Ok, agora vamos cair na real: não só os
casos de super-estrelas são exceções como quem chega ao topo quase nunca
permanece nele. E a parte mais triste destas histórias não é a dos grandes
atores e atrizes esquecidos; são de seus diretores. Não são poucos os casos de
grandes criadores que subiram muito depressa e caíram mais depressa ainda.
Alguns encontraram justiça com o tempo enquanto outros simplesmente terminaram
na miséria e no esquecimento.
Esta é uma lista com os dez casos mais
notórios de diretores que atingiram o luxo... e voltaram ao lixo.
10. Orson Welles
Seu nome é venerado até por aqueles que não se simpatizam
com seus filmes. Procure em qualquer lista de maiores diretores de todos os tempos:
Orson Welles seguramente estará nas 10 primeiras posições. Mas o diretor
encontrou o devido reconhecimento apenas em seus últimos anos – praticamente
depois de morrer. Sua vida profissional consistiu em intermináveis brigas de
cabo-de-guerra com as produtoras, frias (e injustas) recepções pela crítica e
desinteresse do grande público.
Todos os revezes que Welles enfrentou na vida vieram –
que irônico! – de sua obra-prima “Cidadão
Kane”: ao alfinetar a vida do magnata Randolph Hearst e desmascarar a
hipocrisia da mídia americana na época, Welles fez um filme bastante incômodo
para muitos figurões, ganhando imediata antipatia dos grandes estúdios. O
próprio Hearst ofereceu 100.000 dólares para que o filme não fosse exibido aos
cinemas. Some-se a isso o fato de que “Cidadão Kane” não foi um sucesso de
bilheteria (poucos de seus filmes seriam) e Welles caiu para as últimas
posições na lista de preferências das produtoras.
Praguejado pela pecha de nunca conseguir repetir a mesma
grandeza de seu primeiro filme (em grande parte por causa das restrições
criativas impostas pelos estúdios), suas obras eram constantemente esnobadas
pela crítica. Era um desprezo tão constante que ficou conhecido como “Síndrome
de Welles”: quando um autor realiza uma grande obra e nunca mais consegue
repetir a façanha.
Justiça seja feita, há uma razão para Welles estar em
último lugar nesta lista: hoje, ele é um gênio. Seu nome é sinônimo de cinema.
Seus filmes, antes desprezados, agora são aclamados como clássicos à altura de
sua magnum opus (“Soberba”, “A Marca
da Maldade”, “Verdades e Mentiras”...). A história trouxe o reconhecimento que
a vida lhe desprezou; ainda assim, não é suficiente para apagar o fato de que
sua situação já foi tão precária que ele se reduziu a papéis como dublador de
séries de TV (ele era o Megatron da série animada dos “Transformers”).
9. Zack Snyder
Ok, ok: ele talvez seja muito novinho para entrar nesta
lista. E, sim, sua obra “máxima” (“300”)
não é prova de genialidade alguma. Mas a carreira de Zack Snyder enfrenta uma
torrente de podridão tão grande que a palavra “zebra” já é a que melhor se
encaixa para descrevê-la.
Este aficionado por efeitos digitais e slow motion começou a carreira com o
remake de “Madrugada dos Mortos”, que tinha mais apelo ao público do que
qualidade artística. O sucesso lhe botou na direção de “300”; daí para frente,
ele foi coroado como o diretor mais quente de Hollywood. Sua próxima obra, a
adaptação do venerado “Watchmen”, trazia a descrição nos pôsteres: “Do visionário diretor de ‘300’”. E foi aí
que tudo degringolou.
“Watchmen”, à exceção de uma cena ou outra (os dez
minutos iniciais são PERFEITOS), era uma obra mais-do-mesmo; comparada ao
material em que se inspirou, uma vergonha. Nas bilheterias, fracasso. Os
estúdios apostavam em Snyder não como um diretor de Oscars, mas como a nova
máquina de blockbusters. Acabaram descobrindo que ele não era nem um nem outro.
A próxima tentativa do diretor foi “A Lenda dos
Guardiões”, que revelou o quão forçadas e clichês eram as suas escolhas
artísticas (o excesso de slow motion
e de dramalhões pseudo-épicos). Foi um dos maiores fracassos financeiros de seu
ano. O fundo do poço foi atingido com “Sucker Punch”, mais uma adaptação de
quadrinhos que terminou na lista de piores filmes de muitos críticos (incluindo a do cineasta Quentin Tarantino).
Mas há esperança para Snyder, que hoje trabalha no reboot da franquia do Superman – e conta
com a parceria dos irmãos Nolan, que providenciaram a produção e o roteiro.
Ainda assim, um caso típico de um diretor que foi aclamado cedo demais e sem
grande justificativa.
Que raios aconteceu com Fracis Ford Coppola, o cineasta mais imponente dos anos 70 e patriarca de uma notável dinastia hollywoodiana (Sofia Coppola hoje carrega o cetro da família)?! Digo... trata-se do homem que dirigiu e escreveu “O Poderoso Chefão”, “A Conversação”, “Apocalypse Now” e criou (como roteirista) o filme “Patton”. Do homem que conseguiu a proeza de concorrer contra si mesmo em uma mesma edição do Oscar (“O Poderoso Chefão - Parte II” e “A Conversação”, ambos para Melhor Filme)? Em dez anos, desde 1970, suas produções (dirigidas ou apenas escritas) somaram 21 Oscars (de espetaculares 44 indicações) e o tornaram a mais brilhante estrela entre os “Film Brats” (“carinhas do cinema”: turma de cineastas precoces que despontaram na década de 70, incluindo Martin Scorsese , Steven Spielberg e George Lucas). Então... o que aconteceu?!
