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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Cinemark: a vergonha do cinema


Como a péssima qualidade deste monopólio no Estado me fez desistir das sessões de cinema


Dentre as inúmeras desvantagens de ser um crítico amador está a dificuldade de se assistir a lançamentos com a mesma freqüência que um profissional, que comparece a cabines de cinema gratuitamente e, no caso de grande reputação, assiste a sessões prévias. De fato, durante minha malograda experiência de trabalho na Irlanda, eu ao menos consegui ter o gostinho de comparecer ao cinema profissionalmente, pagando apenas uma taxa mensal de vinte euros por uma quantidade ilimitada de filmes. Isso não existe no Brasil, claro, onde mesmo a meia-entrada de R$8,50 é um abuso para um país com salário mínimo de R$622 e 40% de carga tributária. Por isso, voltei a ser “pão-duro” quanto aos filmes que escolho; como agora estou pagando muito caro pelo serviço, quero apenas o melhor - ou o mais provável de fazer render o investimento. Isso é uma abominação para um crítico profissional, que tem que comparecer ao máximo de filmes que conseguir. Mas um crítico profissional dificilmente tem que se virar com pouco mais que um salário mínimo e pagar os próprios ingressos.

“Valente”, a mais nova produção da Pixar Animations, é um desses filmes que acho dignos de investimento. Infelizmente, a experiência que tive hoje no cinema me fez desistir por completo dos lançamentos no circuito tradicional. Ao que parece, minha única escolha será o download ilegal, com sua qualidade de “vídeo gravado sobre vídeo” e o peso na consciência. Por que isso? Por que a rede Cinemark, a única rede de cinemas do Estado, não parece contente em apenas cobrar o olho da cara por um entretenimento de duas horas, quando muito. Não: o serviço entregue também deve ser o mais revoltante possível. Essa foi a primeira vez que desisti completamente de um filme por causa da incompetência cavalar do cinema que o exibe. Vamos aos fatos:


LUZES ACESAS DURANTE A SESSÃO

O pecado capital de qualquer rede de cinema foi cometido aqui da forma mais descarada possível. Minha sessão foi “Valente”, na sala 5, 14:50, do Cinemark Jardins: iniciaram-se os trailers e as luzes da sala permaneceram acesas. Estranho, mas nada de anormal. Entretanto, quando se iniciou o curta “La Luna”, que precede o filme, as luzes permaneciam acesas. Pelo menos neste aspecto a platéia se revoltou, jogando gritos contra o operador da sala: “As luzes! As luzes!”. Após um minuto do curta, elas se apagaram... para se acender alguns segundos depois e se apagar novamente, destruindo o pouco que restava de atenção na obra.

O que mais me intriga é que as luzes foram reacendidas quando justamente mais gente entrou, de última hora, na sessão. Ao que parece, eles estavam procurando os assentos (que são marcados no bilhete, como em um teatro). Uma voz solitária (e imensamente insensata) chegou a gritar enquanto os demais ralhavam com o projetista: “Tem gente entrando! Deixem eles se sentarem.”

É quase nonsense ter que contrapor esse argumento estúpido, típico do estilo “nivelação à mediocridade”. Primeiro, porque não é justo punir espectadores responsáveis que chegaram à sessão no horário, mesmo que os “atrasildos” fossem “pais atarefados trazendo a família para um filme infantil”. Com criança ou sem criança, atarefado ou não, a pontualidade é um preceito básico da civilização e é revoltante que façamos parte de uma cultura que não consegue cumprir um simples horário de cinema (sério: quase dois terços da sala chegaram após o filme já ter começado). Mais revoltante ainda é que tenhamos que destruir a qualidade de um filme apenas para presentear irresponsáveis com essa regalia.

Segundo, é fato que, agora, a rede Cinemark possui assentos marcados. Entretanto, as letras e números dos assentos não possuem nenhuma iluminação que os distinga no escuro - deixando o trabalho dos “atrasildos” mais penoso. Isso ainda não é nenhuma desculpa para a decisão. De fato, caso a presença de luzes acessas durante o início das sessões seja uma nova política da empresa, isso só a torna ainda mais patética. Se ela adotou um sistema sem pensar neste básico problema de localização, não somos nós, os cinéfilos, que devemos pagar o pato. No Brasil, vigora a cultura da “delegação de consequências”, onde os inocentes têm que pagar o pato pelas idiotices alheias.

Quem dera esse “mero” problema de iluminação fosse o pior.


