniss, revelando toda a sua experiência, mas também sua vulnerabilidade diante da situação. Josh Hutcherson mostra que não é somente um rosto bonito, construindo um nível de insegurança e integridade perfeitamente adequados para seu personagem. Stanley Tucci explora com maestria as nuances caricaturais do apresentador Caesar Flickerman, com trejeitos que combinam perfeitamente com seu papel de apresentador e animador do programa (e é uma pena que sua participação não seja tão generosa). Woody Harrelson está ótimo como Haymitch Abernathy, o mentor e conselheiro dos protagonistas, enquanto que Donald Sutherland transmite, com eficácia, toda a frieza do Presidente Snow, mesmo com poucas falas.
E apesar de pouco depender de sua parte técnica, o longa também não faz feio nestes quesitos. A trilha sonora de James Newton Howard e T-Bone é acertadamente sutil, surgindo nos momentos adequados e ausentando-se quando necessária. A direção de arte de John Collins, Robert Fechtman e Paul Richards é simplista, quase brega, mas que acentua a desumanidade da situação, enquanto que os figurinos de Judianna Makovsky impressionam por sua excentricidade e riqueza de detalhes. E os efeitos especiais, apesar de pouco presentes, também cumprem seu papel, embora vez ou outra deixem transparecer sua artificialidade.
Se Jogos Vorazes poderá gerar uma franquia lucrativa e de boa qualidade? É possível que não, se as coisas permanecerem nesse caminho. A ousadia presente na trama, por si só, já faz valer a conferida, mas a sensação deixada ao final é de uma experiência mal delineada, construída de forma apressada e fria, resultando numa diversão passageira e esquecível. E com a sequência já confirmada, é torcer para que novos rumos surjam no desenrolar da franquia.
Na América do Norte do futuro, o país Panem mantém o controle sobre os cidadãos através de uma competição. Vinte e quatro jovens, representantes de doze distritos, têm que lutar entre si por sobrevivência. Após a convocação da irmã para participar no jogo, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), uma garota de 16 anos, se torna voluntária para substituí-la. Na competição, Katniss se vê obrigada a tomar decisões críticas para sobreviver.
Jogos Vorazes é um daqueles casos onde, devido ao seu marketing incessante na mente do público (“O mais novo fenômeno mundial!”), acaba sendo sabotado por si mesmo. Roteirizado pelo próprio diretor Gary Ross em parceria com Billy Ray, o longa acerta na apresentação de sua mensagem que, como não poderia ser diferente, é o que há de mais interessante para oferecer. E como veículo de ação, o filme cumpre o que promete, entregando momentos empolgantes, com uma câmera trêmula e constantemente frenética que, ao acentuar a vulnerabilidade dos personagens a todo momento, insere um tom realista inesperado para algo do gênero. É uma experiência nervosa, tensa, porém devido somente ao bom trabalho de direção, já que em si, o longa é mal resolvido e deveras equivocado em diversos pontos.
Já em seus primeiros minutos, o roteiro começa já começa a revelar seus clichês ao desenvolver seus personagens de maneira insatisfatória, criando conflitos que, apesar de tocantes, logo se revelam previsíveis e apelativos, e mesmo a aproximação entre eles após o chamado para os jogos soa artificial e repentino. Os roteiristas preferem apresentar o potencial e as habilidades dos personagens do que trabalhar a interação entre os mesmos, o que poderia ter ajudado a experiência a tornar-se mais próxima e intima com o espectador. E repito: a emoção só existe devido ao trabalho competente de Ross na direção, já que se dependesse da empatia dos personagens, o nível de tensão seria quase nulo.
