4. Don Bluth
Se você não ouviu falar desse nome, aqui vão
algumas dicas: “The Secret of NIMH”,
“An American Tale” (candidato pelo
AFI para uma das 10 melhores animações de todos os tempos), “Em Busca do Vale Encantado” (sim,
aquele com mais de duas mil continuações) e “Todos os Cães Merecem o Céu”. Da cabeça desse homem saíram
animações que batiam corpo a corpo com a Disney. Don Bluth era um nome que,
quando aparecia no cartaz, todos corriam para ver o filme, e entrou para a
história como o melhor animador americano dos anos 80.
Só dos anos 80, na verdade. Na década
seguinte, alguma coisa aconteceu com sua mente, que passou a produzir filmes
cada vez mais bizarros. Não que suas primeiras obras fossem muito ortodoxas,
mas é que seus característicos defeitos começaram a sobrepujar as virtudes. Nos
anos 90, a marca Bluth foi associada a fracassos contínuos de bilheteria e
crítica, que ele fez questão de coroar na virada do milênio com “Titan” – um fracasso de bilheteria tão
retumbante que jogou um ponto final em seu estúdio e sua carreira.
O mais assustador em toda a história? Aqui
temos um homem de inegável talento e feroz persistência que simplesmente perdeu
o fim da meada; ninguém sabe exatamente o que ele fez de errado para que seus
filmes perdessem a qualidade. Sua técnica permaneceu a mesma, sua linha de
criação e trabalho não mudou, ele simplesmente perdeu o “toque mágico” de
outrora. E isso pode acontecer com qualquer um de nós, por mais alto que
cheguemos ou por maiores que sejam nossos esforços.
3. Robert Zemeckis
Seus filmes não foram apenas grandes obras.
Robert Zemeckis assinou algumas das mais icônicas criações do cinema, como a
eterna franquia “De Volta para o Futuro”,
o revolucionário “Uma Cilada para Roger
Rabbit”, o inesquecível “Naúfrago”
(“Wilsooooon!”) e o papa-Oscar arrasa-quarteirões “Forrest Gump”. Mas se a vida é mesmo uma caixa de chocolates e
nunca sabemos o que vamos encontrar, pelo menos Zemeckis carrega boa parte da
culpa pela sua espetacular queda.
Sua descida do posto de “Deus do Cinema” ao
título de “vergonha-alheia” começou quando o diretor resolveu experimentar uma
nova tecnologia de animação: a captura de movimento. Seu primeiro experimento
foi com “O Expresso Polar”, um filme caro e tedioso demais que se traduziu em
dupla-decepção: a de público e crítica. Isso já soaria o alarme em diretores
mais sensatos, mas Zemeckis decidiu persistir um pouco mais com “A Lenda de
Beowulf”. Estranhamente, maior defeito do filme foi ter sido filmado com a técnica
(que o deixou com um visual bizarro e falsete), e não com o tradicional
live-action. Crítica morna e fracasso ainda maior nas bilheterias.
A esta altura, a captura de movimentos já se
tornara zebra entre o grande público. Animações criadas através dela já
começavam com um pé atrás. Mas Zemeckis, em um acesso inexplicável de teimosia,
decidiu fundar a própria empresa dedicada à técnica: a ImageMovers
Digital.
A coisa começou a feder muito em sua próxima
obra, “Os Fantasmas de Scrooge”, que gentilmente deixou um rombo de 50 milhões
de dólares nos cofres da Disney. Ainda assim, Zemeckis conseguiu 200 milhões
para produzir o bizarro “Marte Precisa de Mães” (adaptação de uma obra
literária popular nos EUA). Foi o maior desastre de bilheteria de todos os
tempos (não corrigido por inflação), vaporizando quase 150 milhões dos cofres
da Disney e levando a ImageMovers à
falência.
Hoje, este diretor de 32 indicações ao Oscar
(com 12 vitórias) é mais um bobo-da-corte do que um respeitado senhor. A
crítica o acusa de se importar com “quantidade” e não “qualidade” e os estúdios
ainda o hostilizam pelos rombos somados de quase 300 milhões de dólares desde o
ano 2000. Se a delicadeza não convence, resta a força: Zemeckis finalmente retornará ao live-action com o filme “Flight”, em 2013, na esperança de que tenha aprendido uma lição.
Não que hoje muita gente se importe,
infelizmente.
2. M. Night Shyamalan
Surpreso? Claro que não. É provável que você
estivesse se perguntando quando é que o nome dele iria aparecer. Vários fatores
contribuíram para transformar Shyamalan em uma lenda trágica de Hollywood,
desde o ego cavalar do diretor até as expectativas exageradas da crítica. Ele é
uma história em que todo mundo carrega alguma parcela de culpa.
