Como a
péssima qualidade deste monopólio no Estado me fez desistir das sessões de
cinema
Dentre
as inúmeras desvantagens de ser um crítico amador está a dificuldade de se
assistir a lançamentos com a mesma freqüência que um profissional, que
comparece a cabines de cinema gratuitamente e, no caso de grande reputação,
assiste a sessões prévias. De fato, durante minha malograda experiência de
trabalho na Irlanda, eu ao menos consegui ter o gostinho de comparecer ao
cinema profissionalmente, pagando apenas uma taxa mensal de vinte euros por uma
quantidade ilimitada de filmes. Isso não existe no Brasil, claro, onde mesmo a
meia-entrada de R$8,50 é um abuso para um país com salário mínimo de R$622 e
40% de carga tributária. Por isso, voltei a ser “pão-duro” quanto aos filmes
que escolho; como agora estou pagando muito caro pelo serviço, quero apenas o
melhor - ou o mais provável de fazer render o investimento. Isso é uma
abominação para um crítico profissional, que tem que comparecer ao máximo de
filmes que conseguir. Mas um crítico profissional dificilmente tem que se virar
com pouco mais que um salário mínimo e pagar os próprios ingressos.
“Valente”,
a mais nova produção da Pixar Animations, é um desses filmes que acho dignos de
investimento. Infelizmente, a experiência que tive hoje no cinema me fez
desistir por completo dos lançamentos no circuito tradicional. Ao que parece,
minha única escolha será o download ilegal, com sua qualidade de “vídeo gravado
sobre vídeo” e o peso na consciência. Por que isso? Por que a rede Cinemark, a
única rede de cinemas do Estado, não parece contente em apenas cobrar o olho da
cara por um entretenimento de duas horas, quando muito. Não: o serviço entregue
também deve ser o mais revoltante possível. Essa foi a primeira vez que desisti
completamente de um filme por causa da incompetência cavalar do cinema que o
exibe. Vamos aos fatos:
LUZES ACESAS DURANTE A SESSÃO
O
pecado capital de qualquer rede de cinema foi cometido aqui da forma mais
descarada possível. Minha sessão foi “Valente”, na sala 5, 14:50, do Cinemark
Jardins: iniciaram-se os trailers e as luzes da sala permaneceram acesas.
Estranho, mas nada de anormal. Entretanto, quando se iniciou o curta “La Luna”,
que precede o filme, as luzes permaneciam acesas. Pelo menos neste aspecto a
platéia se revoltou, jogando gritos contra o operador da sala: “As luzes! As
luzes!”. Após um minuto do curta, elas se apagaram... para se acender alguns
segundos depois e se apagar novamente, destruindo o pouco que restava de
atenção na obra.
O
que mais me intriga é que as luzes foram reacendidas quando justamente mais
gente entrou, de última hora, na sessão. Ao que parece, eles estavam procurando
os assentos (que são marcados no bilhete, como em um teatro). Uma voz solitária
(e imensamente insensata) chegou a gritar enquanto os demais ralhavam com o
projetista: “Tem gente entrando! Deixem eles se sentarem.”
É quase
nonsense ter que contrapor esse argumento estúpido, típico do estilo “nivelação
à mediocridade”. Primeiro, porque não é justo punir espectadores responsáveis
que chegaram à sessão no horário, mesmo que os “atrasildos” fossem “pais
atarefados trazendo a família para um filme infantil”. Com criança ou sem
criança, atarefado ou não, a pontualidade é um preceito básico da civilização e
é revoltante que façamos parte de uma cultura que não consegue cumprir um
simples horário de cinema (sério: quase dois terços da sala chegaram após o filme já ter começado). Mais
revoltante ainda é que tenhamos que destruir a qualidade de um filme apenas
para presentear irresponsáveis com essa regalia.
Segundo,
é fato que, agora, a rede Cinemark possui assentos marcados. Entretanto, as
letras e números dos assentos não possuem nenhuma iluminação que os distinga no
escuro - deixando o trabalho dos “atrasildos” mais penoso. Isso ainda não é
nenhuma desculpa para a decisão. De fato, caso a presença de luzes acessas
durante o início das sessões seja uma nova política da empresa, isso só a torna
ainda mais patética. Se ela adotou um sistema sem pensar neste básico problema
de localização, não somos nós, os cinéfilos, que devemos pagar o pato. No
Brasil, vigora a cultura da “delegação de consequências”, onde os inocentes têm
que pagar o pato pelas idiotices alheias.
Quem
dera esse “mero” problema de iluminação fosse o pior.