Mas mesmo o próprio diretor enfrenta seus percalços durante o trajeto, mais devido ao nível de censura da obra do que por pecados próprios. Em diversos momentos, é possível sentir a luta travada pela câmera do diretor com a faixa etária imposta, já que o mesmo parece querer mostrar mais do que lhe é permitido. Ora, a trama já é ousada o suficiente por colocar jovens e crianças confrontando-se entre si, por que impor tanta sutileza nas cenas mais viscerais? Com exceção do momento onde o jogo começa (aliás, momentos este que se mostra impactante e cinematograficamente memorável), não sentimos o choque ou o peso pelo fato de que são jovens vidas sendo sacrificadas ali, em prol de um espetáculo que enriquece alguns e aliena outros.
Da mesma forma, é possível sentir um certo maniqueísmo do roteiro no que se refere aos sentimentos que os personagens geram no público. Com exceção de Katniss e Peeta (Josh Hutcherson), pouco ou nada sabemos sobre as figuras restantes na tela, não sobrando outra alternativa que não seja torcer por aqueles dois personagens. Essa individualidade desenvolvida pelo roteiro, se evitada, poderia ter gerado uma experiência mais rica e desafiadora com os limites morais do espectador.
Mas se existe algo em que Jogos Vorazes se sai muito bem é na forma como apresenta sua mensagem, por vezes de forma sutil, por vezes de forma gritante. Apesar de situar-se num futuro desconhecido, a trama encontra um eco perfeito com a realidade atual, onde o consumismo, a alienação e a necessidade de se expor fala mais alto que os limites morais do ser humano. E Ross, sabendo disso, permite que este tom crítico acompanhe toda a narrativa do longa, seja pela linha dos acontecimentos ou por algumas cenas sutis criadas pelo diretor. Reparem, por exemplo, na iluminação cinza e opaca do Distrito 12, e nas cores berrantes e chamativas das pessoas que acompanham e patrocinam os jogos. É a forma encontrada por Ross de mostrar a necessidade do ser humano em consumir, em ser notado, em criar espetáculos, pouco importando o que isso possa custar. Sem excessos em sua exposição, Ross consegue transmitir sua mensagem de maneira madura e correta.
Mas sem querer ser injusto, o elenco também é responsável pela empatia gerada com o público, o que resolve o péssimo desenvolvimento do roteiro em cima dos personagens. Jennifer Lawrence (indicada ao Oscar por Inverno da Alma) realmente surpreende como a protagonista Katniss, revelando toda a sua experiência, mas também sua vulnerabilidade diante da situação. Josh Hutcherson mostra que não é somente um rosto bonito, construindo um nível de insegurança e integridade perfeitamente adequados para seu personagem. Stanley Tucci explora com maestria as nuances caricaturais do apresentador Caesar Flickerman, com trejeitos que combinam perfeitamente com seu papel de apresentador e animador do programa (e é uma pena que sua participação não seja tão generosa). Woody Harrelson está ótimo como Haymitch Abernathy, o mentor e conselheiro dos protagonistas, enquanto que Donald Sutherland transmite, com eficácia, toda a frieza do Presidente Snow, mesmo com poucas falas.
E apesar de pouco depender de sua parte técnica, o longa também não faz feio nestes quesitos. A trilha sonora de James Newton Howard e T-Bone é acertadamente sutil, surgindo nos momentos adequados e ausentando-se quando necessária. A direção de arte de John Collins, Robert Fechtman e Paul Richards é simplista, quase brega, mas que acentua a desumanidade da situação, enquanto que os figurinos de Judianna Makovsky impressionam por sua excentricidade e riqueza de detalhes. E os efeitos especiais, apesar de pouco presentes, também cumprem seu papel, embora vez ou outra deixem transparecer sua artificialidade.
Se Jogos Vorazes poderá gerar uma franquia lucrativa e de boa qualidade? É possível que não, se as coisas permanecerem nesse caminho. A ousadia presente na trama, por si só, já faz valer a conferida, mas a sensação deixada ao final é de uma experiência mal delineada, construída de forma apressada e fria, resultando numa diversão passageira e esquecível. E com a sequência já confirmada, é torcer para que novos rumos surjam no desenrolar da franquia.
Nota: 6.0
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