Para os que respondem “nada”, a pergunta: qual foi a última grande produção assinada por Coppola? Em minha opinião, “Drácula”, de 1992. Só. E ela foi uma exceção em um mar de filmes bons ou grandiosos, mas esquecidos (''Vidas sem Rumo'', ''Seu Passado a Espera''...) e prejuízos colossais (''One For the Heart'', ''O Selvagem da Motocicleta'', ''The Cotton Club'', ''Jardins de Pedra''...) que o diretor angariava até então, o que o distanciava cada vez mais das grandes produtoras. Buscando financiamentos privados ou com a ajuda de sua American Zoetrope, Coppola afundou em dívidas e assinou declarações de falência ao longo dos anos 80 e 90, seguindo caminho parecido com o de seu sobrinho Nicholas Cage (cujos gastos eram por excentricidades típicas de um garoto mal-acostumado com a riqueza súbita). Na virada do milênio, o mestre renegou Hollywood e adotou o gênero indie (infelizmente, mais por incapacidade de atrair grandes produtoras do que por vontade própria), com resultados frustrantes, para dizer o mínimo. Hoje, Coppola é mais bem sucedido como produtor de vinhos, paixão que ele cultivava desde a adolescência, e a ausência de grandes projetos para o futuro faz com que o retorno deste gênio seja cada vez mais improvável.
7. Roberto Benigni
Se você se emocionou com “A Vida é Bela” (é provável que sim), pode creditar essa grande obra
a Roberto Benigni, que levou o Oscar por Melhor Filme Estrangeiro e foi
catapultado ao status de “Pedro Almodóvar” no quesito “cineastas
não-americanos”. Tudo para estraçalhar sua carreira arriscando-se em comédias
pastelonas – no mal sentido do termo: “Asterix e Obelix contra César” (1999) e
o supra-sumo da podridão “Pinóquio” (2002), hoje considerado como um dos piores
filmes já feitos.
Não que sua carreira e talento tenham sido soterrados:
Benigni ainda é figura certa em festivais europeus e seus trabalhos recentes
vêm-lhe angariando prêmios e menções de honra. Entretanto, o seu estrelato já
está bem enterrado e decomposto.
6. Terry Gilliam
Ex-Monty Python (e também diretor de dois filmes do
grupo), autor de “Brazil” e “12 Macacos”, a carreira errática de
Gilliam é marcada por alguns altos e inúmeros baixos. À exceção de seu
envolvimento com os Python, Gilliam nunca conseguiu uma grande bilheteria; seu
nome foi riscado permanentemente dos grandes estúdios após o mega-fracasso “As
Aventuras do Barão Munchausen” – ainda um dos maiores rombos financeiros da
história.
Um diretor em constante crise de identidade, ele foi
capaz de dar ao mundo maravilhas como “Brazil” e porcarias como “Os Irmãos
Grimm”. Recentemente, ele fez graça de sua situação ao aparecer em uma
conferência vestido de mendigo e portanto uma placa de papelão com os dizeres:
“Dirijo filmes por comida”. Na verdade, doações independentes são a única forma
com que ele mantém a carreira e fizeram dele um freqüente crítico dos grandes
estúdios – o que não ajuda nem um pouco a sua situação.
5. Os Irmãos Wachowski
Sucesso de bilheteria, fenômeno cultural, aclamação
crítica e estudo filosófico e social. “Matrix”
continua sendo um dos filmes mais icônicos do cinema, tendo transformado os seus
criadores, os irmãos Andy e Larry Wachowski, em estrelas da mais alta grandeza.
Misteriosos, reservados e esquisitões: era impossível não ficar tentado a
rotulá-los de “gênios”, e foi isso que revistas como “Empire” e “Time” fizeram.
Até que vieram as seqüências “Matrix Reloaded” e “Matrix
Revolutions”, carregadas de excentricidades, clichês e bobagens nonsenses. De certa
forma, o mundo se sentiu traído; as seqüências pareciam piadas comparadas ao
original. Para os fãs mais ferrenhos, “Matrix” nunca ganhou continuação e deve
ser considerado como um filme solitário, tendo os outros dois como meros “spin-offs”.
Mas a maré de decepção não para por aí; não bastou que os
irmãos Wachowski se desentendessem com a crítica; eles fizeram questão de
coroar a carreira com um dos dez maiores rombos de bilheteria de Hollywood:
“Speed Racer”, uma adaptação desastrada e esquizofrênica (assista e entenderá)
de uma série de TV morta há décadas.
Como prêmio de consolação, eles se saíram melhor como
produtores, trazendo pequenas pérolas como “V de Vingança” e “Animatrix”. Seu
próximo projeto, “Cloud Atlas”, é cercado por desconfiança e indiferença – e, dada
a situação de suas carreiras, será um filme decisivo para o futuro da dupla.
Zack Snyder, um dos cineastas mais incompreendidos dos últimos anos...
ResponderExcluirE tenho certeza que M. Night Shyamalan, outro extremamente injustiçado, vai estar na próxima lista, hahaha.
ResponderExcluirÉ verdade, nem lembrava mais dos irmãos Wachowski, uma pena mesmo.
ResponderExcluirlista bacana, mas recito o mesmo que o Rafael: Zack Snyder é realmente um dos cineastas mais incompreendidos dos últimos anos.
ResponderExcluir300 é bacana, e Watchmen ficou melhor do que eu esperava. Só os dois últimos filmes do diretor que eu acho que foram falha, mesmo...