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terça-feira, 26 de abril de 2011

Poesia (2011)



Quem é a figura do artista? Ele é aquele que cria a beleza? Ou aquele que se permite enxergar a beleza nas coisas que o cotidiano torna prosaico? Talvez seja uma redescoberta de si mesmo e a expressão dessas novas perspectivas para o outro. Contudo, por vezes, o artista precisa aprender a lidar com a realidade e todos os infortúnios que emergem da convivência em sociedade.

Em Poesia (Shi, 2011, Chang-dong Lee), conta-se a história de Mija, uma senhora que ganha a vida como cuidadora de um idoso e que passa os dias cuidando do seu neto e que descobre na poesia uma forma de (re)conhecer o mundo que lhe passava despercebido de uma nova forma. Em um curso, ela recebe a incumbência de escrever, em um mês, um poema sobre algum tema que, de alguma forma, lhe toque profundamente. Em paralelo, um corpo de uma garota de um colégio local é descoberto em um lago e o grupo de seis amigos do qual seu neto faz parte torna-se o principal suspeito de terem estuprado a garota por meses, até ela ter se suicidado.

A fim de conquistar seu espectador para aquele universo extremamente humano, em que as ações se alternam em uma afirmação e uma negação de sua humanidade, Lee orquestra com destreza todos os elementos que tem a seu dispor. Com um roteiro que investe na investigação das nuances de suas personagens, o diretor conduz seu espectador como se segurasse sua mão e lhe convidasse para ver os recônditos mais íntimos dos seres humanos, por mais tristes e decepcionantes que pudessem ser os atos que eles estivessem cometendo. Da mesma forma, a trilha sonora surge de forma singela e pontua esse caminho, assim como a fotografia enfatiza o colorido e a beleza do mundo e as texturas de seres humanos que precisam extenuar suas forças para encontrar novamente essa beleza. Mesmo com essa carga de elementos à seu favor, Lee não enfatiza excessivamente nenhum deles, mas os dispõe a serviço da história que está contando, deixando o espaço livre para que Jeong-hee Yoon cativar seu espectador com sua imensa sensibilidade e humanidade. A talentosa atriz consegue demonstrar a simplicidade daquela senhora e sua preocupação em abrir seus olhos e se permitir a construção de um poema, por mais simples que ele possa ser.

A beleza das vidas e mortes - reais ou simbólicas - de Mija e de Agnes, a menina suicida, reside no potencial de tudo o que poderiam ser e que, pelo sufocar da vida, terminou não se cumprindo. Por mais que Mija concluísse seu poema, será que ela poderia encontrar novamente a beleza, dentro de si ou no mundo? Onde começa e pode terminar a nossa sensibilidade diante daqueles ou daquilo que acreditamos amar? O que nos torna inocentes ou culpados diante de um universo que parece, por vezes, ter nos criado para estar à deriva dos nossos sentimentos e atitudes, sem uma possibilidade de redenção?

Nota: 10.0


4 comentários:

  1. A sensibilidade é sempre um ponto forte nos dramas orientais.

    Não conhecia este filme, muito boa dica.

    Abraço

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  2. Eu assisti esse filme no Reserva Cultural da Paulista que filme concordo com texto em tudo deixando a pergunta a tristeza pode ser bela neste mundo atual ?

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  3. Oi, Hugo. Realmente, eu adorei o filme. Eles conseguem ser bastante sensíveis falando muito pouco. Enquanto, por vezes, aqui exploramos em excesso a palavra, os orientais falam pouco e conseguem dizer tudo o que desejam, ou até mais. Vale a pena.

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  4. Oi, Marcelo. Aqui em Recife, tá rolando no Cinema da Fundação, um dos poucos cinemas alternativos daqui. E, realmente, é uma pergunta a ser refletida até como cinéfilos mesmo: o quanto perceber a tristeza do outro ou até a nossa mesmo pode ser uma experiência estética?

    Abs

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