PÉSSIMA QUALIDADE DE PROJEÇÃO

Luzes finalmente apagadas e iniciado o filme, tive a desilusão de ver um dos visuais mais belos do mundo (supostamente) arruinados por uma projeção abismal. Sério: o projetor matou o filme! As cores haviam diminuído de intensidade e o brilho estava inaceitável. De fato, o filme se confundia com as bordas da tela, tão escuras quanto. Era impossível ver detalhes de cena em seqüencias escuras (boa parte do filme, que se passa em castelos, florestas densas e masmorras) ou acompanhar as feições dos personagens. Um dos personagens principais, uma ursa de pelo escuro, praticamente desaparecia na tela (sabe a gag visual do homem negro em um fundo preto? Foi exatamente o mesmo). A luminosidade do projetor era tão precária que apenas 30% do filme, creio eu, estava sendo aproveitado. Foi a pior qualidade de imagem que já vi em um cinema.

Saí para protestar e exigir o aumento do brilho e da nitidez da tela. Minhas reclamações caíram em ouvidos de pedra. Farto de ver uma obra visualmente tão promissora ser estuprada por um cinema tão leviano, saí e demandei meu dinheiro, em vão (já se havia passado 40 minutos de filme, bem além dos 30 máximos permitidos para devolução do dinheiro - mas se leve em conta que eu passei 15 minutos esperando que a imagem fosse corrigida).

A desculpa do gerente foi tão automática que desconfio fazer parte de uma política da empresa: “A qualidade é assim mesmo. Foi assim que recebemos o filme.” Desculpe-me, meu senhor, mas não, não foi assim que vocês o receberam. Primeiro, trata-se de uma animação que está sendo aclamada como uma das visualmente mais belas já feitas - com elogios específicos às cores vivas. Pois! As únicas cores “vivas” que eu presenciei nesta sessão abominável foi o bege intenso (fruto das seqüências de pôr-do-sol esmaecidas pela projeção) e, é claro, o negro - vivo o suficiente para devorar a maior parte do filme. Segundo: nas minhas costas eu tenho 10 anos de cinema, seis deles de forma religiosa (um lançamento por semana, no mínimo). Por ano eu confiro uns 50 lançamentos no cinema, muito menos do que um profissional, mas muito mais do que um espectador “casual”. Nunca - eu repito, NUNCA - estive em uma sala com qualidade tão precária.

O que aconteceu comigo hoje no Cinemark foi um exemplo radical de uma tendência que, infelizmente, está se solidificando no cinema comercial: a diminuição da luminosidade dos projetores em prol de uma vida útil mais longa do bulbo, o que salva às empresas alguns trocados em substituições (o crítico Roger Ebert comentou sobre, e condenou, a prática: http://rogerebert.suntimes.com/apps/pbcs.dll/article?AID=/20060219/ANSWERMAN/602190302/1023). E embora eu perceba que a luminosidade das projeções de cinema sempre fossem levemente menores que em outras mídias, nada justifica a aberração gráfica cometida pelo Cinemark. Quando se é impossível acompanhar uma sessão sem espremer os olhos para divisar os vultos na escuridão constante da imagem, há algo claramente errado na projeção.


INTERNET, AÍ VOU EU!

Tudo isso me deixa uma reflexão sombria: se foi assim com “Valente”, uma animação de cores vivas, o que será de “O Cavaleiro das Trevas Ressuge” - um filme com fotografia predominantemente sombria? Estaria eu disposto a perder mais R$8,50 e me revoltar por ver a estréia mais aguardada do ano ser destruída por uma empresa monopolista, folgada e irresponsável? É claro que não. Não havendo escolhas, resta lançar-me ao download ilegal. Ou acham que eu esperarei três ou quatro meses para o lançamento dos DVD’s? A rede Cinemark testou minha paciência e desrespeitou a essência da própria área de atuação: o cinema. Se a ilegalidade na internet é a única forma que eu, um perfeito amador, posso usar para ter alguma satisfação, que assim o seja.



P.S.: no site “Reclame Aqui”, maior agregador de reclamações contra entidades privadas do país, o Cinemark acumula 1295 reclamações e... nenhuma resposta! Isso mesmo, zero! Todos que reclamaram contra a rede sequer foram ouvidos. O site destaca a rede como “Não recomendada”, a pior classificação possível: http://www.reclameaqui.com.br/indices/875/cinemark/

P.S.2: se você experimentou uma situação parecida, deixe-me saber nos comentários. Não sei se o que vivenciei hoje faz parte de uma tendência em toda a empresa, a nível nacional, ou apenas do Cinemark de Sergipe ou apenas em uma única sala - a minha!

10 comentários:

  1. Se você gostasse de cinema de verdade esperaria o lançamento do DVD, pois deve ter noção dos prejuízos que uma porra de um download ilegal causa.

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    Respostas
    1. Entao quer dizer que eu tenho que perder um lancamento por causa da incompetencia de uma industria cuja UNICA RAZAO DE EXISTIR eh justamente nos prover esse entretenimento? Mais nocao deveriam ter os produtores e exibidores dos prejuizos que eles NOS causam.

