Produzido em 2002, o pouco conhecido O Olho Que Tudo Vê (My Little Eye) foi um dos primeiros a seguir conceito parecido, filme em que os personagens eram participantes de um reality show. Entre os exemplares mais famosos, os ótimos Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007) e o espanhol [REC] (Idem, 2007) não contornaram a dificuldade de A Bruxa de Blair por completo, enquanto a câmera em Cloverfield - Monstro(Cloverfield, 2008) permanece ligada em meio ao caos de uma cidade destruída, mesmo quando os personagens encontram-se em fuga. Neste aqui, o exagero da câmera subjetiva é trágico, o que faz o espectador pensar sempre no absurdo da filmagem; documentar todos os passos da criatura se mostra mais importante que a vida dos protagonistas. O recente Atividade Paranormal 3 (Paranormal Activity 3, 2011), então, encontrou uma desculpa bem razoável para o recurso, com um personagem que além de curioso é câmera profissional, hobby que se estende inclusive em situações íntimas. No topo dessa evolução, então, identifico o terror A Filha do Mal (The Devil Inside, 2011), mas antes apresento sua sinopse.
Em 1989, um exorcismo malsucedido provoca a morte de dois padres e uma freira, mas a assassina é absolvida por insanidade mental. Maria Rossi (Suzan Crowley, em atuação destacada) é transferida para um hospital psiquiátrico no Vaticano, e, 20 anos depois, sua filha Isabella (Fernanda Andrade, atriz brasileira muito parecida com Cléo Pires) tem o interesse de comprovar a verdade por trás do crime cometido pela mãe. Assim, seu amigo Michael (Ionut Grama) a acompanha em todo lugar com a sua câmera a tiracolo, já que o objetivo da protagonista é obter provas sobre sua tese - assim como é sugerido, em dado momento, que o companheiro de Isabella tem o interesse de produzir um documentário.
O roteiro de Matthew Peterman e do diretor William Brent Bell ainda proporciona o bom proveito das câmeras de segurança do sanatório e das filmadoras utilizadas pelos exorcistas Ben (Simon Quarterman) e David (Evan Helmuth), que têm nas imagens a esperança de convencer a Igreja da necessidade da prática para ajudar pessoas vitimadas pela possessão demoníaca. A única ressalva a se fazer a esse respeito seria a colocação de lentes estratégicas no carro de Isabella, de necessidade duvidosa e que só se justifica por uma cena importante e que será facilmente identificada ao assistir ao thriller. A partir daí, no entanto, a trama vai apresentando um monte de pequenas falhas que acabam interferindo na obra final.
Ávido por conferir realismo ao filme (as características de documentário não bastam), a câmera de Michael utiliza o zoom a todo momento e treme demais durante uma simples conversa de bar, e alguns diálogos desnecessários são inclusos na trama pra realçar o efeito de vídeo amador. Talvez esses recursos fossem utilizados mais economicamente se o roteirista Brent Bell acreditasse mais em si mesmo como diretor, já que nas principais cenas do longa, as de exorcismo, ele está impecável. Por esse mesmo motivo, o roteiro desliza ao provocar sustos rasteiros pela interrupção de um longo período de silêncio (a projeção não precisa de trilha sonora para gerar tensão) com uma revoada de aves ou o latido de um cachorro.
Finalizado de maneira um tanto abrupta demais e cometendo sempre deslizes evitáveis (por que um padre exorcista teria dificuldade em perceber que o próprio amigo está incorporado?), Filha do Mal é um longa eficiente em sua proposta principal, que é tornar-se mais assustador por seu realismo. De quebra, ainda apresenta motivos plausíveis para o exorcismo ser ignorado pelo Vaticano e choca o público com cenas de possessão que poderiam muito bem pertencer a verdadeiras imagens de arquivo. Enfim, um filme de terror razoável para os mais críticos, mas um prato cheio para quem gosta de tomar bons sustos.
Não gostei muito deste não.
ResponderExcluirO Ritual, ainda foi melhor.
Acho que se é pra fazer um pseudodocumentário entã que traga algo novo, o que eles não fizeram aqui, aliás trouxeram uma parafernalha eletrõnica para auxiliar no exorcismo, rsrsrs