Quando “O
Sexto Sentido” chegou aos cinemas, seu efeito sobre o mundo foi o mesmo que
um “Matrix” ou um “Star Wars” da vida. Com apenas uma obra relevante na
carreira, Shyamalan ganhou a pecha de “um dos melhores diretores de suspense de
todos os tempos” (isso mesmo, “de todos os tempos”). Os mais exagerados o
chamaram de “o próximo Hitchcock”. Não é surpresa que, quando suas obras
seguintes chegaram ao cinema, o povo percebeu que havia exagerado “um
pouquinho” (embora eu considere “Corpo Fechado” a sua obra-prima, e não “O
Sexto Sentido”). Shyamalan passou a ser criticado por não corresponder às expectativas criadas em torno dele. Ou seja: “Síndrome de Welles”.
No outro lado da balança, temos o próprio
diretor como algoz de sua carreira: não bastou ser chamado de “o próximo
Hitchcock”; Shyamalan parece que ACREDITOU nisso! Seja em festivais ou em propagandas,
ele desfilava e se descrevia como um grande gênio, e prometia que suas próximas
obras fariam “O Sexto Sentido” parecer algo menor e sem importância. Enfim, se
o povo criou expectativas, Shyamalan as inflou. E arcaria com as conseqüências
severas.
Até “Sinais”, sua carreira seguia firme; ele
era apenas um diretor que não igualara sua obra máxima, só isso. O problema
veio com “A Vila”, a primeira brusca queda de qualidade em seu estilo. A
crítica foi impiedosa, e Shyamalan, acostumado com o tratamento de gênio,
ressentiu-se e decidiu se vingar com “A Dama da Água”. Excêntrico, esquisito,
sem coerência e tecnicamente desastrado, “A Dama da Água” não só era um filme
horrível como um desfile egocêntrico de seu autor: Shyamalan reserva para si o
papel de “Escolhido” e, de quebra, faz do vilão um crítico literário.
Não era apenas um filme ruim; era um desafio aberto à paciência do público.
A coisa havia se tornado pessoal: com “Fim
dos Tempos”, Shyamalan provara que era capaz de criar atrocidades. Sua
constante vista grossa a qualquer crítica só o distanciava cada vez mais do
público. Quando as pessoas acreditavam que o fundo do poço havia sido atingido,
Shyamalan estupra uma das mais amadas séries de TV da década: “O Último Mestre
do Ar”, baseado na série “Avatar: a Lenda de Aang”, chega a ser épico de tão
ruim que é. Um crítico comentou, simplesmente: “Já está na hora de todos
admitirmos: Shyamalan teve sorte com ‘O Sexto Sentido’”.
Video ''No One Likes M. Night Shyamalan'', satira sobre a atual reputacao do diretor
No início do milênio, o nome de Shyamalan era
o suficiente para atrair multidões ao cinema; hoje, possui o efeito contrário.
Durante o trailer de “Demônio”, escrito por ele, algumas pessoas reportaram que
a platéia vaiou e gargalhou quando a seguinte frase surgiu: “Da mente de M. Night
Shyamalan”. Seu nome virou sinônimo de “fracasso”, uma piada dentro dos
estúdios de cinema.
O que o separa do primeiro colocado desta
lista é que, pelo menos, Shyamalan conseguiu evitar grandes fracassos de
bilheteria. Se a sua pessoa é um ícone contemporâneo
do fracasso, o primeiro colocado é um ícone HISTÓRICO. Trata-se do homem que
afundou o mais lendário estúdio de Hollywood, fundado pelo próprio Charles
Chaplin; foi ele quem deu um fim na Era dos Diretores (anos 70), em que as
pessoas criativas detinham o poder das produções, e não os burocratas. Talvez a
personalidade mais odiada da história do cinema, ninguém menos que...
1. Michael Cimino
Todas as personalidades desta lista (à
exceção de Welles) atingiram o fundo do poço após uma sucessão de obras desastradas.
Cimino não: ele precisou de apenas uma. Até hoje ninguém ousa pronunciar o nome
“Heaven’s Gate” dentro de um
estúdio; dizem que dá azar. Não apenas foi um dos maiores fracassos de
bilheteria já registrados; “Heaven’s Gate” conseguiu também afundar a sua
produtora – a United Artists, fundada em 1919 pelos quatro maiores nomes do
cinema até então (Charles Chaplin, D. W. Griffith, Mary Pickford e Douglas
Fairbanks) – e deu um fim a uma das eras mais vigorosas do cinema americano.
Mas vamos por partes...
Tudo começou em 1978, quando Cimino havia
terminado “O Franco-Atirador”. Se sua carreira já estava em alta devido ao seu
“O Último Golpe”, com Clint Eastwood, ela disparou aos céus com “O
Franco-Atirador”, que angariou aclamação crítica sem precedentes e 5 Oscars –
incluindo Melhor Filme e Direção. Cimino havia se tornado grande; não apenas
grande, mas o maior de todos: era a época em que também despontavam Martin
Scorsese, George Lucas, Brian de Palma, Steven Spielberg e Woody Allen... de
todos esses “Carinhas do Cinema” (como eram chamados, devido à pouca idade e
experiência), Cimino era considerado o maior e o mais promissor. Não foi à toa
que a United Artists o contratou e o concedeu liberdade completa de criação
para seu próximo filme.