      Lei de mercado: uma empresa nao fornece o que promete, eu nao me rebaixo a empresa. Essa de ''oh, pense nos prejuizos deles, coitadinhos!'' eh a mesma coisa do ''Oh, tem gente entrando! Deixem eles se sentarem'': os demais pagam o pato pela incompetencia alheia.

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  2. Nossa, quanto descaso, hein. Realmente, um trabalho péssimo.

    http://avozdocinefilo.blogspot.com.br/

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  3. Diogo, seu depoimento exemplifica como o cinéfilo é tratado atualmente. Este tipo de situação é algo comum em todos os setores, qualquer reclamação que o cliente faça é tratada com respostas padrão e descaso. Você vai ouvir sempre que é política da empresa.

    Eu tem bem mais idade que você e vou aos cinemas desde os anos oitenta. Passei por todas as mudanças ocorridas nos últimos vinte anos e hoje assisto a maioria dos filmes em casa.

    Os fatores que você citou, aliados a alguns que comentei no meu blog (link da postagem abaixo) nos afastam das salas de cinema.

    Finalizando, sobre o preço, eu não sou jornalista e escrevo o blog por hobby, então sou obrigado a pagar entrada integral que nos finais de semana chegam a R$ 25,00 ou R$ 30,00 em alguns shoppings, um terrível absurdo.

    http://cinema-filmeseseriados.blogspot.com.br/2011/06/cinefilo-x-consumidor-de-cinema.html

    Abraço

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  4. Aqui em Natal há duas redes de cinema, a Cinemark e a Moviecom, mas ambas disputam o troféu incompetência. Na Moviecom o problema mais frequente é a qualidade do aúdio, na Cinemark, como você bem apontou, a qualidade das imagens (o que, tratando-se de cinema, talvez ainda seja pior). Pelo menos até a última oportunidade que vi um filme no Cinemark por aqui (O Espetacular Homem-Aranha, duas semanas atrás)as cadeiras ainda não estavam numeradas e nem poderiam. As salas daqui, mesmo antes da sessão começar, são tão escuras que ficaria difícil enxergar um número nelas. Costumo ver mais filmes na Moviecom, cujas salas sãos mais perto de onde moro e com ingressos um pouco menos caros. Mas a qualidade das salas exibidoras está ruim no país inteiro e em várias redes. Não é privilégio da Cinemark, pode ter certeza.

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  5. Aqui havia o Moviecom, ha muitos anos. Ele faliu e o Cinemark tomou o lugar (oh, que supresa!). Diferente do seu caso, aqui o Moviecom se esforcava para oferecer algo de novo e sobreviver, entao ele era visto como um panteao de qualidade e o Cinemark era tico como o cinema ''do povao''.

    Ai em Recife as duas redes devem ter chegado a um acordo e feito um pequeno trust para controlar o cinema do Estado. Isso eh muito comum neste pais, ainda que ilegal.

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  6. Felizmente aqui a rede Cinemark (que tem apenas um Multiplex) é muito boa. Agora, a UCI, que tinha o monopólio (que agora está caindo) tem sérios problemas. Desde atrasos na fila (passei uma hora na fila para ver o "Na Estrada", perdi os três minutos iniciais graças a isso) e a projeção de "Dois Coelhos", quando vi, estava em formato errado, como numa transmissão de TV (os nomes nos créditos estavam cordados nas laterais).

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  7. Estou em São Paulo, e apesar de caro, quase R$ 25,00, aqui a UCI tem excelentes salas, com bom áudio, onde a única reclamação que eu faria seria da poltrona apertada para pessoas mais cheinhas como eu, obrigando, se quiser, a pagar mais caro por uma poltrona para obeso, que serve para mim e deixa um obeso reclamando que a poltrona é pequena. O ideal mesmo é comprar uma poltrona dupla para casal de namorados e usar sozinho, pagando assim o dobro do preço mais a poltrona. Justo? Não.

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  8. Deixar de ver O Cavaleiro das Trevas Ressurge em DVD só porquê aconteceu esse problema? Você vai perder uma das ,aiores experiências da sua vida numa sala de cinema. Falando em cinema, acho que você não gosta de verdade desse tipo de arte/ entretenimento, porquê se tu amasse mesmo ir ao cinema, jamais pensaria assim.
    Abs
    Abner

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  9. trabalho na empresa cinemark jacarei-sp, como caixa tenhu 17 anos , eles deveria registra-me como operadora de caixa, e outra esse mes entrei em ferias e ando recebendo um salario de em torno do 400,00 á 500,00 apenas sendo que recebo bem menos que um salario minimo, estou quese pedindo conta ,pois não aguento tanta pressão encima de mim

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