PÉSSIMA QUALIDADE DE PROJEÇÃO
Luzes
finalmente apagadas e iniciado o filme, tive a desilusão de ver um dos visuais
mais belos do mundo (supostamente) arruinados por uma projeção abismal. Sério:
o projetor matou o filme! As cores haviam diminuído de intensidade e o brilho
estava inaceitável. De fato, o filme se confundia com as bordas da tela, tão
escuras quanto. Era impossível ver detalhes de cena em seqüencias escuras (boa
parte do filme, que se passa em castelos, florestas densas e masmorras) ou
acompanhar as feições dos personagens. Um dos personagens principais, uma ursa
de pelo escuro, praticamente desaparecia na tela (sabe a gag visual do homem
negro em um fundo preto? Foi exatamente o mesmo). A luminosidade do projetor
era tão precária que apenas 30% do filme, creio eu, estava sendo aproveitado.
Foi a pior qualidade de imagem que já vi em um cinema.
Saí
para protestar e exigir o aumento do brilho e da nitidez da tela. Minhas
reclamações caíram em ouvidos de pedra. Farto de ver uma obra visualmente tão
promissora ser estuprada por um cinema tão leviano, saí e demandei meu
dinheiro, em vão (já se havia passado 40 minutos de filme, bem além dos 30
máximos permitidos para devolução do dinheiro - mas se leve em conta que eu
passei 15 minutos esperando que a imagem fosse corrigida).
A
desculpa do gerente foi tão automática que desconfio fazer parte de uma
política da empresa: “A qualidade é assim mesmo. Foi assim que recebemos o
filme.” Desculpe-me, meu senhor, mas não, não foi assim que vocês o receberam.
Primeiro, trata-se de uma animação que está sendo aclamada como uma das
visualmente mais belas já feitas - com elogios específicos às cores vivas.
Pois! As únicas cores “vivas” que eu presenciei nesta sessão abominável foi o bege
intenso (fruto das seqüências de pôr-do-sol esmaecidas pela projeção) e, é
claro, o negro - vivo o suficiente para devorar a maior parte do filme.
Segundo: nas minhas costas eu tenho 10 anos de cinema, seis deles de forma
religiosa (um lançamento por semana, no mínimo). Por ano eu confiro uns 50
lançamentos no cinema, muito menos do que um profissional, mas muito mais do
que um espectador “casual”. Nunca - eu repito, NUNCA - estive em uma sala com
qualidade tão precária.
O
que aconteceu comigo hoje no Cinemark foi um exemplo radical de uma tendência
que, infelizmente, está se solidificando no cinema comercial: a diminuição da
luminosidade dos projetores em prol de uma vida útil mais longa do bulbo, o que
salva às empresas alguns trocados em substituições (o crítico Roger Ebert
comentou sobre, e condenou, a prática: http://rogerebert.suntimes.com/apps/pbcs.dll/article?AID=/20060219/ANSWERMAN/602190302/1023).
E embora eu perceba que a luminosidade das projeções de cinema sempre fossem levemente menores que em outras mídias,
nada justifica a aberração gráfica cometida pelo Cinemark. Quando se é
impossível acompanhar uma sessão sem espremer os olhos para divisar os vultos
na escuridão constante da imagem, há algo claramente errado na projeção.
INTERNET, AÍ VOU EU!
Tudo
isso me deixa uma reflexão sombria: se foi assim com “Valente”, uma animação de
cores vivas, o que será de “O Cavaleiro das Trevas Ressuge” - um filme com
fotografia predominantemente sombria? Estaria eu disposto a perder mais R$8,50
e me revoltar por ver a estréia mais aguardada do ano ser destruída por uma
empresa monopolista, folgada e irresponsável? É claro que não. Não havendo
escolhas, resta lançar-me ao download ilegal. Ou acham que eu esperarei três ou
quatro meses para o lançamento dos DVD’s? A rede Cinemark testou minha
paciência e desrespeitou a essência da própria área de atuação: o cinema. Se a
ilegalidade na internet é a única forma que eu, um perfeito amador, posso usar
para ter alguma satisfação, que assim o seja.
P.S.:
no site “Reclame Aqui”, maior agregador de reclamações contra entidades
privadas do país, o Cinemark acumula 1295 reclamações e... nenhuma resposta!
Isso mesmo, zero! Todos que reclamaram contra a rede sequer foram ouvidos. O
site destaca a rede como “Não recomendada”, a pior classificação possível: http://www.reclameaqui.com.br/indices/875/cinemark/
P.S.2:
se você experimentou uma situação parecida, deixe-me saber nos comentários. Não
sei se o que vivenciei hoje faz parte de uma tendência em toda a empresa, a
nível nacional, ou apenas do Cinemark de Sergipe ou apenas em uma única sala -
a minha!
Se você gostasse de cinema de verdade esperaria o lançamento do DVD, pois deve ter noção dos prejuízos que uma porra de um download ilegal causa.
ResponderExcluirEntao quer dizer que eu tenho que perder um lancamento por causa da incompetencia de uma industria cuja UNICA RAZAO DE EXISTIR eh justamente nos prover esse entretenimento? Mais nocao deveriam ter os produtores e exibidores dos prejuizos que eles NOS causam.