Era uma prática muito comum durante aquela
década, hoje apelidada de “Era dos Diretores”: eram os diretores quem
controlavam os gastos dos filmes, tendo absoluta liberdade para fazer o que bem
entendessem. Os estúdios achavam que, nas mãos de pessoas talentosas, todo filme
seria grandioso, não importasse o gasto. A fórmula já apresentava desgastes,
com grandes diretores começando a derrapar (Spielberg em “1941”, Scorsese em “New
York, New York” e Allen com “Interiors”), mas nada que ainda preocupasse os
magnatas da época.
Então veio Cimino, que decidiu criar “o maior
Western já feito”: “Heaven’s Gate” seria o filme definitivo, que o marcaria
como um dos maiores diretores de todo o sempre (o próprio Cimino se vangloriava
disso durante os sets). Para que sua obra ficasse perfeita, o que se seguiu foi
um show de extravagâncias: Cimino recrutou mais de 1200 figurantes e exigiu que
até os cavalos fossem entrevistados. Sob suas ordens, uma cidade inteira e
totalmente funcional foi erguida no meio do nada, com tudo que tinha direito:
banco, hotéis, lojas e uma estação de trem. As peças de roupa deviam ser
autênticas; ou seja, não adiantava produzi-las – o estúdio teve que COMPRAR
roupas da época, às vezes a preços exorbitantes por apenas uma peça.
Cimino, agora ''Elizabeth'', apos uma polemica e inexplicada mudanca de sexo.
Não eram apenas os materiais que
impressionavam; o andamento das gravações seguia um ritmo excruciante. Era
comum que a equipe passasse um dia inteiro sem nenhuma refeição e conseguisse
gravar APENAS UMA CENA (às vezes, nem isso). Cimino fazia questão que os
personagens certos estivessem nos lugares certos – mesmo que isso envolvesse
organizar, um por um, mais de 100 figurantes em uma cena. O primeiro corte do
filme terminou com mais de 5 horas de duração – a cena da batalha final,
sozinha, durava uma hora e vinte minutos.
Resultado: o filme, que era para ser
realizado em seis meses, demorou dois anos para chegar aos cinemas. O custo
inicial de 7 milhões de dólares pulou para inimagináveis 40 milhões – um
recorde para a época. Àquela altura, “Heaven’s Gate” havia angariado o ódio de
muitos artistas, que viam seus projetos negados pela UA por causa da drenagem
de dinheiro que o filme estava causando.
Seu lançamento foi marcado pelo caos; um
crítico comentou: “parece que Cimino
vendeu sua alma ao diabo quando fez ‘O Franco-Atirador’ e o diabo veio cobrar a
conta em ‘Heaven’s Gate’”. O filme foi classificado por outro como “um desastre sem precendentes”. Por todos
os lados, Cimino começou a sofrer o ódio que Hollywood havia nutrido contra
suas excentricidades; o público não foi menos misericordioso: o filme angariou
apenas 3,4 milhões nas bilheterias, deixando um rombo de mais de 35 milhões
para a UA – era a falência da mais lendária produtora de Hollywood. Graças a isso,
os demais estúdios deram um fim à farra dos diretores e enrijeceram o controle
de gastos dos filmes, temerosos de que eles acabassem com o mesmo destino da UA. Foi o ponto final para o reino das pessoas criativas.
Cimino nunca mais foi perdoado pela
atrocidade que criara; todos os seus filmes seguintes, independente de
qualidade, eram imediatamente rechaçados pela crítica e esnobados pelo público.
Sua última criação, “Sunchaser”, foi estimado em 12 milhões de dólares e
arrecadou pífios 35.000 – dando um fim definitivo à carreira do diretor. Hoje,
ele vive em auto-exílio na Europa, tendo executado uma cirurgia de mudança de
sexo (!!). Falar sobre ele em qualquer ambiente de cinema é visto como falta de
educação e o termo “Heaven’s Gate”, até hoje, é usado para denominar um filme
muito caro e sem quaisquer perspectivas com a bilheteria.
CLIQUE AQUI e assista ao documentário sobre Cimino e a produção de “Heaven’s Gate”. (apenas em ingles, sem legendas)
Desses diretores, conheço apenas M. Night Shyamalan, que, aliás, considero um diretor bastante sóbrio nos seus filmes e interessante enquanto criador, ainda que, por exemplo, eu tenha detestado The Happening, mas devido à sua história, não à direção de Shyamalan.
ResponderExcluirE também conheço "Todos os cães merecem o céu", um dos filmes mais lindos que já vi.
Shyamalan não deveria estar nessa lista. Se caiu como roteirista, ainda é um ótimo diretor, que domina a linguagem como poucos.
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