Abaixo, segue a entrevista:
CL - Quando e como se deu sua paixão pela sétima arte?
Vinícius - Eu comecei a me interessar pelo cinema de forma mais ampla quando vi
“Sangue Negro”, que pelos meus olhos passava a mesma mensagem da Teoria do Bom
Selvagem (O homem nasce puro e a sociedade o corrói) que eu tinha acabado de
ver na aula de História, só que no filme com mais foco na ganância. Com toda
aquela lentidão épica mais a perfeição técnica, enxerguei pela primeira vez que
o cinema ia muito além do divertimento. Depois, descobri o Cineplayers e meus
olhos se abriram mais ainda – sendo que o cinema já me surpreendia antes pelos
vários temas.
CL - Como você enxerga o cinema e de forma ele afeta sua vida?
Vinícius - Eu vejo de modo mais geral que o cinema busca, mesmo que várias vezes a
partir de clichês, retratar o Homem, seja na sociedade ou no Universo. O cinema
afeta minha vida porque é graças a ele que presto mais atenção no mundo à
volta, e em outros filmes minha ajuda a prestar mais atenção em mim mesmo. Tem
filme pra tudo, desde pra se entender e se identificar melhor na sociedade, a
até entender – ou questionar – nosso pequeno papel nela, passando por outras
filosofias, metalinguagens, consolos (como entretenimentos otimistas), etc.
Gosto porque é uma área muito abrangente
CL - O que lhe levou a abrir um espaço pessoal para falar sobre cinema?
Começou
com a vontade de desabafar meus sentimentos sobre vários filmes. O blog antes
era só para depositar opiniões minhas que muita gente não compartilhava.
Depois, escrever críticas virou prazer, e lendo Cineplayers e Cinelupinha vi
que dava para ficar bem melhor – aí comecei a melhorar os textos, colocar fotos
no início, inserir quebra de linha, etc.CL - Você possui alguma forma específica para analisar um filme?
Vinícius - Eu começo prestando mais atenção no objetivo do filme. A maioria é feito
só para entreter, de fato, mas eu quero dizer que observo o quanto o filme se
esforça, sua(s) estratégia(s) para alcançar o objetivo, e aí vejo se a intenção
foi cumprida. Já filmes com melhor intenção são mais interessantes de analisar,
porque você não parte tanto de pontos distintos que dificultam ou dividem sua
concentração naquilo. Por exemplo, em “Planeta dos Macacos – A Origem” deve-se
prestar atenção no roteiro, na direção, nos personagens e na qualidade técnica.
Já “Melancolia” é mais para decifrar a mensagem de Von Trier e o quanto ela é
ousada ou significativa, do que prestar atenção no resto dos aspectos, que são
detalhes menos relevantes que a intenção nesse caso.
CL - Existe algo que lhe desagrada dentro do ramo cinematográfico?
Vinícius - Acho que a dificuldade no Brasil de entrar e se bem-suceder no ramo. O
cinema é muito mal compreendido por aqui, e os cineastas têm pouquíssima chance
de se dar bem por aqui e revolucionar o cinema de sua própria nacionalidade.
CL - Você possuir preferência por algum diretor, ator ou gênero?
Vinícius - De gênero, há vários que adoro, não tenho um preferido. De diretor, no
geral sou um grande admirador de Kubrick e Sergio Leone, cada um com seu estilo
– e acho uma delícia assistir os filmes do Hitchcock. Dos mais contemporâneos,
meu favorito é David Fincher, junto com o Tarantino. Não tenho um ator/atriz
preferido, mas adoro Henry Fonda, James Stewart, Robert DeNiro, Marlon Brando,
Denzel Washington, Meryl Streep, Vivian Leigh, Liz Taylor, Kate Winslet, Natalie
Portman (minha paixão mais recente), etc. Confesso que preciso ainda ver
Charles Chaplin...
CL - Qual seu filme preferido e por quê?
Vinícius - Meu preferido deve ser “2001 – Uma Odisseia no Espaço”. Ainda que tenha
gente que odeie, eu acho um filme de proporções infinitas, tanto no audiovisual
quanto em seus enigmas filosóficos que saltam da tela toda vez que vejo esse
filme de novo. Ainda não decifrei por completo o que ocorria na mente de
Kubrick, mas já sei por partes que ele tinha razão enquanto filmava essa
obra-prima.
CL - Existe alguma cena ou sequência de algum filme que tenha lhe marcado?
Vinícius - Sim, é de “Cidadão Kane”. Em que o Orson Welles bagunça todo o quarto
para encontrar a bola de cristal que ele chama de Rosebud, e então passa por um
corredor com espelho em ambas as paredes, formando a imagem maravilhosa de
Charles Kane caminhando melancólica e traumaticamente numa imensidão de
reflexos melancólicos e traumatizados seus. Sublime.
CL - O que você acha do cinema nacional?
Vinícius - Eu acho que tem muita gente pensando que o cinema nacional é pequeno e
que precisa de muito ainda para evoluir. Mas não é bem assim. Tem tanto filme
bom brasileiro que pouca gente conhece (além de “Central do Brasil”, “Cidade de
Deus” e “Tropa 2”), que merece destaque e tem sim muita relevância. Cineasta
brasileiro autoral ainda tem até mais veia artística que a maioria dos
americanos (olhe por exemplo Glauber Rocha). O que falta mesmo é reconhecimento
– o circuito nacional tá comercial demais – e a decência de entregar ao público
este tal reconhecimento.
CL - O que acha do Oscar?
Vinícius - Lembro-me quando o Oscar premiava grandes filmes mesmo, por mais que
houvessem melhores àqueles tempos. Hoje, o máximo que achamos de justo neste
século XXI nas escolhas do Oscar é “Onde os Fracos Não Têm Vez”, mas agora
virou disputa ganhar prêmio. “Chicago”, “Quem Quer ser um Milionário”, “Guerra
ao Terror”, “O Discurso do Rei”... É tudo ganhador de campanha. E assim a
Academia não consegue nunca abrir seus olhos para o que de fato é o Melhor
Filme. Queria que fosse, respectivamente, “O Pianista”, “Batman – O Cavaleiro
das Trevas”, “Bastardos Inglórios” ou “Lunar”, “A Rede Social” ou “Cisne
Negro”... E para 2012 já temos um favorito meloso, pelo que parece - e lá vai o
Oscar de novo...
CL - Finalizando, cite uma frase de algum filme que tenha sido especial para você?
Vinícius - Há um diálogo que sempre me recordo quando reflito sobre os (maus) valores
da sociedade:
_ Entendi a teoria. Você é
inteligente.
_ Bem, obrigado.
_ Então, como está indo?
_ Indo o quê?
_ Ser inteligente.
_ Ah! Bem bacana.
_ Então continue assim.
(CLUBE DA LUTA)
Boa entrevista. Parabéns!
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