ExcluirLei de mercado: uma empresa nao fornece o que promete, eu nao me rebaixo a empresa. Essa de ''oh, pense nos prejuizos deles, coitadinhos!'' eh a mesma coisa do ''Oh, tem gente entrando! Deixem eles se sentarem'': os demais pagam o pato pela incompetencia alheia.
Nossa, quanto descaso, hein. Realmente, um trabalho péssimo.
ResponderExcluirhttp://avozdocinefilo.blogspot.com.br/
Diogo, seu depoimento exemplifica como o cinéfilo é tratado atualmente. Este tipo de situação é algo comum em todos os setores, qualquer reclamação que o cliente faça é tratada com respostas padrão e descaso. Você vai ouvir sempre que é política da empresa.
ResponderExcluirEu tem bem mais idade que você e vou aos cinemas desde os anos oitenta. Passei por todas as mudanças ocorridas nos últimos vinte anos e hoje assisto a maioria dos filmes em casa.
Os fatores que você citou, aliados a alguns que comentei no meu blog (link da postagem abaixo) nos afastam das salas de cinema.
Finalizando, sobre o preço, eu não sou jornalista e escrevo o blog por hobby, então sou obrigado a pagar entrada integral que nos finais de semana chegam a R$ 25,00 ou R$ 30,00 em alguns shoppings, um terrível absurdo.
http://cinema-filmeseseriados.blogspot.com.br/2011/06/cinefilo-x-consumidor-de-cinema.html
Abraço
Aqui em Natal há duas redes de cinema, a Cinemark e a Moviecom, mas ambas disputam o troféu incompetência. Na Moviecom o problema mais frequente é a qualidade do aúdio, na Cinemark, como você bem apontou, a qualidade das imagens (o que, tratando-se de cinema, talvez ainda seja pior). Pelo menos até a última oportunidade que vi um filme no Cinemark por aqui (O Espetacular Homem-Aranha, duas semanas atrás)as cadeiras ainda não estavam numeradas e nem poderiam. As salas daqui, mesmo antes da sessão começar, são tão escuras que ficaria difícil enxergar um número nelas. Costumo ver mais filmes na Moviecom, cujas salas sãos mais perto de onde moro e com ingressos um pouco menos caros. Mas a qualidade das salas exibidoras está ruim no país inteiro e em várias redes. Não é privilégio da Cinemark, pode ter certeza.
ResponderExcluirAqui havia o Moviecom, ha muitos anos. Ele faliu e o Cinemark tomou o lugar (oh, que supresa!). Diferente do seu caso, aqui o Moviecom se esforcava para oferecer algo de novo e sobreviver, entao ele era visto como um panteao de qualidade e o Cinemark era tico como o cinema ''do povao''.
ResponderExcluirAi em Recife as duas redes devem ter chegado a um acordo e feito um pequeno trust para controlar o cinema do Estado. Isso eh muito comum neste pais, ainda que ilegal.
Felizmente aqui a rede Cinemark (que tem apenas um Multiplex) é muito boa. Agora, a UCI, que tinha o monopólio (que agora está caindo) tem sérios problemas. Desde atrasos na fila (passei uma hora na fila para ver o "Na Estrada", perdi os três minutos iniciais graças a isso) e a projeção de "Dois Coelhos", quando vi, estava em formato errado, como numa transmissão de TV (os nomes nos créditos estavam cordados nas laterais).
ResponderExcluirEstou em São Paulo, e apesar de caro, quase R$ 25,00, aqui a UCI tem excelentes salas, com bom áudio, onde a única reclamação que eu faria seria da poltrona apertada para pessoas mais cheinhas como eu, obrigando, se quiser, a pagar mais caro por uma poltrona para obeso, que serve para mim e deixa um obeso reclamando que a poltrona é pequena. O ideal mesmo é comprar uma poltrona dupla para casal de namorados e usar sozinho, pagando assim o dobro do preço mais a poltrona. Justo? Não.
ResponderExcluirDeixar de ver O Cavaleiro das Trevas Ressurge em DVD só porquê aconteceu esse problema? Você vai perder uma das ,aiores experiências da sua vida numa sala de cinema. Falando em cinema, acho que você não gosta de verdade desse tipo de arte/ entretenimento, porquê se tu amasse mesmo ir ao cinema, jamais pensaria assim.
ResponderExcluirAbs
Abner
trabalho na empresa cinemark jacarei-sp, como caixa tenhu 17 anos , eles deveria registra-me como operadora de caixa, e outra esse mes entrei em ferias e ando recebendo um salario de em torno do 400,00 á 500,00 apenas sendo que recebo bem menos que um salario minimo, estou quese pedindo conta ,pois não aguento tanta pressão encima de mim
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